Ainda impactado pelo Cannes Lions Festival, que acompanhei in loco e intensamente, e pelo Design Thinking Propaganda, projeto da Fenapro que coordenei recentemente, me veio o tema deste artigo. Seria chover no molhado falar da importância da sharing economy, da força do Airbnb, do Uber e de outras plataformas que surgem, tendo como base a atuação compartilhada, colaborativa.
Mas um encontro organizado recentemente pelo LinkedIn, do qual participei na semana passada, apresentando os resultados do projeto Design Thinking, reunindo agências de propaganda em sua simpática sede, trouxe de volta uma discussão acalorada sobre o modelo atual das agências e o seu futuro perante as constantes mudanças que são impostas pelo mercado.
É uma discussão sem fim, que incomoda as agências pela dificuldade de se encontrar um modelo definitivo, capaz de garantir rentabilidade e a consequente sustentabilidade das agências.
Sentados ali, em círculo, num ambiente descontraído, permitindo que todos os presentes dessem sua opinião, me veio a figura da Távola Redonda, que já havia aparecido nos exercícios do Design Thinking.
A história do rei Arthur e seus cavaleiros tem diversas versões, mas me prendo ao seu conceito básico, que é o de reunir em torno de uma mesa redonda cavaleiros extraordinários, cheios de habilidade e coragem para enfrentar os inimigos mais poderosos.
Não consigo deixar escapar uma analogia com os tempos de hoje. Nunca se precisou tanto de espírito guerreiro como agora. E nunca integração e cooperação foram tão valorizadas. E como os reis Arthur de hoje, líderes de agências, deveriam criar suas távolas redondas?
Poderiam começar, por exemplo, quebrando paredes e barreiras entre departamentos. Colocar todos em távolas redondas, onde os líderes de cada área da agência discutem seu plano da batalha do dia a dia. Sempre juntos e misturados.
Essa mesa redonda deveria prever também lugares para convidados de fora da agência. Lugares (nobres) reservados para o cliente, mas também para fornecedores, veículos, desenvolvedores de ferramentas digitais e de conteúdos especiais, de entretenimento, startups, enfim… uma mesa onde role a colaboração e o trabalho compartilhado, de maneira fluida e transparente.
Você poderá dizer que essa situação já existe, que profissionais se reúnem frequentemente em torno de problemas e desafios comuns. O problema é que tais reuniões são momentos formais, quando cada parte defende seus pontos de vista e, terminado o encontro, todos voltam para seus domínios e se encastelam novamente, defendendo seus territórios como se fossem feudos.
Atendimento atende, planejamento planeja, criação cria, mídia medeia (?), produção produz e cliente paga. Não é assim? O pensamento de uma grande mesa redonda surge para transgredir esse caminho linear, viciado, com stakeholders presos inapelavelmente aos seus papeis.
Os caminhos disruptivos que começam a surgir propõem formatos e processos descondicionados. Quem disse que só as prima-donas da criação podem criar as melhores soluções?
E se um guerreiro destemido, integrante da comunidade dos clientes (ou do cliente do cliente) tiver uma boa ideia? E se a boa ideia vier do cavaleiro da tropa dos veículos?
A mesa redonda, no seu sentido figurado, deve ser vista como um círculo de colaboração que extrapola as funções da agência. Aliás, que extrapola os muros da agência.
Uma mesa sem limites, que explora a beleza do mundo colaborativo, do mundo sem fronteiros, onde guerreiros se encontram para vencer uma luta que é de todos, por um bem maior.
Você pode não ter um sir Galahad entre seus cavaleiros e nunca encontrar o Santo Graal, mas a távola redonda dos nossos dias poderá fazer você vencer boas batalhas nesses tempos tão desafiadores.
Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda)