Fui incumbido de liderar um think tank sobre o futuro de um setor. Uma grande responsabilidade que, felizmente, dividirei com líderes do MICE (Meetings, Incentive, Conferences, Exhibitions). Os resultados serão apresentados no Congresso MICE Brasil 2019, que é organizado pelo grupo EventoFacil, em paralelo à Feira EBS, nos dias 5 e 6 de junho.

A nossa árdua tarefa será vislumbrar o futuro do segmento e apresentar os insights no congresso. Digo árdua, por tratar-se da tentativa de desvendar o futuro. A ideia é pensar no futuro próximo – 2020 –, mas ter também olhos visionários, imaginando as décadas que vêm por aí. E é aí que o bicho pega…

Num mundo no qual somos assolados por novidades todo o tempo e, ao mesmo tempo, impactados por incongruências e idiossincrasias difíceis de interpretar, como prever dez, 20 anos à frente?

De cara temos de confrontar razão com emoção. Por um lado, há, no mundo, uma corrente pragmática, que induz a movimentos racionais. É o que faz, por exemplo, crescer o movimento mundial de direita, xenófobo, frio, protecionista.

Por outro lado, há uma corrente mais sensível, clamando por uma sociedade mais engajada nos problemas internacionais. É a corrente do propósito e do engajamento social. Outro conflito é o high tech x high touch. Do outro lado da balança da tecnologia, cada vez mais onipresente e integrada às nossas vidas, está a preocupação com os valores humanos.

Teremos ultra/megadata disponível. Dados que, como um Big Brother do século 21, serão capazes de acompanhar a vida de todos, prevendo seus próximos passos e atos, se aproveitando dessa capacidade preditiva para negócios. Só que, como contraponto, a sociedade reage e estabelece suas regras de privacidade de dados.

Nesse campo, a LGPD, lei brasileira de proteção de dados, estará em vigor em 2020. Mas será suficiente? Com objetos “falando” entre si – graças à IoT – e a Inteligência Artificial cada vez mais poderosa, conseguiremos privacidade?
Afinal, se quisermos contar cada vez mais com Apps para facilitar a nossa vida, precisaremos ser mais condescendentes com nossos dados.

Hoje, podemos pedir comida, transporte, entregas, hospedagem e muitos outros serviços com um simples clique. O que mais teremos facilitado no futuro? A que preço? E as consequências não estão restritas à privacidade.

Pensemos nas modificações no campo da ocupação/emprego. Estudos demonstram que serão os menos instruídos os que sofrerão mais com o desemprego nesse movimento de substituição gradativa de pessoas por máquinas.

E o que se espera é que essa substituição se intensifique muito mais no futuro próximo. Ouvi, num evento recente, a seguinte constatação: “Você não vai perder o emprego para uma máquina, mas para uma outra pessoa que saiba lidar com as máquinas melhor do que você”.

Mas quantos poderão se qualificar para ocupar as vagas mais qualificadas que se prevê criar? No campo da saúde, afirma-se que já nasceu o ser humano que viverá mais 100 anos com qualidade.

Já no início da próxima década espera-se que as pessoas possam ser monitoradas 24 X 7, com o simples uso de uma pulseira sensível.

A realidade virtual e a aumentada revolucionarão ainda mais o entretenimento e as experiências pessoais. Mas não só o entretenimento. Esses recursos, cada vez mais sofisticados e acessíveis, estarão presentes também na medicina, arquitetura, manufatura e turismo. Como lidarão as pessoas com a possibilidade de se viajar para qualquer lugar sem sair do local?

Quais serão as consequências de mergulhar na fantasia de realidade mista? Como serão as conexões pessoais num mundo de valorização de likes virtuais? E os eventos presenciais?

Serão extintos com a possibilidade de se criar avatares virtuais e a de se colocar palestrantes “aparecendo” na frente das pessoas holograficamente? Ah! O futuro… Tarefa difícil interpretá-lo.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)