Em fase de transformação, a indústria formada por agências, anunciantes, canais de mídia e produtoras tem encontro marcado entre 17 e 24 de junho no Cannes Lions. Nesta entrevista, o executivo Philip Thomas, CEO da Ascential e do festival, explica que a criatividade não pode ser encarada como commodity, mas como elemento estratégico na conexão das marcas e serviços com os consumidores.
O que o Cannes Lions representa na estrutura da Ascential?
O evento reúne a indústria de comunicação pelo viés da criatividade. Este ano, ele chega à sua 64ª edição. Não tenho problema em dizer que é um evento único para aprender, trabalhar em rede e celebrar o segmento formado por agências, anunciantes, produtoras e agentes de tecnologia, por exemplo. É um dos principais produtos da Ascential e representa a essência do que esperamos fornecer, através de todos os nossos eventos, às indústrias que buscam relevância para suas respectivas atividades. Fui nomeado CEO da Ascential e o José Papa passou a ser o CEO do festival. Mas divido com ele essa função.
Quais são as expectativas para Cannes 2017 em termos de inscrições, patrocínios e geração de negócios?
Esperamos que mais de 15 mil delegados se inscrevam nos vários modelos oferecidos. O de maior valor nominal é o pacote full. Também temos a expectativa de contabilizar mais de 43 mil trabalhos competindo, dos quais 3% devem ser premiados.
Já tem alguma atração confirmada?
Nós estamos adicionando à programação nomes como Gabourey Sidibe, Ira Glass, Jeff Bewkes e Sheryl Sandberg.
Qual será o tema da campanha publicitária deste ano?
Estaremos anunciando nossa campanha publicitária em breve. No momento, estamos veiculando uma campanha global nos meios especializados sobre o Lions Entertainment, que destaca as pessoas de todo o mundo dos setores de cinema, televisão, música, games e esportes.
A organização convidou alguma agência para elaborar a campanha ou ela está sendo feita pela house agency da Ascential?
Nossas campanhas de comunicação são produzidas internamente por nossos redatores e diretores de arte, que são altamente criativos.
Há algum tema que vai nortear os rumos do festival neste ano?
A pauta dos palestrantes vai articular como a criatividade tem o poder de afetar a mudança cultural. É uma reflexão que envolve uma série de atitudes para mudar a forma de abordar as pessoas. Além de uma agenda muito centrada no futuro. Que é incerto, mas que temos de discutir com base no que estamos vendo no presente. Também ampliamos nossa gama de atividades e ferramentas para ajudar as pessoas a se relacionar entre si – incluindo Brain dating – uma solução de rede muito inovadora que descobrimos no Canadá. Ela combina tecnologia inteligente com interação humana. Após o bem-sucedido Dia da China, em 2013, e em resposta à demanda da comunidade criativa desse país asiático, estaremos realizando uma segunda edição do Dia da China, dedicada à criatividade e à inovação chinesa. Será no dia 20 de junho. Claro que é um ano muito emocionante para os eventos especializados.
E as principais novidades a que os delegados serão expostos no Cannes Lions?
Há uma grande abundância de novos elementos para o festival, mas não podemos anunciá-los ainda porque muitos estão sendo articulados ou ainda não foram fechados. Mas posso revelar que a nova The Night School, uma espécie de ‘campus’ com espaços para oficinas e outras atividades, vai agradar muito à delegação jovem. O espaço Trainnig and Learning vai abrigar cursos para executivos e estudantes, além da Academia Roger Hatchuel, para jovens criativos. O aplicativo Cannes Lions foi completamente repaginado para tornar mais fácil o planejamento antecipado da agenda. O app também vai ajudar na localização dos locais reservados para palestras, por exemplo. E compartilhar com sua cadeia de stakeholders o que está aprendendo nas palestras e workshops. Ninguém quer guardar para si as ideias que está tendo com os colegas de classe.
Qual é a mensagem que o Cannes Lions pretende passar este ano?
Somos defensores da criatividade. O festival é e deve ser um agente de inspiração e coragem criativa dos profissionais desse enorme trade. Eles são capazes de mudar o curso da comunicação de marketing em qualquer ponto do planeta. Nosso papel é representar e identificar as necessidades dessa indústria. O Cannes Lions faz campanhas permanentes pela criatividade. Acreditamos plenamente no poder da criatividade para a geração de negócios, para os processos de mudança e para o bem-estar do mundo.
E o Lions Health & Wellness?
Esse festival ganhou muita aderência porque é um tipo de comunicação com regras específicas em cada país. Essa competição apresentará novamente a bem-sucedida MedTech Expo, mostrando a próxima geração de tecnologias que transformam os cuidados com a saúde. Entre os expositors já confirmados estão Twitter, IBM Watson, Google e GMR Marketing. O Health & Wellness mostra que há muita criatividade na indústria farmacêutica.
E quanto ao Entertaiment Lions? Qual é a importância do entretenimento, do ponto de vista dos organizadores, para a interação com os consumidores?
O Lions Entertainment entra no seu segundo ano em 2017 com um novo foco para contar histórias: o que podemos fazer para formar cultura. O evento é projetado para os profissionais de criação que geram conteúdo e para uma ampla cadeia de distribuidores globais. E, mais importante, vai muito além da publicidade. Por isso mesmo permite inovação criativa. Também vai reunir pessoas de todas as comunidades de entretenimento, comerciais e criativas que estão propondo novas maneiras de aproveitamento do poder da cultura popular para o trabalho de construção de marcas. Eles representam talentos e franquias de entretenimento, bem como rótulos, estúdios, plataformas e publishers – da Disney para Diageo, da Marvel para McDonald’s, da NBA para a NBC e também para a montadora BMW. Não posso esquecer de mencionar que o brasileiro PJ Pereira, CCO da Pereira & O’Dell, vai presidir o júri do Entertainment Lions.
Inovação se tornou palavra recorrente no dicionário dos profissionais de comunicação. Como será essa área do festival?
O Lions Innovation entra em seu terceiro ano com o lançamento da Discovery Zone, uma área dedicada para startups de todo o mundo, reunindo diferentes disciplinas de tecnologia em um programa especialmente estruturado de networking e desenvolvimento. A Discovery Zone ajudará as start-ups a estabelecerem ligações com futuros parceiros, investidores e colaboradores e os players mais poderosos do setor.
Por que houve uma diminuição no volume de jurados nas competições?
Após ampla consulta a jurados que participaram de edições anteriores, concluímos que o tamanho dos painéis do júri presencial deveria ser reduzido em 92 integrantes. Teremos 285 jurados no festival e cerca de 95 julgando de forma remota. O objetivo é garantir o mais alto padrão de debate nas salas de trabalho dos jurados. É isso que interessa à indústria. A primeira fase do processo de votação para as áreas Promo & Activation Lions, Media Lions e Direct Lions será concluída nas semanas que antecedem o início do festival. Os jurados não presenciais já vão indicar a shortlist que será julgada pelos presenciais. Os integrantes dos júris remotos foram selecionados usando o mesmo processo e critérios dos júris que estão trabalhando no Palais des Festivals de Cannes. E, claro, com os mesmos padrões rigorosos de neutralidade e justiça para analisar os trabalhos inscritos. Os número de jurados em Film, Radio, Print & Publishing e Mobile, só para citar algumas, também foram reduzidos.
Quais os fatores de mudança da indústria da comunicação? Afinal, para ser atraente para esse mercado, que é a indústria que movimenta as outras indústrias, deve manter um olhar bem atento aos movimentos culturais e sociais, não é mesmo?
A indústria está mudando rapidamente à medida que a tecnologia e o digital transformam a forma como trabalhamos, vivemos e nos comunicamos. Representamos a indústria que atendemos, então abraçamos e exibimos muita tecnologia e digital, assegurando que esses elementos essenciais estejam representados não só na competição de inovação, mas em todo o festival. Sim, estamos atentos às demandas. Conhecimento e aplicação da cultura popular na comunicação são vitais para o mercado de comunicação.