Eu me lembro que quando comecei a trabalhar nesse mercado, há mais de 15 anos, as produtoras trabalhavam com campanhas milionárias, de orçamento aberto e diretores que muitas vezes eram mais reconhecidos do que as próprias celebridades. Existia muito glamour e isso era muito comum no nosso mercado.
Hoje já não é mais assim. Os clientes estão muito mais conscientes de suas verbas e, consequentemente, as agências também. Eles sabem o que querem e o que vão desenvolver. Quase chegam com tudo pronto, esperando que esse mesmo olhar “consciente” venha das produtoras. Temos que ter um olhar muito mais criativo e muito mais apurado para entregar um trabalho verdadeiro e coerente, adequado às novas realidades do mercado.
É o que passamos a chamar aqui de inteligência de produção. A Corazon, nesses dois anos de vida, tem se dedicado justamente a estar preparada para essa nova era, em que o mercado está em constante transformação. Ou seja, é preciso aderir uma nova maneira de pensar num projeto, para entender o que um filme de fato necessita. E o budget deve ser aplicado justamente no que realmente importa.
Além disso, grandes mudanças de cultura e comportamento passaram a refletir na publicidade ao longo dos anos. O espectador tem procurado cada vez mais pela verdade. Ele não acredita mais na propaganda que engana ou esconde algo. O tempo todo ele quer se reconhecer nos comercias.
Esse tipo de coisa fez com que o mercado – e isso inclui as produtoras – entendesse que precisava de diversidade dentro de casa, antes mesmo de tentar imprimi-la em seus trabalhos. A Corazon, que tem no seu DNA um olhar apurado para revelar novos talentos, foi uma das pioneiras ao contratar diretores negros e diretoras mulheres, por exemplo, além de ter sido a primeira produtora premiada com um Leão em Cannes na categoria Glass, que reconhece justamente trabalhos relacionados à Igualdade de Gênero.
Mais recentemente, apresentamos a dupla Beta King, formada pela nova diretora, Beta Harada, ex-diretora de criação no mercado de agências, e pelo já conhecido Premier King (Caio Quintanilha), que já vinha trilhando carreira conosco. E por que tivemos a ideia de uni-los? Justamente para quebrarmos novos paradigmas.
Reunimos nessa parceria entre eles, que tem histórias bem diferentes, a experiência de quem estava mais ligada aos negócios e à estética das marcas dentro das agências (Beta) e de quem sempre esteve com o olhar mais cru ‘nas ruas’ (King), com o objetivo de apresentar uma dupla e novo talento para os trabalhos de moda e beleza da produtora. São diretores que, juntos, vão somar o conhecimento sobre os processos do mercado, das agências e dos clientes com o que o consumidor está falando no dia a dia, nas ruas, nos bares, nas escolas, nas redes digitais, no trabalho, nos momentos de lazer e entretenimento, etc.
A cada ano que passa o mercado sofre mais uma transformação e nós nos adaptamos e evoluímos junto, lançando novas tendências, talvez?! Por que não!? É super interessante ver que estamos em um momento completamente diferente do que estávamos há 10 ou 15 anos. E que as novas produtoras já chegam com esse novo mindset, esse novo olhar e cultura de negócios moldáveis e adaptáveis às demandas dos clientes, com a responsabilidade de fazer sentido a quem mais importa para o mercado: o consumidor final, ali atrás de uma tela – seja ela de uma TV, cinema, computador, smartphone, tablet ou qualquer outro dispositivo.
*CEO da Corazon Filmes