Qualquer governante do Executivo (país, estado e município) que pegasse essa verdadeira bomba que é o coronavírus estaria 24 horas por dia às voltas com os grandes problemas, na maioria das vezes de soluções desconhecidas, trazidos ao planeta por esse terrível mal que parece não ter fim entre nós. A resistência do vírus, para o qual não há sequer vacina ainda, o que pode sugerir uma recidiva logo ali adiante, deixa a todos preocupados, como talvez jamais tenhamos ficado antes.

As grandes epidemias anteriores – e hoje se fala muito na gripe espanhola como comparação – parecem minúsculas, apesar dos estragos então causados, se comparadas à que temos vivido nestes meses, com pessoas morrendo diariamente em grande quantidade, nossos hospitais despreparados para abrigar todos os enfermos e os governos perdidos diante do desconhecido. Em nosso país, o grande mal assumiu e prossegue assumindo proporções assustadoras, porque coincide com um período desencontrado da administração pública, que trava uma guerra muitas vezes com adversários imaginários, na tentativa de pavimentar o seu caminho para cargos mais amplos lá adiante.

Como sempre acontece nessas turbulências, quem mais sofre é a população, aqui incluídos não apenas as pessoas de baixa ou nenhuma renda, mas também os responsáveis por pequenos, médios e grandes empreendimentos, além daqueles autônomos que um dia resolveram trabalhar por conta própria, à procura de melhor sorte na vida. Desta feita – e até repetimos – devido ao pouco ou nenhum conhecimento que nossos cientistas têm a respeito do coronavírus, a pandemia se agravou de tal forma que um terrível medo e muitas incertezas se apoderaram de todos os que estão vivendo em regiões onde o bicho mais ataca.

É nesse ambiente conturbado e com muitos óbitos diariamente contabilizados que surgem de cima para baixo soluções que impõem um sofrimento maior à população. O não sair de casa foi uma das primeiras, sem considerar as dificuldades daí advindas. Muito bem, de qualquer forma poderia ser uma solução, ou no mínimo uma solução pela metade, na falta de uma terceira que resolvesse os principais problemas dos cidadãos, sem lhes ocasionar outros muitas vezes piores.

Lembra um pouco os conflitos bélicos travados entre algumas nações, primeiramente com o uso de gigantescos canhões lançadores de enormes torpedos contra o inimigo, causando incontáveis estragos, mas sem conseguir cessar o conflito. Este se agravou através dos tempos, após o advento do avião, devido à mobilidade do atirador diante do ponto fixo dos antigos e gigantescos canhões.

Voltando aos nossos dias, onde se recomenda total isolamento à população, temos em meio a esse apelo possuidor de uma grandiosidade difícil, quase impossível de ser obedecida, pequenas grandes ideias que nascem aos borbotões, algumas logo se tornando nascituras à menor análise e outras que lembram buchas daqueles mesmos canhões sobre os quais falamos lá em cima. Ou seja, experimentos sem muita ou nenhuma certeza de sucesso, como essa que vamos viver a partir desta segunda-feira em São Paulo, onde o algarismo final das placas dos automóveis particulares terá a licença para trafegarem em determinados dias, outros não, obedecendo a um revezamento par ou ímpar de fazer inveja a quem nunca pensou nisso antes.

Naturalmente, os cérebros geniais que pariram essa ideia, depois de outras que reconhecem não terem dado certo, deixaram de considerar algumas premissas resultantes dessa determinação, como por exemplo o desvio das pessoas que ocupavam automóveis até ontem para outros meios de transporte, tornando muito possivelmente ainda mais perigoso e factível o contágio, pois todos sabemos como circulam nossos ônibus pelas ruas e avenidas da pauliceia e como passarão a circular com metade dos automóveis impedidos de sair a cada dia, inclusive aos sábados e domingos.

Rogo às minhas entidades protetoras, nas quais sempre acreditei e ainda muito acredito, que lancem esplendorosa luz sobre esses governantes e seus auxiliares que mais parecem perdidos diante da invasão de uma epidemia ainda desconhecida pela humanidade. E que essa luz, se não levar à cura, ao menos produza melhores ideias para se evitar aglomerações e a multiplicação exponencial de vítimas, a pior parte dessa história de horror.

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O mercado publicitário brasileiro, como aliás praticamente todos os setores de atividades profissionais, tem sofrido terrivelmente com a paralisação das suas atividades, devido ao fechamento das agências, de grande parte das instalações dos seus clientes-anunciantes, das produtoras e demais prestadores de serviços, que no seu todo contribuíram para alçar o país aos primeiros lugares das grandes premiações mundiais do setor, onde mais se destaca o Cannes Lions, um dos primeiros a anunciar que este ano não haveria a esperada versão do mais famoso e badalado festival da comunicação publicitária do planeta.

Uma das partes mais importantes do todo publicitário, a mídia, por força das suas atividades, prossegue heroicamente atuando, porém com baixo nível de programação publicitária, por tudo o que acima se falou.
Qualquer meio de comunicação hoje está muito abaixo dos níveis em que era programado antes do coronavírus. Alguns, os mais fracos e sem recursos guardados, deixarão de existir após o fim da pandemia (ou até antes), o mesmo acontecendo com muitas pessoas jurídicas acima citadas. Essas possibilidades têm levado alguns arautos preverem que um novo mundo nascerá depois do coronavírus, mais forte e mais resistente a outras investidas que o futuro de quando em quando reserva para a humanidade.

Temos para nós que não será bem assim, infelizmente. Passado o bicho, teremos um longo período de desolação após contabilizarmos todas as perdas do setor. Demorará muito em seguida a se criarem novos sistemas. A valiosa rede da criação e comunicação publicitária do planeta demorará meses para voltar a ser o que era antes do surgimento desse ainda muito pouco conhecido vírus, do qual a única parte aparente até aqui são os estragos que causa. Claro que essa é apenas uma estimativa, uma visão pessimista decorrente de tudo o que temos passado até aqui, na condição de habitantes deste planeta.

Nossos votos, neste mês em que o PROPMARK comemora 55 anos de atividades ininterruptas, cuja história será contada em nossa edição prevista para 8 de junho próximo, são na verdade repletos de esperança, confiando em que a mesma criatividade que fez da atividade publicitária uma das carreiras mais procuradas pelos jovens (e são eles que verdadeiramente fazem o futuro) recupere-se rapidamente em todo o planeta e, se possível, com maior velocidade no Brasil, que tanto precisa do seu talento para contrapor ao fétido comportamento de uma classe política que pratica o impossível por interesse próprio e falta de capacidade de enxergar um palmo adiante.

Ainda agora, no fechamento desta edição, estamos sabendo que um dos partidos políticos que muito se destacou nos últimos tempos, em todos os sentidos, requereu na Justiça que fosse decretado lockdown na cidade de SP, de grande interesse para quem já enxergou que perdeu todas as chances de voltar à cena política nacional em grande estilo.

Armando Ferrentini é diretor-presidente e publisher do PROPMARK (aferrentini@editorareferencia.com.br)