Jornalista, Foquinha saiu das redações para criar o seu canal, e, hoje, tem mais de 2 milhões de inscritos

Fernanda Rocha Catania tem 33 anos e é jornalista de formação. Em 2014, ela decidiu deixar as redações tradicionais para criar o seu canal no YouTube, mas talvez você não a conheça pelo nome de registro e sim pelo apelido.

Estamos falando sobre a Foquinha.

Na época, a jornalista trabalhava na Capricho, e seu rosto era bem conhecido pelos jovens daquela época graças aos vídeos de entrevistas e matérias que escrevia para a revista teen. Com o passar do tempo, a jornalista começou a se interessar cada vez mais pelo vídeo e foi daí que surgiu o canal.

Ao contrário do que se imagina, o projeto não era para a internet. A ideia da Foquinha era colocar o projeto no YouTube para que ele chegasse nas pessoas da TV, mas o caminho foi diferente do que ela imaginava.

"Acabou dando certo com a audiência e eu percebi que não precisava levar pra nenhuma mídia e que eu podia criar ali minha própria mídia. A internet me deu uma liberdade que eu não tinha na mídia tradicional", relembrou a jornalista.

O tempo foi passando e o rosto — e o conteúdo — de Foquinha foi se tornando cada vez mais conhecido, o que levou as marcas até ela. Atualmente, ela já fez projetos com Globo — tanto Globoplay quanto em outros serviços da emissora —, Skol Beats, Seda, Netflix, Bumble e muitos outros.

Você era jornalista da Capricho e era uma das mais conhecidas pelo público, né? Em que momento e por que você decidiu que iria sair da redação e abrir o canal do YouTube?
Eu fiz parte da equipe da Capricho durante cerca de 6 anos e fiz praticamente de tudo lá. Comecei como estagiária, virei repórter, editora, apresentadora da TV Capricho no YouTube, colunista… Enfim, mas chegou um momento que comecei a me interessar cada vez mais por vídeo e decidi tentar algo na televisão, então criei um projeto de programa para apresentar pra canais mas não tinha contatos na TV. Então decidi fazer o projeto por conta própria e jogar no YouTube para tentar chegar em pessoas da TV. Claro que fiquei um tempo pra tomar coragem, me planejar, economizar dinheiro e tudo mais. E assim nasceu o “desafio da Foquinha” em 2015, meu programa de entrevistas que se tornou um dos principais quadros no meu canal de YouTube. Acabou dando certo com a audiência e eu percebi que não precisava levar pra nenhuma mídia e que eu podia criar ali minha própria mídia.

Você esperava que seu canal se tornaria o sucesso que se tornou?
Jamais! Como falei, planejei um programa para levar pra outra mídia. Nunca imaginei que criaria um canal, que criaria conteúdo na internet e que esse se tornaria o meu trabalho. Naquela época não havia espaço para criar conteúdo profissionalmente no YouTube como hoje.

Existiu algum momento em que você percebeu que o canal tinha se tornado a sua profissão?
Sim, principalmente quando comecei a fechar trabalhos por conta do canal, mas, antes mesmo disso, meu primeiro estalo foi quando artistas passaram a procurar meu canal para dar entrevistas. Acho que um dos primeiros foi o Rodrigo Santoro. Eu fiquei assim “oi, Rodrigo Santoro vai dar entrevista pro MEU canal?”. Lembrando que não era como hoje hein, em 2015 esses artistas não participavam de canais na internet.

Você foi para o Festival de Cannes neste ano. Como aconteceu o convite e como foi a experiência de estar em um dos mais importantes festivais de publicidade?

Eu fui convidada pela Whalar, uma das principais agências de criadores de conteúdo do mundo, para fazer parte de um squad de criadores pra representar a marca no festival e compartilhar nossas experiências como criadores de conteúdo. Foi um dos momentos mais incríveis da minha carreira. Por muito tempo, os criadores de conteúdo não foram valorizados nesse meio, então, ser uma das criadoras escolhidas para estar em Cannes falando sobre o meu trabalho e minha experiência mostra como as coisas evoluíram. Lá em 2015, quando lancei meu canal, eu nunca imaginei que isso seria possível. Me senti valorizada e com orgulho da minha trajetória até aqui. Sem contar que curtir o evento foi demais e eu vivi experiências que nunca vou esquecer.

Você é jornalista de formação e seu conteúdo é bem jornalístico. Apesar disso, você se tornou uma influenciadora digital. Teve algum momento em que essa chave virou para você? Ou você se enxerga das duas formas?
Eu me enxergo das duas formas. Sou jornalista e o meu conteúdo na internet é jornalístico, eu levo informações com muita responsabilidade, mas de uma maneira leve, bem-humorada e original. A internet me deu uma liberdade que eu não tinha antes, trabalhando na mídia tradicional. Além disso, meu trabalho e o que eu falo na internet atingem um nicho de pessoas, então eu vejo que influencio fazendo jornalismo.

De todos os trabalhos publicitários que você já fez, qual você mais gostou?
As minhas preferidas são as que envolvem o meu trabalho como apresentadora, englobando também as minhas redes sociais e as redes da marca. Vou destacar o Beats Manda Jobs, um reality de Skol Beats que foi transmitido no Instagram da marca. Inclusive, recentemente, apresentei outro reality que vai estrear dia 15/9 no YouTube e eu estou bastante empolgada porque entrou pra lista dos meus trabalhos preferidos! Também gostei muito dos trabalhos que fiz com a Netflix, como apresentar o festival Tudum duas vezes e apresentar dois programas no canal de YouTube da marca. Foi bem legal porque os programas foram ideias que eu apresentei pra marca e deram certo.

Além disso, fico muito feliz com as publicidades dos meus projetos próprios. Por exemplo, todo ano, desde 2020, eu faço uma live de fim de ano, com a retrospectiva pop do ano. Foca em 2020, Foca em 2021 e etc… Recebo convidados e relembramos os momentos que marcaram da cultura pop no ano, de uma maneira divertida, com dinâmicas e entrevistas. É uma produção bem grande e eu fico muito feliz que, em todos os anos, tive apoio de marcas. Em 2020, tivemos Telecine e C&A, em 2021, tivemos Globoplay e TikTok. Vamos ver o que rola em 2022!

Qual foi o momento da sua carreira, tanto de jornalista quanto de influenciadora, que mais te marcou?
Com certeza apresentar a transmissão do Rock in Rio no canal Multishow em 2019. Era um sonho! Além disso, participar como comentarista no Plantão BBB, programa da Ana Clara na TV Globo, e, atualmente, tenho um programa de entrevistas no Gshow, portal da Globo, chamado Foquinha no Gshow, onde eu promovo encontros inusitados entre duas personalidades em comum. É muito especial relembrar minha trajetória e pensar que eu lancei o meu canal no YouTube, em 2015, visando levar o projeto para a televisão e que, hoje, depois de mais de 7 anos, eu trabalho na televisão por causa do meu canal.

O que você leva em consideração na hora de começar uma parceria ou fazer uma publicidade com alguma marca/empresa?
Para mim, o trabalho precisa ser uma parceria entre eu e a marca, ou seja, pra mim, não vale ser uma “imposição”. Gosto de criar e de realizar os trabalhos da mesma maneira como produzo os meus conteúdos orgânicos. Por exemplo, prefiro criar os roteiros das publicidades em vez de receber algo pronto e apenas reproduzir. Precisa ter troca, preciso me sentir confortável, e precisa ter a minha cara. Jamais vou fazer um trabalho que não tem a ver comigo e com o que acredito.

Você faz grandes produções no seu canal, como nos vídeos de evolução das drag queens, filmes de terror e do rock. Isso também reflete nas campanhas publicitárias que você faz?
Sim, inclusive adoraria que as marcas investissem nessas produções — é um investimento próprio mesmo. Mas eu trabalho da mesma maneira quando se trata de um conteúdo orgânico e de uma publicidade.

Você tem vários projetos, quadros no canal, podcast, campanhas etc. Como você divide o seu tempo para dar conta de tudo?
Eu tenho um cronograma bem-organizado em relação a tudo: canal, redes sociais, podcasts, trabalhos e vida pessoal. Toda semana eu e minha equipe batemos os cronogramas. Se não estiver tudo organizado, eu fico doida!

Você tem um posicionamento muito claro nas suas redes sociais. Isso já influenciou o teu relacionamento com marcas e/ou empresas?
Eu acredito que muitas marcas levam isso em conta na hora de contratar (ou não contratar) criadores de conteúdo. Eu sempre tive um ótimo relacionamento com as marcas e sei que muitas gostam de trabalhar comigo também pela minha responsabilidade e meus posicionamentos (que não se restringem apenas sobre em quem eu vou ou não votar nas eleições, afinal política vai muito além disso). Eu me posiciono desde sempre e não costumo ter uma reação negativa por parte das marcas. Fiquei sabendo apenas uma vez que uma marca não quis trabalhar comigo por conta do meu posicionamento — e aconteceu na semana passada. Por outro lado, eu mesma já deixei de trabalhar com marcas que têm posicionamentos e ideias que vão contra ao que eu acredito.

Como você se enxerga como marca?
Me enxergo como uma marca com credibilidade, responsabilidade e com originalidade em sua essência. Uso das tendências a meu favor, mas com o objetivo de sempre fugir do lugar comum, com a preocupação constante de se renovar e entender as novas demandas do público. Atuando em diversas frentes, redes sociais, podcast, YouTube e TV, mantenho como característica principal a de trazer a informação com credibilidade e de maneira analítica, leve e descontraída. Depois de 7 anos de marca, sinto que todos esses fatores contribuíram para que meu conteúdo se tornasse referência no mercado de entretenimento digital.