O Grupo Accor pretende dobrar de tamanho no Brasil nos próximos três anos. A companhia francesa, que reportou receita de € 6,1 bilhões no ano passado, planeja saltar dos atuais 149 hotéis no país para 300 até 2015. A meta será cumprida com forte expansão de Ibis, masprincipalmente pelo fortalecimento de bandeiras de três e quatro estrelas, como Mercure e Pullman, e pelo ingresso de novas marcas, como MGallery, que chega ao Brasil neste ano. O plano deve consumir R$ 1,3 bilhão em investimentos por meio de parceiros do grupo. Para liderar o desenvolvimento das três, há dois meses o francês Patrick Mendes foi trazido ao país. Em entrevista ao propmark, o executivo fala sobre a abertura de novos empreendimentos e do trabalho de construção de identidade das marcas. “Todas as oportunidades de desenvolvimento estão sendo avaliadas”, afirmou.
A Accor o trouxe ao país para coordenar as bandeiras Mercure, Pullman e MGallery. Quais são os principais objetivos para as três marcas nos próximos anos?
O objetivo é muito simples: meu papel é assumir a diretoria dessas três fortes bandeiras do grupo Accor para a América Latina. O primeiro passo é desenvolver as marcas e aumentar o número de hotéis. O segundo objetivo é aumentar o número de marcas e bandeiras que vamos desenvolver na região. Temos 60 unidades de Mercure no Brasil, número que sobe para 63, considerando outros países da América Latina. Estamos presentes com uma unidade de Pullman no Brasil e outra na Argentina. A MGallery ainda não existe no país, é uma nova bandeira. Ela é um pouco mais luxuosa e está posicionada entre Sofitel e Pullman, dentro do conceito “hotéis-boutique”. Para trazê-la, procuramos hotéis já existentes a fim de convertê-los. Podemos imaginar a construção de novos empreendimentos em parceria com investidores, mas o foco é realizar conversão em grandes cidades, como Salvador (BA), Recife (PE) e São Paulo (SP), o mais rapidamente possível, ainda em 2012.
O Grupo Accor tem um plano de investimento bilionário no país e meta de crescimento até 2015. Quantos novos hotéis devem ser lançados nos próximos anos e quantos devem estar em funcionamento até a Copa do Mundo?
O plano para Brasil e América Latina é abrir de dez a 12 hotéis até 2015. Para Mercure, são sete em implantação previstos até 2014. Em algumas semanas, teremos aberturas em Goiânia (GO) e, entre julho e agosto, haverá lançamento em Salvador (BA). Esses são projetos já firmados, mas há oportunidades que podem aparecer. O plano é sete, mas minha previsão é de, no mínimo, duplicar esse número até 2015. O Grupo Accor pretende abrir no Brasil de 30 a 40 hotéis nos próximos quatro anos, sendo 15 unidades da bandeira Mercure, dez da Pullman e dez de MGallery. Temos 63 unidades dessas marcas da Accor no Brasil e queremos chegar a 100 nas categorias midscale e upper midscale.
O projeto de crescimento do grupo tem ligação com grandes eventos que irão ocorrer no país ou faz parte de expansão natural da marca?
Nós não apostamos em eventos de curto prazo para fazermos investimentos. Seria muito pouco responsável. No entanto, esse tipo de acontecimento ajuda empresas a instalarem-se no Brasil e a aumentar os aportes que fazem, mas não posso dizer que a Copa do Mundo é que está fomentando a expansão da Accor. Temos crescimento previsto para o país nos próximos quatro a cinco anos porque o Brasil tornou-se uma das economias mais interessantes do mundo. Ela é hoje a mais dinâmica e a com mais meios financeiros, e essa é a verdadeira razão. A Accor está revitalizando os hotéis da bandeira Mercure.
Quanto da rede está sendo renovada?
Renovamos 60%. O processo demandou dois anos de trabalho e irá continuar em 2012 para atingir 100% da bandeira. Compramos serviços de arquitetos renomados para reformar os hotéis, cujos apartamentos não têm mais nada a ver com os de dez anos atrás. Para se ter uma ideia, desde que a modernização teve início, já foram investidos aproximadamente R$ 120 milhões por meio de parceiros.
A Pullman chegou ao Brasil no ano passado com o conceito de atender business travellers, mas está restrita a São Paulo. Como será a expansão da marca?
O objetivo com Pullman é abrir de sete a dez hotéis nos próximos três anos. Já temos duas unidades na região, em Rosário (Argentina) e São Paulo (Pullman Ibirapuera), e lançaremos uma nova em Belo Horizonte (MG). Procuramos empreendimentos de quatro ou cinco estrelas com capacidade grande [para realizar conversão]. Uma boa flagship na América Latina é o Pullman Ibirapuera, um antigo Mercure que reformamos completamente.
Qual é o tempo de conversão, entre analisar um projeto e lançar unidade reformada?
É rápido, menos de quatro meses, porque estamos muito seletivos. Sabemos exatamente o nosso alvo, os padrões e o tamanho dos apartamentos que um hotel de luxo precisa ter. Com pouco investimento, um hotel independente que pertença à outra bandeira pode transformar-se em MGallery, porque já temos os referenciais da marca, o que facilita a implementação.
Sobre o fortalecimento dessas marcas, o que será feito para que fique claro a identidade de cada uma?
Esse é um dos trabalhos mais importantes que temos a fazer. A minha chegada [ao Brasil] é uma maneira de introduzir novas marcas na região. Há o lado positivo, de gerar novas oportunidades para investidores, mas o aumento de bandeiras traz, também, um pouco de confusão. Nosso papel agora será explicar ao mercado quais são as marcas e seus diferenciais. Do lado do marketing, o primeiro passo será qualificar, para o investidor e para o cliente, quais são os diferenciais de cada bandeira. Do lado operacional, também é necessário evidenciar as diferenças. No Mercure, há vários trabalhos em curso para entender e manter a consistência de serviço de alto padrão. Um exemplo: todos os nossos gerentes dessa bandeira estão em treinamento com a MCF (consultoria de luxo), projeto para sensibilizar os executivos sobre produtos de luxo porque nosso cliente tem que sentir experiência diferente nos hotéis da marca.
Para o cliente, essa comunicação virá por meio de comunicação publicitária de massa ou por meio de relacionamento com os que já conhecem as marcas?
Comunicação é muito importante para nós. Crescer na América Latina é uma vontade séria da Accor, o grupo não investe desse modo em todos os países. O fato de eu ser enviado aqui não é coincidência. O objetivo é realmente apostar no Brasil e na América Latina como regiões que nos ajudarão a crescer mundialmente. Fizemos esse trabalho na Europa há cinco anos e há dois na Ásia. O Brasil é um novo foco, interesse que nasceu há três anos e que deve ser acentuado. Haverá campanhas, nas quais estamos
trabalhando, para comunicar o grande público. Ao todo, são três alavancas: imprensa, marketing tradicional B2C e, por último, o trade, esse com foco maior. Nossa estratégia é trabalharmos com distribuidores, websites e agências de viagem.
Quando será lançada a campanha B2C?
Está prevista para este mês. A Euro RSCG é a responsável pela comunicação e mídia do grupo Accor no Brasil e na Europa. Vamos trabalhar com três mensagens-chave, mas isso ainda está em fase de definição.
Recentemente, a Accor anunciou o lançamento do Mercure Grand Hotel. Dentro do Mercure, qual a porcentagem que Grand Hotel deve representar?
Cerca de 10% [do número de unidades atuais], o equivalente a seis hotéis. O Mercure Grand Hotel foi resultado de conversão do Sofitel Ibirapuera (São Paulo), movimento que vamos aproveitar para criar posicionamento diferente. Essa é uma bandeira de posicionamento intermediário, com mais-valia séria que permitirá ao cliente perceber a diferença entre um Mercure e um Mercure Grand Hotel.
Essa nova bandeira deve substituir o Sofitel?
Não, não deve. Nesse caso, foi uma coincidência. Se encontrarmos hotel de outro grupo, que cabe no padrão que estamos trazendo, aproveitaremos para posicioná-lo no mesmo nível do de outros países onde a marca já existe, como Austrália e França.
O objetivo é dar maior visibilidade para a bandeira com o propósito de buscar oportunidades para ela. Um investidor pode ter interesse em um Mercure Standard,ou em construir um Pullman, mas poderá ter interesse também em um Mercure Grand
Hotel, que é acima em termos de diária média, serviços e posicionamento. São targets diferentes. Para nós, é um modo de captar mais investidores para ampliar significativamente o portfólio de bandeiras.
São Paulo e Rio de Janeiro são regiões naturalmente relevantes para a hotelaria, mas quais são as demais localidades no Brasil para a Accor crescer?
Quando falamos de desenvolvimento, encaramos isso de duas formas: aumento de portfólio, uma área muito forte, e segundo, desenvolvimento, referente a expansão de nossos produtos. Eu diria que São Paulo é muito carregada mas ainda tem potencial.
Há falta de oferta na cidade, o que ainda permite investimentos. O problema é encontrar terreno, espaço, mas há demanda. Nosso foco é em todas as cidades secundárias, como Goiânia (GO) e Rio de Janeiro (RJ), onde temos hotel, e Sul do país. No Nordeste, estamos à procura de empreendimentos e em Salvador (BA) também. Saindo um pouco das três bandeiras que coordeno, a expansão da Accor está fortemente apoiada em Ibis, que responde por 60% do desenvolvimento que planejamos. Entre Mercure e Pullman, a que mais terá abertura é Mercure. O foco de Pullman serão as capitais latino-americanas, como Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Lima (Peru), Santiago (Chile) e Caracas (Venezuela).
Qual é a meta de crescimento da Accor na América Latina?
Em 2010, tivemos volume de negócio de € 676 milhões na América Latina, um crescimento de 28% sobre o ano anterior. Estamos com 149 hotéis em operação no Brasil e nossa meta é chegar a 300 em 2015.
O perfil do Brasil foi alterado na última década, sua economia dinamizou-se e o país tornou-se um local atrativo para empresas. Mas e o consumidor brasileiro, ele também mudou?
O brasileiro tornou-se um cliente muito exigente, rico, com poder de compra incrível, que viaja. Vimos muitas alterações das nacionalidades que passaram a ocupar nossos hotéis e o maior aumento veio da América Latina, com destaque para o Brasil. Essa é uma das razões que tornaram o brasileiro mais experiente e mais exigente com a hotelaria, o que é novo para nós. Ele quer alto padrão em todos os hotéis, mesmo nos de nível media scale. E, no âmbito doméstico, [essa transformação] gera grande impacto. Como estrangeiro, posso falar que o nível dos serviços que os brasileiros têm no país, o acabamento dos shoppings, as mordomias, não existem em muitos países, e o tornaram muito exigente. Isso obrigou a Accor a investir em produtos e tecnologias. É comum acontecer: países que estavam atrasados, num avanço repentino, ultrapassam outros. A Europa teve crescimento regular dos serviços e da economia nos últimos anos, mas o Brasil teve um salto muito grande.