A promessa de conectar marcas vem de uma equipe que acredita no que faz de forma coletiva. Espero que estejamos saindo da era de estrelas para um trabalho de constelações
Uma caixa de vidro fincada em um bairro residencial. Essa é a VMLY&R e o bairro é Alto de Pinheiros, na Zona Sul de São Paulo. Tão transparente quanto as paredes do prédio, a agência presidida por Fernando Taralli espelha os mesmos posicionamentos defendidos hoje para clientes. Diversidade, inclusão e igualdade de gênero não são discursos só da porta para fora.
“Como vou ser verídico e representar, trazer campanhas com propósito, se não tenho isso dentro de casa?”, reflete o CEO da VMLY&R, que nasceu em 2020 da fusão entre a Y&R, fundada por John Orr Young e Raymond Rubicam em 1923, e VML, criada por John Valentine, Scott McCormick e Craig Ligibel em 1992.
Com o programa “Par – Equidade Racial”, está a aceleração da carreira de pessoas negras, enquanto a área de equidade, inclusão e pertencimento traduz as demandas da sociedade. “É natural pensar em projetos para fora, colocar mais gente preta ou com deficiência nas propagandas. Mas o problema da publicidade começa em casa. Empresas são feitas por pessoas e pessoas são formadas por vieses. As percepções do dia a dia chegam enviesadas”, alerta Valerya Borges, diretora da unidade que ganhou cadeira executiva com dimensão global.
O pertencimento guia as estratégias da agência neste ano. Não adianta só admitir talentos negros. Eles precisam ser acolhidos apropriadamente para se sentirem parte do time. “Esse profissional preto, provavelmente, mora em uma área periférica, só que estamos em Pinheiros. É inviável marcar reunião presencial às oito horas da manhã, senão, acabo forçando essa pessoa a sair de casa na madrugada”, situa Valerya.
Temas sensíveis elevam a responsabilidade do mercado da propaganda em exercer a sua missão de formar opiniões em um ambiente cada vez mais intolerante a desigualdades e preconceitos. “Estamos respondendo a um movimento da sociedade, que descobriu antes da gente o nosso papel”, adverte Valerya.
A questão do etarismo também está em pauta. Outro plano inclui exportar o “Festival VMLY&R Diversa”, lançado neste ano para colaboradores, a outros países da rede na América Latina em 2024, no Dia Mundial da Zero Discriminação, celebrado em primeiro de março.
Atratividade
Os esforços renovam o poder de atratividade da carreira publicitária. Gradativamente, um ambiente mais saudável se insinua, deixando para trás o modelo elitista, que exigia porte de guerreiro para sobreviver a jornadas hercúleas. “A promessa de conectar marcas vem de uma equipe que acredita no que faz de forma coletiva. Espero que estejamos saindo da era de estrelas para um trabalho de constelações”, acredita Fernando Taralli.
A evolução trouxe decisões inimagináveis. Taralli se recorda de ter negado um projeto de inovação após conversar com lideranças e entender que não seria o momento de a agência investir além da equipe. “Já tínhamos outros desafios. A decisão foi tomada com transparência e respeito. É o momento de repensar relações”, instiga Taralli.
Foi o que aconteceu com a escolha de Luiza Valente para o cargo de head de mídia. Prata da casa, a executiva inicialmente recusou o convite devido à preocupação com a carga intrínseca à posição. Mas Taralli conseguiu demover a imagem de trabalho excessivo, convencendo-a a assumir a vaga. “Essa transformação motiva toda a cadeia a mudar também”, atenta Taralli. Ele trabalha na formatação de projeto pessoal que pretende convidar as pessoas a conhecerem a agência.
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