Foi trabalhando na Paraíba, lá no comecinho dos anos 2000, que escutei a expressão pela primeira vez. Saiu da boca do governador do estado que, incomodado com as idas e vindas do interlocutor, interrompeu a conversa com seu forte sotaque nordestino: “ocê tá fazendo o ôitio”.
Mais tarde, escutaria a expressão outras vezes em outros lugares e acabaria também por adotá-la. Para quem não está familiarizado, “fazer o oito” é ficar indo e voltando em alegações, na tentativa de defender uma posição, se utilizando sempre dos mesmos argumentos.
Jamais imaginaria que, 20 anos passados, viveria para testemunhar o protagonismo do “oito” na comunicação. Desde bem jovem, e por anos a fio, assistir ao Jornal Nacional diariamente, ao Fantástico no domingo e ler a Veja no fim de semana, só para dar alguns exemplos, eram hábitos infalíveis para mim.
Tinha sede de novidades. E elas vinham pelos mais diversos canais, inclusive os mais comuns. Durante a ditadura, buscar informação qualificada se tornou um desafio empolgante, fosse nas entrelinhas dos meios convencionais (e isso era fascinante).
Desde antigamente, mas até hoje, prefiro ler sobre a direita em publicações de esquerda e ler sobre a esquerda em publicações de direita, “dando um desconto”, fosse vasculhando jornais e revistas alternativas no fundo das bancas ou, ainda, garimpando as ondas curtas do velho rádio Semp à válvula, da minha avó, onde Voz da América, BBC, rádio Moscou e rádio China Internacional, revelavam aspectos da polarização da guerra fria. Sempre corri atrás da informação fresca e da opinião acreditada, evitando a doutrinação pura e simples. Uma prática comum e necessária para que me situasse no mundo e na vida.
Inspirava reflexão, induzia à manifestação de um ponto de vista e exercitava o cérebro com diferentes visões sobre os fatos. Hoje, estamos diante de um gigantesco oito. Certamente, a pandemia justifica o tratamento preferencial do tema em todos os meios.
Bem como, no Brasil, as alucinações de um presidente visivelmente psicopático não podem ser ignoradas nem subestimadas. O problema é que a informação vem sendo substituída por um jogo de ataque e defesa que sequer traz a criatividade do futebol. Lá se vão muito mais do que 90 minutos de um zero a zero repleto de caneladas.
De um lado, temos a apropriação, ainda que devidamente, do bom senso, por uma parte da mídia que usa a sua força corporativa para sustentar a posição, e de outro, um grupo interessado em proteger não necessariamente o presidente, mas o conservadorismo que
ele representa, por até agora não ter encontrado um representante mais acreditado que se disponha a assumir as suas crenças controversas.
Tudo o que se ouve e lê traduz um instante desse embate. De novidade, muito pouco e quando aparece, rapidamente cai numa repetição tão massacrante, que logo a envelhece. Como se, lado e outro, estivessem fazendo da informação, basicamente, linha e agulha para reforçar os remendos das suas versões. Levando a esse tedioso oito com que nos deparamos diariamente.