Em uma cena logo no início de Mulher-Maravilha (Wonder-Woman), a jovem princesa Diana está sendo treinada pela sua tia, a general Atiope interpretada por Robin Wright. Enquanto lutam, a guerreira amazona fala para a menina: “Você é mais forte do que acredita. Você tem poderes maiores do que imagina”.
Esta cena, que para muita gente pode passar batido, ecoa na minha cabeça até agora e me lembrou da campanha #LikeAGirl, que a marca de absorventes Always lançou há alguns anos. No vídeo, mulheres, homens, meninos e meninas aparecem em um estúdio fazendo um teste de elenco. Quando a diretora fala “corra como uma menina; lute como uma menina; arremesse uma bola como uma menina” o impulso inicial é fazer um movimento delicado, fraco, sem jeito. Menos para as meninas, que dão seu máximo.
A propaganda vinha acompanhada de dados, provando que é na puberdade que as meninas param de acreditar em si mesmas. É exatamente este um dos pontos que o movimento feminista atual vem combatendo. E vemos inúmeras vezes no filme que a Diana Prince aprendeu bem com sua tia. Ela não duvida de si e esta lição certamente vai servir de inspiração para tantas meninas que já foram ver o filme e todas as outras que ainda verão, seja no cinema ou em casa depois.
Eu, homem criado nos anos 80, nunca tinha parado para pensar no tanto que era errado falar que alguém “parece uma menininha”. Até minha filha nascer. Até minha esposa começar a me mostrar o mundo machista em que vivemos. Ainda estou aprendendo e quero ajudar nesta mudança, por elas e por um mundo melhor, mais equilibrado e honesto.
Se eu acho que um filme pode mudar isso? Claro que não! Mas já é um começo. Até pouco tempo, a regra em Hollywood era que filmes de ação com protagonistas femininas eram sinônimo de fracasso. Mas as primeiras semanas em cartaz já provaram o contrário.
Agora, as meninas não precisam mais colocar o lençol no pescoço e falar que são o Batman ou o Superman. Elas podem falar que são fortes como a Mulher-Maravilha. Ter um ícone destes como exemplo muda tudo! Basta ver o que aconteceu no jardim de infância de uma escola nos Estados Unidos, cuja rotina virou mais do que a Lynda Carter na série de TV nos anos 1970 depois da estreia do filme. Uma das funcionárias do local colocou em seu Tumblr frases como:
- Um menino obcecado por Homem de Ferro disse que pediu uma lancheira da Mulher-Maravilha;
- Uma menina me disse que quando crescer quer falar uma centena de línguas, como Diana;
- Sete meninas que estavam brincando no intervalo e queriam ser a Mulher-Maravilha, chegaram a um acordo que todas poderiam ser Amazonas, parar de brigar e trabalhar juntas para combater o mal;
- Um garoto jogou papel de bala no chão e ouviu da coleguinha ‘Não jogue lixo no chão, seu bobo, é por isso que não tem homens em Temiscera’.
“Tenha em mente que este filme mudou completamente a forma como estas meninas e meninos se veem e veem o mundo em apenas uma semana. Imagine o que a próxima geração vai conseguir se nós dermos a eles mais filmes como Mulher-Maravilha”, disse a moça que fez o post, chamada Kassel, de 20 anos.
O bom é que a Mulher-Maravilha já volta aos cinemas em novembro, ao lado dos outros membros da Liga da Justiça. E para os próximos anos, a Marvel promete mostrar também o seu #GRLPWR com os filmes da Vespa, ao lado do Homem-Formiga, e da Capitã Marvel, respectivamente programados para 2018 e 2019.
* Marcelo Forlani é sócio-fundador do Omelete Group, pai de dois filhos (Theo e Liz) e hoje está mais interessado em um avião invisível do que em um batmóvel.