Vivemos um momento de mudanças nas quais o alcance do corpo não é mais o mesmo. O mundo se transformou em um palco do experimental, seja pela tecnologia, pela experiência analógica ou pela vida fundada em si mesma. Ponto para as marcas que perceberam isso e logo correram das telas da TV para o palco da vida e de novas tecnologias.

A arte tridimensional ou dimensional fala sobre a relação do corpo com o mundo a sua volta. Ela está diretamente relacionada com a transformação da relação existente com aquilo que se interage. Ela é uma mistura de corpo físico, racionalidade e inconsciente, e tem um papel importante na percepção do indivíduo e do próprio ser. A arte tridimensional surgiu ao lado do movimento criado por Hélio Oiticica e o neoconcretismo no Brasil na década de 70.

Ao analisar este modelo artístico e o modo como ela se apresenta em suas mais variadas formas, intriga-me um pouco o modo como essa relação vem mudando e como a percepção de espaço também vem se tornando algo novo, seja na arte ou na comunicação. Algo completamente inovador com a evolução da tecnologia e das realidades virtuais e mistas, experiências e experimentos tecnológicos.

A população ainda busca assimilar essa transformação. É relativamente recente o fato de que o público tem deixado o papel de espectador de obras e da linguagem estética para se transformar em protagonistas. É frequente o olhar de admiração para grandes instalações. Isso se observa não somente na arte, como até mesmo na comunicação e no marketing, algo que representa claramente um comportamento ou estilo de época, assim como a arte.

Aquilo que surgiu, a partir da década de 60 com Oiticica, Cildo Meireles, Lygia Pape, agora se transforma em um universo de formas e formatos que transbordam das galerias e museus para os palcos da vida. Vivemos em meio a um festival de “cosmococas” e “desvios para o vermelho” assinados por nomes que muitas vezes nem fazem parte do nosso cotidiano, nomes esses que nem sequer representam uma pessoa, mas sim, uma marca ou produto. Vivemos hoje uma mistura de woodstocks, exposições e parques de diversão.

E ao perceber todo esse movimento, eu acabo me perguntando qual será o rumo da arte e da comunicação nos próximos anos. Principalmente porque ao analisar tudo isso por um viés de experiências, percebemos o desejo de participação do público, seja ele na arte, na comunicação, ou na vida. O público ganhou voz e protagonismo nos últimos anos.

Pergunto-me também, se seria a arte um objeto da comunicação ou a comunicação um objeto da arte? E será que o que nós “marketeiros” produzimos pode ser considerado arte em seu estado natural?

Existem aqueles que condenam o branded content, por exemplo. Para eles isso é algo sem valor ou “vendido”. Mas ao mesmo tempo me pergunto se não seriam as pinturas do renascimento um tipo de branded content católico comportamental da época? Afinal de contas, a Igreja pagava aquilo que queria que as pessoas vissem. Pensando por essa analogia, não seriam as marcas de hoje, a igreja de antes?

Ao meu ver, o futuro nos reserva algo muito especial. Vivemos um momento de transição no qual novas ferramentas de expressão estão aparecendo. A pintura e o desenho tradicionais não são mais as únicas formas de se expressar ou se comunicar. E o céu será o limite, já que a inteligência e a realidade virtual serão capazes de criar, co-criar e desenvolver coisas jamais imaginadas. Seja pelo Atelier de Lumieres em Paris ao criar um espaço no qual as pessoas podem entrar nos quadros do Van Gogh, seja pelo museu de Digital Art em Tóquio, ou até mesmo pelo Color Factory em Nova York. Tudo é experiência, tudo é linguagem. Tudo é despertar.

É claro que existem cânones que insistem que esses novos modelos não são arte, ou se espelham em algo que não tem valor. Mas ao meu ver, arte é tudo aquilo que por um viés estético usa da linguagem para passar uma mensagem capaz de despertar sentimentos que vão além do corpo e da razão. E partindo deste princípio, acredito sim na capacidade das experiências e da comunicação em seu estado atual em despertar algo em estado de arte.

Hoje festivais como Burning Man, Tomorrowland, Lollapalooza são capazes de em um único momento refletir aquilo que chamamos de Zeitgeist (espírito de época) e a arte, em seu estado natural é capaz do mesmo. Ali vivemos as nossas emoções em seu estado mais bruto. Ali despertamos e exploramos as nossas identidades de formas inimagináveis. Ali, as marcas participam deste palco da vida em meio a inúmeras formas de arte. Seja pela música, seja pelas ativações e experiências de marca ali dispostas.

A arte ao meu ver, é o espírito dos tempos e sempre é atual à sua época. Talvez, nosso estado de arte para este e para os próximos anos, seja aquele no qual as pessoas se tornem cada vez mais protagonistas de um universo múltiplo, virtual ou real, bidimensional ou tridimensional, experimental. Talvez esse seja o nosso momento de arte, e quem seremos nós para dizer que isso não tem valor artístico?

Sendo assim, acredito que a comunicação e a publicidade precisa ficar atenta naquilo que produz e no papel artístico de poder influenciar e traduzir os comportamentos de uma época. Só assim vamos ser capazes de criar coisas relevantes e algo que seja realmente diferenciais no comportamento dos tempos.

Bruno Correa Maduro é diretor de criação da Avantgarde Brasil