“Se eu vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes.” Isaac Newton, 1675. Você não chegou aqui sozinho. Eu não cheguei por aqui completamente por meios próprios. Somos soma e multiplicação de outros que vieram antes.

Seja por inspiração, desejo de ser, exemplos, influência ou qualquer outro insóndável caminho de nosso subconsciente. Impossível inovar sem dominar antes com maestria o que está estabelecido. Picasso, antes do cubismo, formou-se em Belas Artes e desenhava como um pintor da época. Sob qual ombro você fez essa caminhada para hoje ver o que só você vê. E fazer o que só você sabe fazer?

Reconhecer isso é importante pra mim. Numa semana em que perdemos dois deles. Mahfuz, da MPM, e Kennedy, da Wieden & Kennedy.

Devemos honrar essa caminhada generosa desses imortais, pois nos trouxeram até aqui, apesar do solo arenoso e movediço. Magy Immoberdof, a primeira mulher no Brasil a criar uma agência e colocar o nome na porta com a Lage, Magy. Nizan, que mais do que uma agência ou duas agências, fez uma escola de líderes de agências dos quais saíram outros nomes de porta e alguns nomes de rua. Esses todos que nos colocam agora de rosto ao vento prontos para honrarmos o que recebemos. Seja sob o ponto de vista de estratégia, criatividade, da ética nos negócios ou mesmo em sermos os novos líderes dessa indústria.

Mahfuz eu não conheci, mas estagiei em sua agência, a MPM de Ribeirão Preto, aos 18 anos. A MPM foi a maior agência brasileira entre 1980 e 1990 e era ousada em ter agências completas em várias cidades médias do país. Com essa atitude, eles desenvolveram a indústria regional apostando no desenvolvimento do próprio negócio de comunicação. Obrigado, pois, se não fosse esse contato inicial, provavelmente não saberia o que era publicidade. Já mr. Kennedy trouxe em suas costas, como Bogusky, como Washington Olivetto, sir John Hegarty e tantos outros, a publicidade global até aqui.

Fundador da Widen & Kennedy, criou nos anos 1980 a melhor agência do mundo a partir de Portland. Agência independente até hoje e com safras e safras produzidas de grandes líderes globais da indústria da comunicação. Um gigante com espírito de David, pois achava que ser independente era parte importante de sua vida e importante para a vida de seus clientes. Esse exemplo nos faz ver muito mais longe.

Leio na Advertising Age que seu lema sempre foi: “Fall harder”. É importante entender que falhar dói. Cair machuca. Ainda mais de uma altura considerável. Mas se esse é o lema dele e conviveu com o risco e com a possibilidade real do erro, o que podemos dizer.

Como diria Fernando Pessoa, ex-redator da JWThompson de Lisboa: nunca conheci quem tivesse levado porrada. Talvez para as novas gerações isso seja um chamado à criatividade.

Porém, desse senhor de 82 anos que nunca abriu mão de seu posicionamento independente, vieram posicionamentos indestrutíveis para marcas globais. Obrigado, mr. Kennedy. E você? Começou tudo do zero, ou algum gigante trouxe você até aqui?

Flavio Waiteman é é CCO-fundador da Tech and Soul (flavio.waiteman@techandsoul.com.br)