A pandemia do novo coronavírus impôs intensas transformações nas mais diversas áreas e escancarou uma crise de confiança na ciência, na comunicação dos governos e até mesmo na vacina. A crise já se prenunciava e foi agravada pela “era da pós-verdade”, em que desinformação e fake news podem se difundir rápido e serem absorvidas pelas pessoas como verdade. Nesse contexto, podemos dizer que a população mundial está vivendo a maior crise de credibilidade e confiança da história.

Diante deste cenário de aprendizados, 2021 será um ano de novas tendências. A comunicação terá que ser com propósito e gestão omnichannel. Isto é, com gestão de relacionamento multicanal com todos os públicos, o tempo inteiro. De maneira real e verdadeira. Consolida-se na comunicação o conceito de lifelong learning, de aprendizado constante.

A pandemia é um catalisador de tendências. Todas elas estão aí, ao nosso alcance. A questão é quem vai saber aproveitá-las da melhor maneira. Ficarão à frente aqueles que incluírem na sua pauta o resgate da confiança e da credibilidade. Seja confiança nas marcas, nos governos ou na ciência. Outra palavra obrigatória neste ano é moderação. Vivemos numa sociedade cada vez mais polarizada, seja na política, nos valores ou nos costumes.

Essa polarização tende a se aguçar ainda mais. Neste contexto, será preciso ampliar o diálogo. No entanto, é importante ter em mente que escutar é diferente de ouvir. Quem tiver o desprendimento para moderar as conversas vai conseguir engajar seu público. Afinal, as pessoas não querem verdades absolutas, mas alguém que se disponha a ouvir e tratá-las com respeito.

Dito isso, é preciso ficar atento às tendências que estarão presentes num ano de profundas transformações e reinvenção da comunicação. Algumas delas já fazem parte da nossa rotina e devem ser expandidas. Outras, no entanto, são impulsionadas pela nova realidade imposta pela maior crise mundial dos últimos 100 anos.

Nano comunicação

O conceito faz uma analogia à menor partícula da célula para exemplificar a personalização da comunicação. Isto é, tratar a pessoa individualmente, chamá-la pelo nome, saber onde mora, conhecer os seus hábitos e interagir de acordo com essas informações preciosas. É uma comunicação direcionada pessoa a pessoa, que agrega confiança e credibilidade.

Digital first

O termo já é conhecido. Afinal, vivemos num mundo cada vez mais digital e tecnológico. Entretanto, o conceito se faz cada vez mais presente na comunicação. É o digital pautando o mundo real. A empresa que assimilar esse mindset na estratégia de comunicação tem tudo para estar na vanguarda e conquistar uma fatia expressiva de um mercado atento às rápidas transformações.

Nomadismo digital

A tendência de comportamento não é propriamente uma novidade, mas ganhou fôlego com a pandemia e a adoção do home office. A necessidade do distanciamento social proporcionou a uma gama de profissionais exercer a atividade em qualquer lugar do mundo. Basta um computador e uma conexão com a internet. A tecnologia, mais uma vez, eliminou as distâncias e abriu caminho para relações profissionais sem fronteiras.

Comunicação interna

Entre todas as áreas de comunicação corporativa, a que mais deve crescer em 2021 é a interna. Este é o momento no qual é fundamental pensar na cultura organizacional, no bem-estar do funcionário, de disseminar os valores da empresa e fortalecer processos. Nesse contexto de instabilidade emocional a força da comunicação interna, muitas vezes visto pelas empresas como um “patinho feio”, alcança outro patamar.

Good Vibes

A perspectiva é que 2021 ainda será um ano de dificuldades, pelo menos no primeiro semestre do ano. Cansaço mental, ansiedade e relações deterioradas pela crise da pandemia estarão ainda mais evidenciados. Diante disso, as empresas que trouxerem para si a vocalização de boas notícias serão valorizadas. O papel das agências de comunicação é trazer para seu cliente as boas novas. Ou seja, produzir campanhas e projetos que possam propagar boas notícias para a sociedade.

Comunicação de entretenimento

Ficou claro em 2020 que não é necessário estar presencialmente num local para se divertir. Seja num show, jogo de futebol ou mesmo num encontro entre amigos. Os eventos online adaptaram o entretenimento à essa nova realidade e trouxeram novas experiências. Não há dúvida que a comunicação esportiva e de entretenimento vai seguir a tendências de alta.

Empoderamento da comunicação da liderança

A pandemia democratizou a hierarquia corporativa, na medida em que todas as caixinhas do Zoom ou do Google Meet são iguais. Estamos vivendo o empoderamento do cidadão como um hub de conteúdo. O líder não precisa, necessariamente, ser o CEO ou o diretor da empresa. Esta será a era do líder do engajamento, que exerce uma liderança natural, mesmo sem ocupar um cargo executivo.

As tendências estão dadas. É preciso agora saber aproveitá-las com comunicação e propósito verdadeiros. Esses são os pilares capazes de responder aos tempos disruptivos. Vamos torcer que 2021 entre para a História como o ano da pós-pandemia e da verdade genuína, sem prefixos.

Patrícia Marins é jornalista, sócia-diretora da In Press Oficina e especialista em gestão de crise