O Brasil, um país conhecido como fornecedor de commodity, em breve irá exportar produtos-conceito feitos com matérias-primas nacionais, como o café, a cachaça e a carne. O projeto “Seleção Brasileira de Alimentos”, criado pela agência francesa Enivrance, desenhou um portfólio de 13 produtos para representar o que o país tem de melhor no setor alimentício, combinando ingredientes brasileiros e conceitos de lifestyle. A ação servirá para impulsionar a presença internacional desde gigantes brasileiras do setor, como Friboi, Seara e Bauducco, a pequenos produtores, como Baggio Caffé e Weber Haus.
O objetivo é agregar valor ao que é produzido no Brasil, uma potência do setor agro, mas com fraquezas em sua imagem, afirmou ao propmark Edouard Malbois, CEO e fundador da Enivrance, especializada em design de bebidas e alimentos. “O Brasil é considerado um fornecedor de matéria-prima. Mas ele é subestimado. Ele não está se comunicando. Queremos tornar a indústria [brasileira de alimentos] tão descolada como a Havaianas ou a Melissa”, disse. O projeto consumiu R$ 5,6 milhões em investimentos, divididos entre a Enivrance, as empresas participantes e Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
Ao longo do último ano, a agência modernizou e, em alguns casos, reinventou produtos nacionais, como o vinho frisante. Para dar a ele competitividade no mercado internacional de vinhos brancos, dominado pela champanhe e pelo prosecco, o projeto reposicionou o espumante nacional para competir com as cervejas, aproveitando seu baixo teor alcoólico, de 8%. “Reinventamos a categoria de frisantes. Ao colocarmos esses produtos na embalagem de cerveja, banalizamos seu consumo. Ele não precisa ser aberto numa data comemorativa e, assim, abrimos espaço para seu consumo além dos momentos de celebração”, explicou Diego Bolson Ruzzarin, diretor da Enivrance Brasil.
No caso da carne bovina in natura brasileira, ela será vendida como peças “prontas para assar” e usará como apelo a experiência do churrasco. A agência acredita que, assim, quebrará barreiras ao produto devido ao “dialeto” nacional de classificação das peças, com nomes pouco usuais no exterior, como picanha e filé mignon. “Deixaremos a carne longe do dialeto complicado das churrascarias, com nomes que os gringos mal conseguem pronunciar”, disse Ruzzarin.
Cada produto tem a marca de uma companhia. No caso dos vinhos frisantes, a empresa é a vinícola Aurora. A carne bovina será representada pela Friboi. Seara terá dois produtos com sua marca, de carne de frango e suína. Outros produtos do portfólio redesenhados são o pão de queijo, o açaí, a cachaça, o café e o waffle. Além das marcas embaixadoras, há dois chefes convidados: Kátia Barbosa, do “Aconchego Carioca”, e David Hertz, da “Gastromotiva”. Eles desenvolveram dois produtos do portfólio sem a bandeira de nenhuma marca.
O conceito do projeto foi lançado nesta quinta-feira (26), em São Paulo, e em outubro iniciará um tour por 10 cidades do mundo, como Xangai, Tóquio, Paris, Rio de Janeiro, Londres e Cingapura. A primeira parada será em Colônia, na Alemanha, onde a seleção de alimentos será exibida na Anuga, a maior feira de alimentos do mundo. “A ideia é criar um choque, um efeito ‘uau’. O Brasil tem força para emergir como um líder em categorias e o esse projeto mostra que temos capacidade técnica e criatividade para a produção de valor”, exaltou Malbois.
A produção para venda do portfólio começa no início de 2014, com base na demanda do mercado. O objetivo é fechar contrato com cadeias varejistas internacionais, mas não está descartada a venda também em redes brasileiras. “Ainda não temos uma rede de distribuição. Isso vai depender das oportunidades. Nesses tours faremos contatos com o trade varejista e com a imprensa local”, explicou Ruzzarin.