A digitalização de tudo e as mudanças do comportamento de consumo vêm mudando não só a forma de pensar as estratégias de uma empresa, mas a maneira como estruturam, operam e constroem suas equipes. No marketing, por exemplo, grandes anunciantes optaram, por vezes, construir suas houses. Era a eterna discussão do trabalho com agências de propaganda versus in houses. A potencial redução de custos colocava em risco a capacidade criativa e de inovação da marca. Mas essa lógica de terceirizar ou ter tudo em casa, não faz mais sentido.

Se antigamente o marketing, o trade, o comercial etc. funcionavam isolados e com foco em vender os produtos das empresas, hoje o digital mudou as regras do jogo e se tornou o fio condutor da estratégia da companhia. Esse cenário exige a profundidade e a proximidade de times internos, com a altíssima especialização de times externos, formando um só grande time híbrido.

O digital renovou a forma de pensar e agir; trouxe tecnologias antes inexistentes, que obrigam dados a serem centralizados e processos interligados pela automação. A digitalização passa por todas as áreas de uma empresa, direcionando a estratégia central da marca para o consumidor, que está no centro de tudo. É necessário encarar os fatos: essa reconstrução estratégica e operacional demanda não só mais “cabeças pensantes”, mas também novas “cabeças operantes” em um mundo invadido por novas disciplinas oriundas das transformações que vivemos.

Como as marcas vão absorver conhecimentos de disciplinas como e-commerce, consumer journey, marketplace, data modelling e programática, para estarem presentes em suas novas estratégias de negócios? E como serão líderes, nos seus segmentos, nas estratégias e operações de SEO, CRM, digital analytics, mídia, performance, trade digital e tantas outras? Avançar na maturidade digital de uma empresa não é simplesmente abrir dezenas ou centenas de vagas de profissionais da era digital. Pelo contrário, a mudança começa por dentro: treinar e desenvolver a força de trabalho que a empresa já possui. Nesse processo, todos precisamos reaprender a aprender.

Com a experiência de quem vive isso há mais de 20 anos, a evolução da maturidade digital das empresas só acontece com a renovação do conhecimento do time atual, e com o crescimento orgânico de times com conhecimentos em muitas dessas novas disciplinas digitais. Esse equilíbrio é fundamental e depende do momento de cada empresa. Um erro neste caminho da digitalização é a marca deixar de focar no seu propósito para pensar que está numa corrida sem fim pelo inexistente título de “a mais tech” do momento. Tudo que tira o foco do consumidor no centro das estratégias vai contra esse objetivo.

Por exemplo, colocar energia em desenvolver uma plataforma de e-commerce ou operar internamente boa parte das disciplinas digitais – complexas e densas – não é “trazer o core digital para dentro de casa”, mas sim perder o foco e perder performance. Dizem por aí que a união faz a força, mas é necessário ir além: a união traz possibilidades. Vivemos num período de transformações constantes, em que as áreas corporativas estão cada vez mais híbridas – e, agora, parcialmente remotas. Lembre-se: o digital se tornou core, mas “o digital” em si não é uma coisa, é um conjunto ilimitado de áreas de conhecimento, que se renovam todos os dias. Invista em desenvolvimento dos times atuais, traga novos talentos nativos digitais e trabalhe com os melhores parceiros em transformação digital.

Thiago Bacchin é CEO da Cadastra