Removeram a marca Itaú das bicicletas do projeto de bike-share mantido pelo banco no Rio de Janeiro. A decisão foi do Comitê Olímpico e protege os interesses dos patrocinadores dos Jogos Olímpicos, que entenderam que as laranjinhas – como são conhecidas no Rio – poderiam, de alguma maneira, ao exibir a marca do Itaú por toda a cidade, ofuscar o brilho de um concorrente: o Bradesco, que é patrocinador oficial das Olimpíadas.
O embargo da marca nas laranjinhas e nas estações da cidade vale até 29 de setembro de 2016. Todo o resto permanece igual: durante as Olimpíadas e as Paralimpíadas, as bicicletas continuarão sendo um importante meio de transporte e deslocamento dentro da cidade. Ou seja: o sistema Bike Rio continuará sendo usado, mas as pessoas que circularão pela cidade nesse período não poderão saber o nome da empresa que o viabiliza desde 2012. Um curioso contrassenso, na minha visão, e na de outras pessoas que vi reclamando através das redes sociais.
Entendo que as altas cifras investidas nos Jogos pelos patrocinadores representam um privilégio de visibilidade em vários aspectos. Mas o programa de bike-share do Itaú no Brasil não é uma ação de marketing e sim uma causa.
Não é uma plataforma de marketing do banco, e está inserido dentro da causa mobilidade urbana, uma das áreas de atenção da empresa ao lado, por exemplo, de cultura e educação. Quem vive em grandes centros urbanos sabe que a mobilidade é uma questão essencial a ser discutida, pois um futuro feito apenas de automóveis não é sustentável. Empresas podem e devem entrar na discussão – e se puderem fazer algo concreto a respeito, provando não serem autistas, tanto melhor.
Pode-se não gostar da marca Itaú, da empresa, do sistema financeiro em geral, dos bancos e de seus donos que lucram milhões. Mas o fato é que o projeto de bike-share mudou a vida do Rio, aproximando-a de algumas das capitais mais modernas e funcionais em termos de mobilidade do mundo.
E é único em alcance: funciona no Rio e em oito outras cidades, chegou a Santiago, no Chile, e ganhou filhotes como a Escolinha Bike e o Bike Noronha – no arquipélago de Fernando de Noronha.
A decisão de ocultar temporariamente o nome da empresa responsável por tudo isso me parece ao mesmo tempo naïve e reducionista, ao tratar um projeto de dimensões tão maiores como uma ação de marketing ou um patrocínio pontual.
Mas há algo de inabalável e impossível de esconder compartilhado por quem mora na cidade e usa ou convive com as laranjinhas. E, talvez, quem esteja sendo naïve, seja eu mesma.
Porque no fundo, a simpatia dos usuários e de pessoas como eu já não depende da logomarca. O projeto das bicicletas se inseriu na alma da cidade. O valor disso não se mede. E isso, ninguém tasca.