Um macaco louco e drogado numa loja de cristais provoca menos estragos que um incompetente no comando. Foi isso, mais ou menos, que aconteceu com o Brasil nas gestões DVR, e no segundo mandato de Lils. Vocês sabem de quem estou falando. Por favor, me poupem do sacrifício e do constrangimento em ter de escrever o nome por inteiro desses irresponsáveis. O desastrado no comando leva o navio para onde quiser. Muito especialmente se tem em seu séquito um time meia-boca de oportunistas e igualmente incompetente e desastrado. Muitos absolutamente amorais. E assim o navio Brasil foi jogado contra as ondas e a correnteza por pessoas que estupidamente acreditavam poder tudo. E deu no que deu.
No meio das intempéries e dos balanços, uma empresa com mais de 60 anos de história, e referência em seu território de atuação. “Fundada em 1952, pelo romeno José Nacht, a Mills começa a importar tubos e demais equipamentos tubulares da Echafaudages Tubulaires Mills. É o início da Mills, pioneira em andaimes tubulares e escoramento de aço no Brasil. Na época, os andaimes usados no país eram feitos em madeira, o que resultava em desmatamento e falta de segurança aos trabalhadores. No mesmo ano de sua fundação, a Mills fecha a sua primeira grande obra: a cúpula da Catedral da Sé, em São Paulo…”. Assim começa a história da Mills em seu portal na internet.
Corta agora para a revista Dinheiro de número 984, 14 de setembro de 2016, onde Cristian Nacht, presidente do conselho de administração da empresa fundada por seu pai, concede entrevista para Eduardo Valim: “Levamos meio século para chegar a um valor de mercado de R$ 150 milhões, e apenas oito meses para subir para R$ 3,5 bilhões”. Desde o início, a Mills pontificou pela sua competência em suprir as principais empreiteiras e construtoras do país com seus equipamentos. Era, e ainda é, uma referência no mercado imobiliário. Suas máquinas prestaram serviços em dez dos 12 estádios da Copa. Fornecedores fornecem. Se os fornecidos crescem e prosperam, os fornecedores “surfam” na onda. Não deveria ser assim, deveriam ser mais cautelosos, mas a tentação é grande e resistir, praticamente impossível. E como dizer-se não a um parceiro de sempre e de todas as horas? E assim a Mills mergulhou na “onda bolha de prosperidade” produzida à custa da irresponsabilidade fiscal e de um plano de tomada do poder.
Na matéria, Cristian Nacht descreve aquele momento: “Era uma montanha-russa que só subia e subia… até que chegou a hora da queda”. Desde 2015, a família luta para salvar a empresa. Com o cancelamento ou suspensão das obras, os equipamentos alugados pela Mills começaram a ser devolvidos. São mais de 6 mil máquinas pesando 120 mil toneladas que deixaram de produzir receitas, paradas, e gerando despesas. Segundo Tomas Nacht, filho de Cristian descreve os cenários que imaginaram: “Fazíamos análises com cenários bom, realista, ruim, péssimo e terrível. O resultado veio pior que a previsão terrível”.
A crise será superada. Com a contribuição de todos os cidadãos construiremos um novo Brasil. Mas sério, profissional, consistente, responsável. E, seguramente, a Mills reencontrará seu melhor caminho. Ainda que para se salvar tenha tido que sacrificar, como diz Cristian, todas as gorduras, depois a carne, e talvez parte dos ossos. O time de dez diretores foi reduzido a cinco, vendeu sua unidade industrial, demitiu mais de 800 pessoas, e substituiu parte da equipe de executivos por profissionais com perfil mais adequado a chuvas, trovoadas, tempestades e vendavais.
A Mills é apenas uma. Uma de milhares. Que, por não estar na linha de frente e por honrar os serviços e as parcerias com seus clientes, mergulhou junto no abismo. E agora, com coragem e generosidade, compartilha com todas as demais empresas sua trágica experiência. Cristian finaliza a entrevista, afirmando: “A crise serviu, pelo menos, para ser menos arrogante, e não achar que nasci para ser bem-sucedido”. Que a lição sirva para todos nós. Que é insuficiente ser um país abençoado por Deus e bonito por natureza. Assim continuará se não formos capazes de transformar esse extraordinário ponto de partida e potencial num país de verdade. Muito especialmente, se não tivermos discernimento e sensibilidade para confiá-lo a mãos hábeis, capazes e honestas.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)