Alta do dólar, aumento do número de desempregados, aumento da inflação e clima de tensão no ar. Estes foram alguns dos elementos que permearam o mercado neste ano. Isso sem falar na crise política que se instalou no país e, consequentemente, aumentou o desânimo dos brasileiros. Orlando Marques, presidente da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade) e integrante do board da Publicis, é taxativo ao falar sobre 2015: “Pior que o planejado e bem pior do que o esperado”, afirma. “O primeiro semestre foi bem ruim, mas esperávamos uma melhora no segundo semestre, que só fez piorar”, completa o executivo.
Os números sobre este ano, no entanto, ainda não foram fechados, mas o presidente da Abap acredita que haverá uma queda em relação ao ano passado. “Tudo indica que haverá uma queda que pode se aproximar dos dois dígitos, uma queda entre 6% e 8% em comparação a 2014, o que é muito grave”, destaca.
Para ele, 2015 foi um ano abaixo das expectativas. “Os mais pessimistas falavam em empatar com o ano anterior e havia um grande número de agências apostando no crescimento”, ressalta.
Segundo Marques, essas previsões não se tratam daquilo que ele chamou de “chutologia”. “Essa informação tem origem nas conversas que tenho tido com os principais veículos do mercado e também do que falam os dirigentes das agências filiadas à Abap”.
Hugo Rodrigues, presidente da Publicis, segue a mesma linha de Orlando Marques e afirma que todas as previsões feitas para este ano estavam erradas. “No pior dos cenários, imaginou-se que o dólar iria a R$ 3,30. Ninguém supôs que a queda na indústria automobilística seria tão drástica. E isso tudo, junto com a crise política e os questionamentos éticos, deixou as agências, os veículos, os anunciantes, e o país todo, receosos”, garante.
Apesar desse cenário, a Publicis conseguiu vitórias importantes, que indicam os caminhos que a agência deve seguir em 2016, de acordo com Rodrigues. “Fortalecemos o nosso time de lideranças com a contratação de nomes como o VP de planejamento Eduardo Lorenzi (ex-NeogamaBBH) e a VP de mídia Miriam Shirley (ex-Ogilvy); ganhamos contas como Heineken, Passatempo e Ninho digitais; e inauguramos uma nova sede no prédio mais sustentável da América Latina”, conta.
Já Marcio Toscani, copresidente da Leo Burnett Tailor Made, enalteceu 2015 por alguns motivos, como os 40 anos que a agência comemorou no Brasil. Em relação ao mercado, Toscani falou que 2015 exigiu bastante dos profissionais. “Um ano de readequação e de reavaliar nossos próximos passos”, diz.
Um dos pontos elencados por ele foi o “Ignation Day”. “Foi um evento em que levamos nossos 400 colaboradores para um cinema para passar parte do dia estudando as propostas feitas pelas próprias pessoas da agência. Saímos de lá com projetos estratégicos em várias frentes, como digital, novos negócios, recursos humanos, posicionamento/mercado e metas até 2017”, afirma.
DESAFIADOR
Já Martin Montoya, presidente da WMcCann, prefere resumir o ano em uma palavra: desafiador. “O início do ano foi mais alarmante, antecipamos uma queda de receita significativa e, infelizmente, tivemos de enxugar a nossa estrutura para enfrentar a tormenta. Os grandes esforços e o comprometimento da nossa equipe acabaram rendendo frutos na segunda metade do ano e acabamos tendo uma importante reativação”, revela.
Para ele, o ano foi abaixo das expectativas. “Porém, considerando esse mesmo contexto, acho que a performance da WMcCann acabou sendo melhor do que a esperada. Num ano difícil, considero que, felizmente, podemos fazer um balanço positivo”, enfatiza.
O balanço positivo da agência deve-se a algumas conquistas de contas importantes, como a Latam para Brasil e América Latina. “Continuamos expandindo nossos serviços de inteligência de mídia, contando agora também com a Nestlé como mais um cliente a confiar nas nossas capacidades tecnológicas e estratégicas. Fizemos também um forte trabalho com grande repercussão no mercado para a Seara e seguimos acompanhando o Bradesco no seu caminho para as Olimpíadas 2016, ambos com muito sucesso.”
Desafiador também foi a palavra usada por Paulo Queiroz, copresidente da DM9DDB, para definir 2015. No entanto, o executivo enaltece a chegada de oito contas. “Para a DM9, este ano está sendo desafiador, em que aproveitamos para fazer um trabalho consistente no digital. O caminho escolhido está rendendo resultados que estão superando a expectativa”, diz.
Na Y&R, o ano foi marcado por conquistas de contas importantes, como Azul Linhas Aéreas, BIC e Cielo, entre outras. “Dentro do cenário econômico contido que enfrentamos, adotamos um olhar positivo para buscar soluções criativas e eficazes para impulsionar os negócios de nossos clientes. Nosso olhar estratégico foi ainda mais relevante neste momento”, disse David Laloum, COO da Y&R. O ano foi dentro da expectativa na agência, segundo Laloum. “Isso significa um 2015 nada extraordinário, porém sólido”, conta.
PRÊMIOS
Márcio Santoro, CEO e copresidente da Africa, destacou os reconhecimentos que a agência ganhou no mercado. Sérgio Gordilho, CCO e copresidente, foi selecionado como um dos 20 publicitários mais influentes do país pela revista GQ, assim como Eco Moliterno e Nizan Guanaes.
“No Festival de Cannes, a Africa conquistou 13 leões, ficando entre as agências brasileiras mais premiadas este ano. Fomos, pelo sétimo ano consecutivo, a agência de publicidade mais admirada do país, pela CartaCapital. No mesmo evento, nove dos nossos clientes marcaram presença e subiram ao palco na premiação: AmBev, Itaú, Itaú BBA, UOL, Vivo, Braskem, Google, Cyrela e Embraer”, diz.
Prêmios também foram o que marcou o ano da F/Nazca Saatchi & Saatchi. A agência, comandada por Fabio Fernandes, fez história no Festival de Cannes ao conquistar o primeiro Grand Prix em Filme do Brasil com “100” para a Leica. “2015 também será lembrado como o ano em que conquistamos a conta de Guaraná Antarctica e que a Skol (não por acaso) foi avaliada como a marca mais valiosa da América Latina”, conta Ivan Marques, sócio-diretor da F/Nazca S&S.
Sobre o mercado, Marques classifica o ano como satisfatório. “Considerando as dificuldades que o mercado vivenciou este ano, creio que o resultado final acabou sendo satisfatório, pois manteve a agência no seu patamar alto de qualidade e excelência criativa. Que em 2016 possamos sorrir um pouco mais”, afirma.
MUDANÇAS
Para a AlmapBBDO, o ano foi de mudanças. Marcello Serpa e José Luiz Madeira deixaram a agência. Os dois sócios passaram o comando das operações da agência a Luiz Sanches (Chief Creative Officer), Cintia Gonçalves (Chief Strategic Officer) e Rodrigo Andrade (Chief Operating Officer). “Foi um ano de muita mudança para o mercado e para a gente. Do ponto de vista de negócios, o mercado está sentindo uma crise que já era anunciada. Uma hora ela ia aparecer. Mas foi um ano com boas novidades: conquistamos duas contas: a Ypioca e a C&A”, conta Luis Sanchez.
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