Outro dia, convidado, fui conhecer uma startup. Ficava num destes galpões modernosos, compartilhados por outras startups e alguns coaches, em coworking. Numa sala de 3 por 5 metros, alguns rapazes simpáticos esmeravam-se no desenvolvimento de uma “solução”.
Para não ser descortês, não vou entrar em detalhes aqui que possam identificar de quem se trata. Só quero, na verdade, confessar minhas impressões sobre uma manhã de reunião nesse ambiente e com essas pessoas. Tudo começa num bate-papo casual com velhos conhecidos.
A conversa enveredou para o mundo digital e fiquei sabendo que estavam investindo na tal startup. Ignorante sobre o assunto e, ao mesmo tempo curioso, fiz meia-dúzia de perguntas estúpidas que geraram o convite para conhecer o projeto. O ambiente do galpão logo me cativou, com o seu clima de informalidade educada.
A arquitetura e a decoração me remeteram às agências descoladas dos anos 1990. Com uma diferença importante no comportamento das pessoas. Embora todos fossem jovens, mas jovens mesmo e vestindo uma indumentária bastante despojada, não detectei o mínimo sinal de vaidade em ninguém. Zero de estrelismo. Se tivesse de defini-los numa palavra, a que me ocorre, inclusive para minha surpresa, é operários. Em vez de macacões e capacetes padronizados, usavam bermudas, camisetas e bonés diversificados. Meninas e meninos simpáticos e, quem sabe, um pouco apáticos.
Todos a quem fui apresentado me trataram com respeito e deferência, embora não tivessem a menor ideia de quem eu fosse. Pressinto que era percebido, na melhor das hipóteses, como uma “raridade exótica” por ali. A reunião estava pautada para a apresentação da “solução” para mim. Os investidores fizeram as devidas introduções.
Fiquei constrangido com os elogios à minha história profissional, afinal, para aqueles jovens, o currículo narrado não deveria significar absolutamente nada. Como estavam sob o olhar dos investidores, mostraram-se outra vez bastante reverentes, o que me constrangeu ainda mais. Iniciada a apresentação, no entanto, uma profunda transformação começou a ocorrer na minha mente.
Nos primeiros dez minutos, fiquei confuso, perturbado mesmo, com a possibilidade de alguma coisa estar me escapando, pois tudo me parecia bastante elementar. Mas na medida em que a exposição avançava e se mantinha no mesmo patamar de, digamos, simploriedade, fui me sentindo um pouco mais seguro. Tratava-se, até onde entendi, de uma coleta de dados de fontes diversas para ser filtrada à luz de diversas condicionantes, na perspectiva de gerar leads.
Ao final, ficamos nos olhando, eu experimentando um leve sorriso de aprovação, com o cuidado de continuar sendo (e parecendo) o leigo que sou. Um bom dinheiro está sendo investido no desenvolvimento da “solução”. Não sei por que diabos um dos investidores perguntou o que eu achava. Como o piloto de um avião em pane, tive dois segundos para decidir e dei a pior resposta possível: interessante. Espero não ter melado o negócio da rapaziada.
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing (stalimircom@gmail.com)