O maior país católico do mundo a caminho acelerado e irreversível da perda de duas supremacias. De ser o maior país católico do mundo, e de ter no catolicismo a religião da preferência da maioria de sua população. Impossível para alguns, improvável para outros, hoje todos sabem inexorável. E acontece agora, 500 anos depois, porque as religiões evangélicas apostaram na televisão, e a católica só decidiu-se quando já era tarde demais. Caso contrário, talvez fossem necessários entre 100 a 200 anos mais.
O processo de disrupção começou há mais de 500 anos, quando um padre da Alemanha, Lutero, aproveitando-se da descoberta de Gutenberg, a impressão com tipos móveis, pôde disseminar sua revolta e denunciar os graves crimes que aconteciam no Vaticano. Hoje, para cada dez programas evangélicos na TV, e, exagerando, no máximo, um católico. Assim, se os registros estatísticos continuarem apresentando em suas curvas o mesmo comportamento dos últimos anos, a data marcada é 2035. Quando a Igreja Católica Apostólica Romana perde a sua liderança na crença e preferência dos habitantes do Brasil.
Até o Censo de 2010 era claro que isso, lá pela metade do século, iria acontecer. No entanto, a ascensão dos evangélicos e a queda do catolicismo aceleraram-se. E, assim, em vez de perder 1% de seus fiéis por ano, o catolicismo perde agora entre 1,1% e 1,2%. Em entrevista para o jornal Valor, o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), sentenciou: “Possivelmente, entre 10 e 15 anos, o Brasil não terá mais a supremacia católica”. E aí Ricardo Lessa e Valor foram conferir esses dados junto a algumas autoridades da Igreja Católica no país, principalmente seu sentimento em relação a esse fato, se corresponde à realidade que vivem no dia a dia. E quem se manifestou, para surpresa e perplexidade de todos diante do que disse, foi o cardeal Dom Sérgio da Rocha, presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), afirmando que na prática a situação é mais dramática do que os números do IBGE revelam. “Esse não é o maior problema da Igreja Católica – afirma Dom Sérgio –, o que mais preocupa não são os que seguem Jesus em outras igrejas, mas os que se dizem católicos e não vivem como tal!” Afirmação confirmada pelo Padre Valeriano dos Santos Costa, diretor da Faculdade de Teologia da PUC-SP: “Menos de 10% dos batizados frequentam as missas dominicais…”
Pior que a crise no Brasil do catolicismo, só a do Chile. E por essa razão, a decisão de Francisco de não ter vindo ao Brasil por ocasião dos 300 anos da padroeira Nossa Senhora da Aparecida, ter decidido-se pelo Chile. Lá os números são desesperadores. Segundo os institutos de pesquisa, a confiança na Igreja Católica, que era de 80% em 1996, despencou para 37% em 2017, muito especialmente em razão dos escândalos de pedofilia do padre Karadima, no ano de 2010.
Tem como fazer-se alguma coisa para reverter essa situação? Não, não tem. Até conseguir-se movimentar uma das maiores corporações do mundo, com ranços culturais de dois milênios, tudo o que as estatísticas sinalizam hoje terão mais que se confirmado. E aí então, desde que os fiéis remanescentes decidam e queiram, tudo a fazer é tentar reposicionar a ICAR, respeitando suas crenças e propósitos, na tentativa dramática e de extrema dificuldade de resgatar o que anos atrás se denominava de rebanho… Não era rebanho, eram pessoas de carne e osso, com muitas e muitas dores, sofrimentos e carências, que não se conformavam em ter de esperar a redenção só depois da morte… Queriam ser felizes aqui e agora. Nesta vida, na Terra. Assim, nesse ritmo, 500 anos depois, aproxima-se do final o maior processo de disrupção da história. Em menos de duas décadas, a maior religião do Brasil converter-se numa religião de médio porte. E, se nada fizer, mais adiante, numa religião de nicho. Nada é para sempre.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)