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Uma conversa sobre o uso da Inteligência Artificial nas empresas de mídia, auxiliando principalmente a geração de conteúdo jornalístico, reuniu profissionais da Associated Press, do The Washington Post e do South China Morning Post no SXSW em Austin, discutindo as principais aplicações da automação. Basicamente, a IA já está presente em muitas empresas de mídia há bastante tempo, de diferentes maneiras, e vem sendo usada mais fortemente em três aplicações: coleta de dados, criação de conteúdo e atuando na maneira como os usuários consomem o conteúdo. 

Lisa Gibbs, da Associated Press, explicou que para uma empresa que produz 2 mil matérias por dia, e cerca de mil vídeos por semana, a produção de conteúdo por bots tem ajudado bastante. Não se trata de substituir jornalistas mas de otimizar o trabalho, segundo ela explica, ampliando as possibilidades de produzir mais materias sobre temas como mercado financeiro e esportes, e expandir para áreas novas e de menor demanda, por exemplo, como a cobertura de algum esporte de nicho.

Hoje boa parte das matérias produzidas sobre resultados financeiros de empresas, balanços e boletins meteorológicos são produzidos por bots. Segundo ela, na Bloomberg hoje 3% do conteúdo é produzido por robôs. Um texto simples de 100 palavras pode ser produzido por um robô, por exemplo, em 60 segundos.

Ela conta, por exemplo, que uma ferramenta útil é a que ajuda a detectar eventos no momento em que estão ocorrendo ao redor do mundo, para tornar sua cobertura mais eficiente e rápida. Bots detectam, minutos após ocorrerem, portanto, incêndios, ataques terroristas, eventos meteorológicos e outros acontecimentos.

“Outra ferramenta que é muito útil e vai ser aprimorada é a que detecta insights a partir da análise do que está sendo conversado na internet, identificando vozes e o que as pessoas estão falando. Isso pode ajudar jornalistas a escrever matérias mais aprofundadas”, comenta.

Outra aplicação importante da IA nas empresas de mídia é a verificação de informações.

“Confiança é uma grande questão hoje e estamos trabalhando com o Google numa ferramenta de verificação da IP, verificando a informação, a idoneidade de quem postou, e assim por diante”, comentou.

Jeremy Gilbert, que tem o cargo de diretor de iniciativas estratégicas do The Washington Post, reforça que a IA já vem sendo usado pelo jornal há bastante tempo e que sua função não é substituir jornalistas mas torná-los mais eficientes.

“Não podemos substituir pessoas, podemos torná-las melhores em suas funções. Trabalhamos num algoritmo, por exemplo, que detecta o potencial viral de matérias, para que possamos mexer nelas no processo e torná-las mais eficientes em termos de audiência e atratividade”, conta.

Outra ferramenta checa o estilo das matérias, para que jornalistas tenham mais tempo para pensar no conteúdo das histórias, e ir mais fundo nelas, no lugar de efetuar tarefas mecânicas e repetitivas.

Gibbs, da Associated Press, conta que a empresa vem fazendo parcerias com startups e universidades para desenvolver ferramentas.

“A troca é boa, porque lhes fornecemos milhares de matérias e conteúdo para testar suas tecnologias”, comentou.

 Já Gilbert diz que no Washington Post, que foi comprado por Jeff Bezos, da Amazon, desenvolve suas próprias tecnologias internamente, eventualmente contando com fornecedores externos.

A inteligência artificial também ajuda a, por exemplo, formatar matérias para as diferentes plataformas, tanto para a AP quanto para o Washington Post, ajustando número de caracteres, por exemplo.

Uma área que a IA ainda não resolve, por exemplo, é a da tradução para outras línguas e consequente expansão de alcance global dos conteúdos. Segundo Gilbert, traduções demandam contextualização e os robôs ainda não são capazes de fazer isso.

A ideia, hoje, é focar na otimização do trabalho dos jornalistas, livrando-os de tudo aquilo que os afasta de produzir histórias de qualidade no dia a dia.

Gibbs conta que ampliar a produção de conteúdo no mercado financeiro com a ajuda da IA tem mexido inclusive na ampliação das transações do mercado.

“Mais informações na rua estimula os mercados”, comentou.

Gilbert diz que a ajuda de automação vem ajudando o jornal a cobrir grandes eventos como eleições e olimpíadas, por exemplo.

Algoritmos também vem ajudando os jornais a formatarem suas páginas na web com maior personalizacão para os leitores – buscando entender suas preferências. Há experimentos sendo feitos até mesmo no tamanho das matérias, adequando-os ao leitor.

“Experimentos neste sentido estão sendo feitos, é uma espécie e black mirror das notícias”, comenta.

Cobertura patrocinada por BETC/HAVAS