Nas últimas quatro décadas, a partir do emblemático ano de 1968, os seres humanos resolveram aproveitar tempos de relativa paz – diante das duas primeiras guerras – e tratar de ganhar dinheiro, muito dinheiro, e se preservar. A fúria foi tanta que os bilionários cresceram, se multiplicaram, e passaram a deter uma parcela expressiva das riquezas do mundo. Não contavam com a morte.
E, um dia, conforme previsto, vício inerente à vida, morreram! E seus sucessores e herdeiros decidiram refletir sobre o sentido da vida. É o que vem ocorrendo. Não acredita? Prepare-se. É como cada vez mais será o mundo daqui para frente. É para onde caminha a humanidade.
Os grandes grupos, as holdings, as ultramegabrights corporações ingressam em processos de derretimento, não necessariamente insolvência. As novas empresas são mínimas, embora trabalhem de forma colaborativa com milhares ou milhões de pessoas e outras empresas.
Os ganhos de escala – exclusivamente em processos produtivos e decorrentes de avanços infinitos da tecnologia – reduzirão preços com velocidade quase igual ao que aconteceu com microchips desde o 4004 da Intel, em 1971. Em paralelo, da mesma forma que no 4004, multiplicarão a quantidade e qualidade dos serviços agregados.
Em 2050, ser muito rico, não será mais ser bilionário. Qualquer milhão de dólar fará uma pessoa ou família ser digna de grande respeito e maior admiração. E, espero, de nenhuma inveja. Ser Jorge Paulo, Eike ou André cairá de moda. Muitos até se lembrarão e se compadecerão deles: “coitados, nunca souberam o que é viver…”.
Nada é para sempre. Nada é para a vida inteira. O prazer não reside mais no ter e, sim, no dispor. A felicidade concentra-se exclusivamente em ser, em ser feliz. A redescoberta da morte acende a luz que o desespero de novas guerras e a necessidade de ter apagará dentro de nós. Em fim, redescobrimos o sentido de nossas existências.
Objetos de desejo e adoração pelos quais nos dispúnhamos a fazer o que quer que fosse não valem mais nada. Nem mesmo os jovens sonham com automóveis. De primeiríssimo lugar nos shopping lists deles, caiu para a sétima ou oitava posição. E mesmo aqueles que, em algum momento de suas vidas, imaginaram ter uma ilha onde só desembarcariam pessoas queridas e convidadas, em que ninguém meteria o bedelho, desistiram por completo.
Ainda outro dia, li matéria do The Economist que falava que os grandes compradores de ilhas dos dias que vivemos são instituições e ONGS. Compram para preservar. Essa mesma matéria contava sobre a badalada e disputada ilha de Little Bokeelia, na Flórida, com quadras de tênis, piscinas, magnífica mansão em estilo espanhol e festas feéricas e monumentais, colocada à venda em 2012, só encontrou comprador no mês de julho de 2015, por um valor 50% menor do que o pedido pelo proprietário.
Se possível fosse em uma foto concentrar a maioria das ilhas e atóis das Bahamas, concluiríamos que todos, pelas placas, têm a mesma denominação: vende-se.
A matéria diz “no início deste século, as ilhas eram o xodó dos milionários”. Pouco mais de 15 anos depois, viraram mico. A nova consciência decorrente da redescoberta da morte faz, neste momento, todos reconsiderarem seus valores, o que verdadeiramente conta e é importante. E aí a conclusão é unânime nas pessoas na plenitude do juízo: ser feliz.
Um lindo e feliz 2016!
Francisco A. Madia de Souza é consultor de marketing, sócio e presidente da MadiaMundoMarketing