Tiro o chapéu para o prefeito do Rio. Ou para sua assessoria, o que não lhe tira o mérito, pois saber ouvir e acatar ideias é também uma prova de inteligência. Para não perder os votos dos taxistas nem se indispor com a classe, famosa pela capacidade de criar e destruir reputações, quando começou a briga entre o pessoal da praça e o Uber, colocou-se a favor dos amarelinhos. Quer dizer, defendeu o que à primeira vista parece justo: o legal, o regulamentado. Mesma coisa os vereadores.

Diante da truculência dos taxistas e suas ameaças, apoiaram integralmente as suas reivindicações. Foi um caso raro de total desligamento entre população e políticos. Não conheço um único consumidor de táxi que não ache o Uber a melhor coisa que aconteceu no Rio de Janeiro desde o tempos do tílburi. Mas é uma opinião para se ter, não para se manifestar.

Quem conhece a disposição do pessoal sabe do que estou falando. Dez minutos na fila do aeroporto ou da rodoviária já dá para desestimular qualquer atitude contrária aos briosos rapazes dos táxis. Pois bem, Eduardo Paes, o alcaide em questão, e todo seu secretariado se colocaram imediatamente a favor dos chamados “legalizados”. Mas a opinião pública nem ligou para a opinião do poder público.

Continuou prestigiando um serviço infinitamente mais civilizado, confortável, gentil e – me perdoem os mais populistas – elegante. Vai daí que um gênio do time do governo, que pode até ser o próprio Eduardo, teve uma ideia. Criar o Uber da prefeitura. Um aplicativo igualzinho ao Uber, com as mesmas exigências e as mesmas vantagens.

Carros novos, motoristas razoavelmente vestidos, ar condicionado, educação, gentileza. E mais: impossibilidade de recusar corridas, julgamento do cliente a respeito da qualidade do serviço, ar condicionado e música on demand. A euforia pelo encontro da solução foi tão grande que o prefeito extrapolou: disse que achava o serviço de táxi no Rio de Janeiro “muito ruim” e anunciou que o aplicativo estaria sendo desenvolvido para que antes das Olimpíadas (tudo no Rio é medido pela proximidade com as Olimpíadas) o carioca possa se movimentar pela cidade com mais conforto e segurança. Brilhante.

Será um serviço regulamentado, taxado, cobrado, vigiado tanto quanto o táxi comum, mas também mais moderno, adequado e – o que é muito mais importante – submetido ao julgamento permanente do usuário. Uma relação de consumo que existe em quase tudo menos nos cartórios e nas concessões, principalmente no transporte. Com a qualidade que conhecemos.

Na entrevista que deu, Eduardo Paes foi além. Disse que infelizmente (infelizmente saiu da boca lá dele) não usa táxi ou transporte público. Nem ele nem a cachorrinha do ex-governador. Mas que se sentia solidário com quem precisava de ônibus, trem ou táxi para seus deslocamentos. Ainda que eu ache o “infelizmente” da frase meio exagerado, seria bom que ele o fizesse. Aliás, deveria ser obrigatório.

Vereadores, deputados, prefeitos e governadores deveriam ser obrigados a andar de ônibus, serem medicados em hospitais públicos e os filhos estudarem em escolas do governo. Daí eles iriam ver o que é bom para a tosse. Ou melhor, para a tosse, para os pés, para a paciência e para a formação escolar. Mas a primeira providência do político após ser eleito é poder usar as benesses dos cargos.

A única coisa que muitos deles continuam usufruindo como o faziam no tempo em que não eram autoridade é frequentar boteco e roda de samba. Mas enfrentar um posto de saúde ou um amasso no trem da Central, nem pensar, seu Nicolau.

Outra coisa que me faz ter menos raiva do prefeito de minha cidade é que ele está promovendo a volta dos bondes. Mais modernos, mais rápidos, mais sofisticados, mas bondes.

Os mesmos veículos que foram banidos das ruas na década de 60 em nome da modernidade. Fez-se festa no dia que o último bonde do Rio de Janeiro fez sua derradeira viagem.

Vai ser uma festa maior ainda quando ele voltar. Pena que eu não possa mais viajar no estribo. Primeiro porque não há mais estribos nos novos bondes.

Depois, porque já não tenho a agilidade que me permitia saltar do veículo andando. Atualmente – ai de mim! – já não sou rápido nem para descer do bonde parado.

*Para entrar em contato com o autor, escreva para lulavieira@grupomesa.com.br