Não canso de trazer para os meus artigos a informação de que um dos maiores problemas de empresas, instituições ou mesmo das pessoas é a má comunicação ou a falta dela. Pesquisas demonstram que perto de 2/3 dos problemas poderiam ser evitados ou melhor resolvidos com uma boa comunicação.
No primeiro mês do novo governo federal já percebemos que falta essa ficha cair com tudo em Brasília. Fora os desmentidos (parece-me que foram mais de 20), o disse-me-disse e bateção de cabeça entre os componentes da cúpula governamental, os primeiros movimentos de Brasília, em termos de comunicação, são sofríveis.
Primeiro, a visão simplista do vice-presidente, questionando a propaganda governamental, atribuindo à mídia digital a cura de todos os males, “sem precisar gastar rios de dinheiro”.
Depois, o próprio presidente, levantando questão em torno do Programa de Incentivo (chamado por ele de BV), que existe entre veículos e agências de propaganda. Ambas declarações foram tema do meu artigo anterior e de diversas matérias, dentre elas a brilhante Carta Aberta, de Armando Ferrentini.
Não vou, portanto, me alongar nesses pontos. Mas aí acontece a decisão mais impactante do governo no seu primeiro mês de atuação: o decreto que altera o Estatuto do Desarmamento, facilitando a posse de arma no Brasil.
Era uma das suas principais promessas e pontos de honra do novo presidente (aliás, sua marca registrada, com o gesto de arma na mão, usado amplamente na campanha). Daí sua importância.
E o decreto conseguiu desagradar os dois lados: àqueles que defendiam a flexibilização e os contrários. Para os primeiros, foi tímido e menos permissivo do que se esperava; para o outro lado, a percepção de que qualquer facilidade maior na obtenção de posse de arma é nociva.
Mas o que mais chama a atenção é a ausência de uma boa comunicação para deixar claros os principais pontos e as mudanças propostas pelo decreto. A imprensa deu grande destaque, é verdade. Mas não basta. É preciso que tal atitude seja objeto de um competente plano de comunicação. Todo profissional sabe da importância de peças de comunicação bem feitas, mas, também, da frequência de emissão de mensagens.
Para uma absorção eficaz de uma mensagem, o ser humano precisa ser submetido a ela diversas vezes. Ainda mais nos tempos atuais, quando somos bombardeados por dezenas ou centenas de impactos de comunicação a cada dia.
Não dá para deixar assunto de tal importância à mercê da avaliação de grupos – a favor ou contrários – ou mesmo da imprensa. É preciso uma ação contundente de comunicação paralela – ou mesmo proativa. Felizmente, ficamos sabendo da atitude de convocar as agências com contratos vigentes na esfera federal governamental para dar andamento aos trabalhos de comunicação.
Vimos também uma movimentação em torno do novo porta-voz do governo no sentido de organizar a comunicação emitida por Brasília e evitar os incômodos disse-me-disse e desmentidos por lá.
O que nós, profissionais de comunicação e marketing, esperamos é que o governo entenda a importância de uma atuação organizada e profissional nessa área. Que não caiam na armadilha de achar que tudo pode ser resolvido por declarações simplistas via redes sociais.
Que entendam que o Brasil tem instituições maduras nessa área e que a propaganda brasileira é exemplo mundial, digna de orgulho pelas suas conquistas em concursos internacionais.
Que o investimento na boa comunicação é importante para pavimentar caminhos para conquistas em todas as áreas e na prevenção de problemas.
Nosso país é carente de tanta coisa que a comunicação e a propaganda podem parecer algo de menor importância. Mas não é. Repito: mais de 2/3 dos problemas podem ser evitados ou melhor resolvidos com uma boa comunicação.
Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)