Ser publicitário é um sonho que – mesmo após as transformações trazidas pelo advento do digital, que mudaram a configuração do setor – integra o ideal profissional de muitos jovens em fase de ingressar no ensino superior, e se veem atraídos por uma atividade na qual podem exercer a criatividade; trabalhar para importantes marcas e conviver com profissionais inovadores e disruptivos.
O glamour que sempre caracterizou a aura dos profissionais mais bem-sucedidos da publicidade, em face das mudanças do mercado, passou a dividir espaço com a expertise dos profissionais especializados em algumas das competências técnicas incorporadas à cadeia de atividades por conta da publicidade e do marketing digital. Com isso, a indústria da publicidade, pensada como essa grande cadeia que abriga os diversos setores e segmentos que apoiam a atividade, passou a ser integrada por profissionais de perfis bem distintos do que aquele que sempre se designou como o de um publicitário criativo, abrangendo os oriundos de áreas como a de tecnologia, além de outros segmentos cuja operação está interligada direta ou indiretamente à publicidade.
Apenas para dar uma breve dimensão da extensão que a nossa cadeia de negócios atingiu, a atividade publicitária engloba hoje não apenas as agências de propaganda e digitais, as atividades de produção e edição de conteúdo, e os próprios veículos de comunicação, mas inúmeros outros que apoiam a produção publicitária – como a produção de filmes, a impressão de materiais e agenciamento de espaços e os segmentos impactados pelo estímulo da publicidade às suas atividades, como varejo e serviços. Trata-se de uma indústria que, em seu conjunto, consolidou-se como uma importante fonte de empregos. Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério da Economia, que integram o estudo O Valor da Publicidade no Brasil, realizado pela Deloitte, o setor de publicidade gera mais de 196 mil empregos diretos e cerca de 240 mil indiretos, totalizando mais de 435 mil pessoas empregadas.
Os 196 mil empregos diretos referem-se às atividades que têm 100% de sua receita proveniente da publicidade, tais como agências de publicidade e televisão aberta e noticiário gratuito, ao passo que os empregos indiretos estão nos segmentos que são parcialmente suportados pela propaganda, seja por apoiarem a atividade publicitária ou por veicularem publicidade.
Mas o tamanho do mercado de trabalho relacionado à publicidade é muito maior se considerados os empregos ligados às atividades de marketing nos anunciantes e aos profissionais temporários e freelancers, sobre os quais não há dados estatísticos. Os números são ainda mais expressivos se incluirmos os profissionais que atuam como prestadores de serviços, não estando sob o regime da CLT.
Há, portanto, uma série de segmentos de fora dessa cadeia que são influenciados de alguma forma pela publicidade, pelo incentivo ao consumo gerado por ela. Fazemos parte dessa cadeia, e eu não pensaria em trocar de profissão. Mas, certamente, se a atividade fosse mais reconhecida por sua importância econômica e por toda a gama de especializações e competências que envolve e estimula, estaríamos preparados para buscar a valorização profissional e da atividade em patamar ainda superior ao atual.
Dudu Godoy é presidente do Sinapro-SP, VP executivo da Fenapro e VP do Cenp
(presidencia@sinaprosp.org.br)