Uma das frases mais burras que se diz na propaganda é que ela seria uma profissão melhor e mais divertida não fossem os clientes. Acho que revela de saída uma tremenda incapacidade de entender as coisas, além de ser profundamente injusta.
De minha parte, não tenho nada a reclamar desse convívio. Estou puxando o saco? Seguramente sim, mas jamais na minha vida toda tive um único momento de vergonha de ser puxa-saco de cliente. Não fossem eles, eu estaria fazendo o que nessa perra vida? Bem, mas o propósito disto tudo é introduzir minha história.
Uma vez meu sócio e eu concluímos que não valia a pena ter um cliente, aliás, um curso de inglês. O tal cliente era duro na queda, vivia reprovando tudo, era complicado, grosso com o pessoal do atendimento, desconfiado, reclamava o tempo todo e, além do mais, não dava lucro. Depois de um, dois ou três anos tomando coragem, pois a gente nessa hora é muito macho, resolvemos ir os dois até o cliente e abrir mão da conta. Claro que na hora inventamos um milhão de desculpas, fomos extremamente delicados, elogiamos a empresa dele e demos uma razão aparentemente justa para anunciar nosso propósito de sugerir que ele procurasse outra agência para atender sua conta. Imagine nossa surpresa quando o cliente negou-se a ser dispensado!
Quase ficou puto. Deu dezenas de diferentes motivos para recusar-se a ser recusado. Falou de aumento de verba, mudança de comportamento, novas perspectivas de mercado, sonhos e promessas para o futuro. Nós quase choramos de vergonha. Como, algum dia, pudemos pensar em deixar uma empresa e um homem com tantas qualidades? Eu me senti, particularmente, um filho da puta ingrato. Que pessoa! Que visão empresarial! E – sobretudo – que amor por mim, pelo meu sócio, pelos meus colegas, pelo meu trabalho!
Não é preciso dizer que quase ajoelhei e beijei seus pés, agradecido. Imediatamente, como prova do que estava falando, o cliente passou um briefing para a próxima campanha: sem limite de verba, sem limite de criação, uma campanha para marcar época no mercado de educação no Rio, no Brasil e no mundo!
E, de alma leve, voltamos para a agência. Botamos três duplas para trabalhar e criamos quatro companhas diferentes, juro por Deus, uma melhor do que a outra. Duas semanas depois, voltamos para o tal curso com um puta de um trabalho. Na reunião de apresentação apareceu uma senhora que foi anunciada como vice-presidente de didática ou qualquer coisa assim. Bem, em resumo, passamos algumas horas mostrando em detalhes nosso esforço em corresponder às expectativas de tão importante estabelecimento de ensino. Após nosso show, um puta de um silêncio e o cliente prometeu nos dar a resposta no dia seguinte, depois de uma reunião interna. Não tivemos que esperar muito. Recebemos email da tal professora cagando na nossa cabeça.
O mais gentil que dizia a tal carta era sobre o espanto que tinha causado uma empresa do porte da nossa apresentar um material tão ruim. Primário, imbecil, sem graça, sem apelo, sem criatividade. Um email enorme, uma esculhambação em regra. Conclusão: a última palavra tinha sido a do cliente. Nos mandando à merda. Para largarmos de ser metidos a besta.
*Para entrar em contato com o autor, escreva para lulavieira@grupomesa.com.br