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Foi com um novo olhar para o mercado de óculos escuros que o empresário Caito Maia construiu e abriu a primeira loja da Chilli Beans em 1998. Trazendo referências das áreas de moda, música e arte, ele soube reinventar um segmento que até então só trabalhava com poucos modelos e cores básicas. Com cerca de 850 lojas espalhadas por todo o mundo – sim, a marca está presente em diversos países, que vão dos Estados Unidos ao Oriente Médio -, a companhia ocupa o posto de maior rede de óculos da América Latina. Nesta entrevista, Caito fala sobre o processo de expansão no mercado internacional, a aposta em mídia digital e comenta sobre o Chilli Mob Cruise, projeto que foi realizado na semana passada, se tornou referência de arte em alto-mar, e que este ano abordou a diversidade como tema.

A primeira loja Chilli Beans foi inaugurada em 1998. Que balanço você faz destes mais de 20 anos de trajetória?

Todo mundo que se envolveu com a pimenta conseguiu progredir na vida. Esta é a maior riqueza e recompensa que tenho. As pessoas construíram sonhos, contaram suas histórias e abriram suas lojas. Demos uma cutucada no mercado muito interessante, pois colocamos uma roupa nova em um produto que já se vendia há séculos. Começamos a olhar os óculos como um acessório de moda. Antes da Chilli Beans ele era uma peça única, geralmente nas cores preta ou marrom. Se a pessoa tivesse os dois produtos, as pessoas já questionavam. Atualmente elas possuem 15 óculos, é igual roupa e sapato. Temos bastante culpa nisso e o balanço é muito positivo.

A crise econômica que o país vem enfrentando nos últimos anos afetou a companhia?
Não vou mentir que tivemos anos muito difíceis. Mas nunca deixamos o faturamento cair. Sempre estivemos estáveis, com crescimentos menores, mas crescendo. O resumo é que aprendemos horrores. Nos reorganizamos e hoje temos uma empresa muito mais produtiva do que antes. Quem fez a lição de casa no passado, agora vai voar. Quem não fez, morreu. A crise gera oportunidades e aprendizado. Fizemos isso e agora estamos colhendo o que plantamos.

A marca possui diversas lojas espalhadas pelo mundo. Quando surgiu a ideia da internacionalização e quantas lojas a Chilli Beans possui fora do Brasil?
A ideia da internacionalização surgiu há uns 13 anos de duas coisas, um sonho e uma oportunidade. Pessoas de diversas partes do mundo vieram até a Chilli Beans querendo abrir franquias e aí começamos a construir este sonho. Em Portugal, que foi a nossa primeira franquia fora do país, abrimos pois uma pessoa chegou e disse que queria levar a marca para lá. Já na América do Sul foi uma estratégia comercial nossa para atender outros mercados. Com isso, fomos para a América Central e América do Norte. Estamos com quase 50 lojas no exterior e todas com operações sólidas.

Há planos de desbravar novos países?
Sim. Nós dobramos o time do departamento internacional para isso. Nos próximos dois anos vamos pegar as histórias que já temos em países como Colômbia, Kuwait, México e Dubai, entre outros, e reforçar nossa presença, pois ainda há espaço para abrir novas lojas nesses lugares. Então, nós vamos adubar o que já existe primeiro.

Existe diferença em realizar uma coleção no Brasil e para outras partes do mundo?
Coleção não, pois a marca abrange diversos segmentos como esporte, clássico, casual e fashion. Falamos com todo mundo numa boa. Quando você apresenta esse portfólio, está sempre exercitando esse consumo. O que são diferentes de um país para o outro são as campanhas. Por exemplo, em países muçulmanos não posso mostrar algumas coisas por respeito à cultura do lugar e nossas campanhas geralmente são mais apimentadas. Então, precisamos adaptar as campanhas aos lugares onde estamos, mas a coleção continua a mesma.

Apostar no licenciamento de marcas mundialmente conhecidas é uma estratégia da marca?
Fazemos isso há quase 10 anos, quando começamos a trabalhar com Lenny Kravitz e Alexandre Herchcovitch. Sempre focamos no mundo da moda e da música, e isso sempre vai continuar. Agora vamos ampliar ao universo geek, que é muito legal e faz sentido com o nosso mundo. Vamos exercitar sem preconceito. Essa é a ideia. Lançamos modelos de Harry Potter, que conversa com o mundo inteiro e, agora, vamos apresentar uma coleção de Star Wars. Mas não deixamos de fazer coleções que são muito icônicas para o Brasil, pois para a gente é muito importante. É um equilíbrio.

A marca ainda segue com a ideia de lançar uma coleção por semana?
Toda semana a marca lança uma coleção nova com 10 óculos, cinco relógios e cinco óculos de grau. É importante salientar que a média de estoque do mercado de franquias de roupas é de seis meses, a média de ótica é de cinco meses e a rede Chilli Beans tem três semanas de estoque.

Como fazem essas escolhas?
Tudo o que vamos lançar até dezembro de 2020 já está definido. Só há um nome, de uma grande personalidade da moda internacional, que falta fecharmos. Ainda não posso contar, pois estamos em negociação. Garanto que vai ser incrível. Sempre pegamos os pilares da companhia, que são moda, música e arte, e montamos o calendário de acordo com a sazonalidade. Quando você vai nas lojas conversar com a equipe e pergunta se as coleções fazem a diferença, eles me respondem que elas são essenciais. O consumidor vai para a loja esperando ver a coleção. Ele pode até não levar algo da coleção, mas leva um produto Chilli Beans. A coleção é realizada todo mês para trazer algo novo para o consumidor.

Está nos planos da marca expandir a coleção para outros segmentos de produtos?

Não. Nas 850 lojas da Chilli Beans o consumidor encontra óculos escuros, de grau e relógio. Na loja da Rua Oscar Freire, em São Paulo, há outros produtos que nós licenciamos e são comercializados nos canais dos nossos parceiros. O nosso conceito é continuar seguindo o foco e sabemos que temos uma avenida grande pela frente. Um dos grandes segredos da Chilli Beans é foco. Tem gente por aí abrindo o foco e se ferrando bastante.

A marca possui uma forte comunicação digital. Este é o melhor caminho para a marca? 

Somos uma empresa muito digital. Os nossos consumidores e o mundo estão nas redes sociais. Cerca de 70% do nosso investimento em mídia é nas redes sociais, o resto é ativação com celebridades e influenciadores. Saímos da televisão e da mídia impressa, mas isso não significa que não possamos voltar. Temos de deixar a cabeça aberta e exercitando as oportunidades que temos na mão. Então, hoje é assim.

O investimento em marketing e mídia aumentou nos últimos anos?
Ele vem aumentando, pois é relacionado à arrecadação do faturamento. Então, como temos crescido entre 7% e 10%, ele vem aumentando. A nossa verba de marketing para 2019 gira em torno de R$ 26 milhões. É dinheirinho bom, mas sempre falta, né? Na área de publicidade trabalhamos com a agência Fracta e o navio foi realizado com a Smash.

Outra ação que traz muita visibilidade para a marca é o Chilli Mob Cruise, que acabou virando um evento superbadalado em alto-mar, certo?
Sempre sonhamos em fechar um navio para fazer uma convenção. Deixou de chamar convenção para ganhar o nome de Superdose. Aí o projeto ganhou corpo e começou a se chamar espetáculo artístico. Agregamos música, moda, arte e acabou virando o maior coletivo em alto-mar da América do Sul. Temos o navio do Roberto Carlos e agora temos o navio da Chilli Beans. Isso virou um produto, começou a ser comercializado este ano para o público e já está lotado desde dezembro de 2018. Então, estamos muito felizes. O objetivo é fortalecer a marca Chilli Beans na relação com o consumidor e seus parceiros. Serão investidos neste projeto cerca de R$ 7 milhões.

Nesta sexta edição do projeto vocês trabalharam o tema da diversidade, por quê?
A Chilli Beans respeita a diversidade desde o dia em que nasceu. Diversas marcas estão correndo para falar sobre o assunto, pois as agências de publicidade e PR pediram para elas falarem. A gente não. Nunca julguei orientação sexual, raça e religião. O que me interessa é o ser humano. Essas pessoas eram, e são muitas vezes, marginalizadas. Abri a porta para essa pessoas e elas me ajudaram a construir a Chilli Beans. Então, celebramos o que já fazemos há 21 anos. Não estou aqui defendendo a bandeira gay, racista etc. Defendo a bandeira que todo mundo é legal, bacana e pode conviver bem e em paz. Foi assim que construí a Chilli Beans.

Além de empresário, você também possui uma veia artística. Tem planos para essa área?
Participo do programa Shark Tank desde a segunda temporada e acabei de assinar contrato para a quarta. Em paralelo, estou negociando com algumas emissoras um formato original de empreendedorismo, pois quero lançar um programa de televisão apresentado por mim. Quero exercitar o empreendedorismo inocente, inicial e verdadeiro. Em um país tão criativo como o Brasil, quero fazer com que as pessoas acreditem no sonho delas. Exercitar o embrião de um sonho.

O que a marca planeja para 2019?
Temos um calendário de temas maravilhosos. Nossa próxima coleção está maravilhosa. Vai falar da arte de rua, com grafite e arte urbana. Queremos continuar a expansão da Chilli Beans em todo o mundo, com a abertura de mais 72 lojas até o fim de 2019. Incluso nessas lojas temos uma novidade, que é a Chilli Beans Ótica, que vamos lançar agora e trará um novo conceito em comprar óculos de grau no mundo. Devemos abrir quatro dessas lojas até julho deste ano. Esperamos que o governo nos ajude e nos deixe trabalhar. Acreditamos no Brasil e esperamos que este ano seja melhor. Sabemos que não vai ser um ano excepcional, mas esperamos que ele seja melhor.