Os conflitos ainda são muitos, mas existem consultorias, como a Filhos no Currículo, que apoiam mães a enfrentarem desafios da dupla jornada

Neste Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta terça (8), o PROPMARK preparou este especial, que retrata a mulher como profissional e mãe. Dessa pauta surgiram consultorias que apontam que elas se tornam melhores líderes após a maternidade. Nestas páginas e nas próximas, o leitor vai ver ainda como as marcas estão conduzindo a gravidez e todos os detalhes que implicam o assunto.

O PROPMARK também consultou as agências e encontrou muitos programas concentrados no bem-estar das profissionais mães. A grande maioria apoia e abriga a maternidade para que a mulher continue a se desenvolver, apesar de todas as tarefas atribuídas a ela no dia a dia.

No passado muitas delas até escondiam que tinham filhos para arrumar ou se manter no emprego. Ainda hoje há um número grande de mulheres que deixam o trabalho por conta da maternidade ou passam por situações preconceituosas por causa dos filhos. Os conflitos são muitos, mas há movimentos para apoiar essas mulheres, como algumas plataformas que incentivam o orgulho de ser mãe e tornar os seus pimpolhos visíveis aos olhos dos empregadores.

A consultoria Filhos no Currículo é um dos exemplos dessa movimentação. Ela quer transformar o atual estado geral de coisas no ambiente de trabalho e mostrar principalmente que filhos não atrapalham, e, sim, colaboram para a performance delas nas empresas.

O movimento lançou até a campanha #meufilhonocurriculo, que “convida as mulheres a apoiar a iniciativa via LinkedIn”. “Para participar, declare que você tem filhos no seu currículo e desafie outras pessoas a fazerem o mesmo”, incentiva a ação no site da consultoria.

Fernanda Reis, diretora de talent aquisition do Publicis Groupe Brasil, faz um relato sobre o seu envolvimento com a consultoria Filhos no Currículo. Ela conta que conheceu o programa através de um outro movimento que empodera as mulheres e logo se conectou com o propósito dele, que é o de “provar que filho é potência na vida profissional de pais e mães”. “De lá para cá, realizamos algumas palestras em parceria para promover reflexões junto ao nosso time sobre como podemos tornar nosso ambiente profissional mais inclusivo e acolhedor para mães”, afirma, acrescentando: “Também tínhamos como objetivo trazer os pais para a conversa e reforçar a importância deles na construção de um ambiente melhor e a sua importância na criação dos filhos, divisão de tarefas e de carga mental”.

Fernanda justifica ainda por que decidiu se envolver com o Filhos no Currículo: “Quero contribuir para ambientes de trabalhos mais justos e igualitários para essa e as próximas gerações, o pilar maternidade é apenas um dos que buscamos diariamente mitigar as diferenças históricas”. Segundo ela, além dessa pauta, buscam um ambiente mais inclusivo para todos os grupos, investindo em equidade racial, plano de desenvolvimento, acolhimento às demandas de grupos em situação de “desvantagem social”, como a população LGBTQIA+. Ela fala que dentro do Publicis Groupe trabalham para que as mulheres não tenham de esconder seus filhos e tentam fortalecer a “cultura das agências para que isso seja tão inadmissível quanto de fato é”.

Fernanda Martire e a filha Maria: home office ajuda

Mas, conforme ela, a pandemia impactou em muito a luta por igualdade de gênero e as mulheres perderam mais empregos do que homens, pois “as tarefas domésticas e cuidados com a família são ainda majoritariamente de responsabilidade das mulheres”. “Além disso, durante as entrevistas de emprego, muitas mulheres ainda são questionadas sobre seu interesse em ser mães, o que não ocorre com homens. Por isso, em muitos lugares, sim, as mulheres ainda precisam esconder”, diz.

Melhora
Fernanda tem dois filhos: Eduardo, de 7 anos, e Isabel, de 2 anos. Ela fala que eles a desafiam e a movem a se tornar “cada dia uma pessoa e uma profissional melhor”. “Com eles desenvolvi habilidades que hoje me tornaram a profissional que sou. Posso citar algumas: negociação, resiliência, habilidade em gerenciar diversos papéis ao mesmo tempo e paciência. A maternidade amplia o modelo mental para resoluções, o que, profissionalmente, vejo de maneira bastante positiva”, declara. Conciliar as rotinas não é, para ela, tarefa fácil. “Não diria que consigo conciliar, até porque, nós, mães, nos colocamos muitas vezes obrigadas a dar conta de tudo com maestria e, às vezes, isso é impossível. E a pandemia acentuou essa carga de forma exponencial”, analisa.

Segundo ela, antes, quando ia aos escritórios, era mais fácil separar os papéis. Hoje em dia, com tudo misturado, ficou mais desafiador. “A gente tenta equilibrar os pratos da melhor forma possível, com uma rotina organizada, foco nas prioridades, leveza e uma dose de bom humor”, conta. Ela acrescenta ainda que é claro que estar em um ambiente que tenha empatia ajuda demais. Recentemente, ela afirma que estava em uma reunião com Domenico Massareto, CCO da Publicis Brasil, e Cintia Pessoa, diretora de RH da agência, e, no meio da reunião, o Dom cantou Marcha Soldado com a filha dela.

Maysa, da AlmapBBDO, com Tom e Bernardo

Patrícia Fuzzo, head of talents da Ogilvy Brasil, revela que a agência dispõe do Amamentaxi, serviço de transporte custeado de Ogilvy para que as mães possam sair no horário do almoço e ir até em casa para amamentar. “O benefício continua mesmo no modelo híbrido de trabalho, em que a mãe tem a opção de trabalhar dois dias na semana em casa e três na agência”, relata.

As gestantes também ganham atenção. A agência tem um programa de apoio à futura mamãe. Trata-se de um acordo com a operadora de plano de saúde parceira da Ogilvy, que, segundo Patrícia, acompanha a gestante até o nascimento da criança.

Outra atenção às mães é a business partner de RH, que fica responsável pelo contato com ela algumas semanas antes do retorno. “A ideia é garantir toda a segurança e conforto em relação à volta ao trabalho”, afirma Patrícia, acrescentando: “Temos também na agência um lactário montado especialmente para atender à demanda das mães e dar mais privacidade para elas”.

Viviane Sbrana, chief data officer, também da Ogilvy, que tem dois filhos, um de 7 e outro de 13 anos, fala que no início da pandemia, nos primeiros seis meses, foi bastante complicado lidar com a jornada dupla, pois o “trabalho, literalmente, invadiu a casa, o casamento e a família”. E isso, segundo ela, foi difícil, mas também “incrível”, pois, de certa forma, os filhos dela entenderam melhor o que ela faz, e “isso até aumentou a admiração deles sobre a profissão e de quem ela é no trabalho”. “Eles foram muito parceiros e compreensivos! Eles foram e continuam sendo ótimos, superparceiros, os melhores filhos”.

Thais Braid, da Dojo, apresenta a filha

Sobre sentir orgulho de ser mãe, ela é categórica em dizer que mãe tem orgulho de apresentar os filhos sempre, e isso não é diferente no trabalho. “Agora, com a pandemia, a mãe tem orgulho de apresentar e mostrar os filhos para os colegas de trabalho, mas o inverso também é verdade. Apresentamos a equipe para os nossos filhos”.

Para ela, o medo passa ao largo quando o assunto é procurar emprego. Ela fala que nunca teve temor e já levou o seu bebê, que mamava na época, para uma entrevista. “E fui muito bem recebida. Na verdade, as mães precisam ter orgulho e sentir (e mostrar) a maternidade como um privilégio, pois ser mãe nos faz sermos melhores gestoras, melhores companheiras de trabalho. A maioria das mães é excelente em resolver problemas, assumir responsabilidades, ser pragmáticas e tudo isso com um toque de carinho com cada colega de trabalho”.

Tempos difíceis
A colega de Viviane na Ogilvy, Vanessa Giannotti, head de mídia, tem dois filhos: um de 4 anos, Artur; e outro de 3 anos, Antonio. Ela fala que conciliar as tarefas foi mais complicado no começo da pandemia, quando as escolas estavam fechadas, pois era muito difícil para meus filhos, na época, com 1 e 2 anos, entenderem que ela estava em casa, mas não estava disponível para eles o tempo todo. “Hoje, com a volta às aulas e a abertura do escritório, a rotina está mais estabelecida”. No entanto, ela diz reconhecer que faz parte de um seleto grupo que pode contar com uma rede de apoio, que permite exercer a maternidade e, ao mesmo tempo, se dedicar à carreira. “Isso me faz admirar ainda mais as mães que não contam com esses mesmos benefícios e ainda assim equilibram (ou tentam) ‘todos os pratinhos’”.

Juliana Lima, da Jüssi, com os dois filhos ainda pequenos, Benjamim (3 anos) e Alice (5 meses)

Ela comenta que vem de uma cultura cuja maternidade é muito celebrada. Vem daí o orgulho de ser mãe. “Em todas as minhas experiências profissionais tive referências de mulheres em cargos de liderança exercendo plenamente a maternidade. Quando recebi o convite para assumir a mídia da Ogilvy, o tema ‘maternidade’ esteve na pauta. Fazer parte de um board prioritariamente feminino foi determinante para ter certeza de que os meus desafios em equilibrar vida pessoal e profissional seriam partilhados ou, ao menos, compreendidos”, explica. Ela acredita que a maternidade empodera as mulheres. “Depois que me tornei mãe, me sinto muito mais focada, produtiva e empática. Nós, mães, aprendemos a fazer o nosso tempo render muito mais e temos maior assertividade em nossas atividades diárias”.

Já Fabiana Schaeffer, co-founder da Netza&Cossistema e CEO da Netza, afirma que a sua agência não tem programa específico para atender às mães, mas que prioriza “o respeito à individualidade, pois cada caso é um caso”. “E para que ‘nossas mamães’ possam exercer essa jornada dupla de conciliar o trabalho e os cuidados com os filhos, implementamos medidas flexíveis baseadas no dia a dia de cada colaboradora, na rotina de cada uma”, diz. Para ela, a gestão mais humanizada as ajuda a se “adaptarem da melhor forma nessa fase da vida”. Ela cita exemplos: “na Quarta-Feira de Cinzas elas deveriam trabalhar no período da tarde, mas entendemos que é feriado escolar, as mães não têm com quem deixar seus filhos. Além de ter essa flexibilidade em relação ao modelo de trabalho home office, as mães têm prioridade também para tirar férias em períodos escolares e comparecer a eventos extracurriculares dos filhos”, diz.

Segundo ela, quando se sabe de uma gravidez, há muitos anseios, medos e dúvidas. E, para ela, é dever da empresa apoiar as colaboradoras para mantê-las estabilizadas emocionalmente e contribuir com saúde dela e dos bebês “nesse momento especial”. “Mais uma vez, nosso foco é na singularidade, pois cada gestação requer um cuidado específico. De acordo com o perfil de cada futura mamãe, construímos uma relação de bem-estar com elas, cuidando para mantê-las na empresa com saúde e satisfação, afinal, esse momento não pode jamais implicar em uma escolha entre família ou mercado de trabalho. Levamos muito em consideração o dia em que a gestante está mais cansada ou o trânsito está mais intenso, recomendando que ela fique em casa, e sem exigência de atestados médicos, por exemplo”, conta.

Depois que mulher vira mãe, a volta ao trabalho, para ela, não há regras, pois “cada mãe tem uma necessidade diferente da outra e, na Netza&Cossistema, ela pode falar livremente sobre o assunto. “Buscamos nos moldar cada vez mais para que haja flexibilidade, sempre focada no individual. Por exemplo, no período da amamentação, apoiamos para que essas pausas aconteçam da melhor forma possível. Os intervalos podem ser utilizados para encontrar a criança e amamentá-la, receber o bebê na empresa para amamentar, extrair o leite e armazená-lo para alimentar o filho ou, em alguns casos, até dispormos de portador para levar esse leite até o bebê. E, claro, em casos de qualquer problema com as crianças, o lugar da mãe é ao lado do seu filho”. Ela declara ainda que amparam as mamães de “forma única”. Nosso apoio é singular e vai muito além das leis impostas. Com nossas medidas, queremos mudar a crença de que maternidade e carreira não caminham juntas, aliás, após a maternidade, as colaboradoras desenvolvem capacidades que agregam também no ambiente de trabalho”, fala.

Licença
Rose Barbosa, head do financeiro da Nezta, tem um filho e avalia que é sempre desafiador conciliar a rotina diária, mas “sempre dá-se um jeito”. “Retornei da minha licença maternidade quando meu filho estava com quatro meses, deixei com a minha mãe, pois para aquela idade eu entendi ser a melhor opção. Na ocasião, como eu sabia que meu filho estava sendo bem cuidado, quando chegava na Netza, literalmente esquecia a mãe do Thiago em casa e focava para dar o meu melhor no trabalho. O trabalho no departamento financeiro requer agilidade, precisão e concentração, principalmente no nosso seguimento, cujo departamento está diretamente ligado ao de pré-produção, operação e compras”, conta.

Ela acredita que ainda existam ambientes de trabalho que “não veem com bons olhos a profissional mãe”. Mas, na Netza, desde o primeiro dia da minha gestação, fui muito acolhida. Sempre houve compreensão e valorização das mães por parte da empresa, pois eles sabem que, para performar bem no trabalho, precisamos também performar bem fora dele, e isso nos é dado. A flexibilidade de horário é um diferencial, pois consigo resolver muitas coisas que dizem respeito a meu filho”, afirma. Ela declara ainda que jamais esconderia o filho e, se fosse o caso, declinaria do emprego. “Prefiro ajustar a profissão, partir para outro segmento a ter de esconder que sou mãe”.

Outra profissional da Netza, Driely Wiazowski, head of accounts, conta que tem uma filha de 12 anos e, com o formato híbrido, tem “conseguido estar mais presente na vida da Lara”. “Almoçamos juntas, levo e pego na escola, e isso tem sido mágico, tanto para ela quanto para mim. Em dias de muito trabalho, fica difícil conciliar as rotinas, mas ela já é uma mocinha e entende muito bem o trabalho que escolhi para minha vida. Procuro ‘repor’ o tempo perdido nos fins de semana e nos tempos mais livres, quando estamos juntas em casa”. Ela fala também do orgulho que tem em ser mãe da Lara, tanto que ela conheceu todas as agências pelas quais passou. “Na Netza ela ainda não teve a oportunidade por conta deste momento mais delicado que estamos vivendo. Entrei na Netza em janeiro de 2020 e em março fomos atingidos pela Covid-19. Acho importante os filhos conhecerem nosso ambiente de trabalho”.

Ela afirma que jamais esconderia que é mãe, para se manter ou conseguir emprego. “Não ficaria em um ambiente como esse. Ser mãe foi a melhor escolha da minha vida. Costumo brincar que ser mãe é a melhor de todas as profissões”. Nem sempre as mamães conseguem realizar tudo o que acreditam ser necessário em tempo hábil. Afinal, o dia tem apenas 24 horas. É o caso da Fernanda Peixoto, diretora de produção da David, que tem um filho e afirma não conseguir conciliar todas as funções. “Sinto que estou sempre em uma eterna divisão da atenção entre as duas rotinas. Tem dias que você se pergunta se ficou devendo algo como profissional e outros se ficou devendo algo como mãe”. confessa.

No entanto, ela acredita que tem dias que acaba pensando que realmente deu conta de tudo. “Brincadeiras à parte, sei que sou privilegiada por contar com uma pequena rede de apoio que me ajuda a conseguir me dedicar ao meu trabalho. Penso bastante na frase “O tempo é, de longe, o nosso recurso mais cobiçado e não retornável”, então gerenciar o próprio tempo, aprender a priorizar o que pode ser feito, quando e diferenciar o urgente do importante ajudam nessa conciliação de rotinas”.

Processo mais leve
Priscilla Finocchiaro, gerente de RH na Ampfy, mãe de um filho pequeno e grávida de 38 semanas, afirma também que conciliar ambas as rotinas é um desafio. Mas, segundo ela, trabalhar em um local que respeita e apoia essa agenda dupla torna o processo mais leve e viável. “É muito importante saber que poderei contar com a compreensão da agência caso tenha alguma intercorrência. O modelo home office ou híbrido, ao qual estamos nos preparando para atuar, traz também seus desafios, mas estar presente para almoçar com seu filho ou buscá-lo na escola é muito especial”, alerta.

A Dojo, além do período de licença maternidade previsto por lei, de 120 dias, tem um programa chamado Apoia aos Pais, que oferece uma ajuda de custo de R$ 1 mil por mês nos 12 primeiros meses do bebê.

Thais Braid, head of media & data da Dojo, tem uma filha e fala que tenta “fazer tudo perfeito”. “Quero estar presente para minha filha e ao mesmo tempo ser referência na cadeira que ocupo. Entendo que os dois são importantes para mim e algum prato sempre vai cair; a vida é uma bagunça e tento a braçá-la como tal”, declara. Ela afirma viver um dia focada na alimentação da semana, e na outra esquece de comprar fruta e legumes porque as reuniões a consumiram. Mas tudo bem! “Estudo muito sobre priorização e foco, para que o tempo de trabalho seja eficiente e, as horas com ela, sejam com o celular no modo avião”.

“Onde não cabe minha filha, não me cabe”, decreta Thais, sobre a imposição de empregadores sobre filhos. “Sei do que sou capaz e ser mãe faz parte do meu currículo. Precisamos que as mulheres sejam reconhecidas como seres integrais e, isso envolve, sim, falar de filhos. Precisamos desmistificar que filhos arruínam carreiras, que tiram o foco das mulheres do trabalho; muito pelo contrário, eles nos trazem novas habilidades, nos tornam mais planejadas, organizadas, ágeis e eficientes. Espero que eu nunca sofra nenhum constrangimento por ter uma filha”, avalia.

Alessandra Sant’Ana, com Bernardo e a cachorra Sophia

Janaina Yana, diretora de negócios da WMcCann, é mãe da Victoria, de 13 anos, e também afirma que sempre foi um grande desafio conciliar maternidade e trabalho. “Aprendi, ao longo dos anos, que tudo depende da organização entre a rotina do trabalho, da escola (morar perto ajuda muito), das atividades dela e das necessidades da casa. Essa organização faz toda diferença”.

Para ela, orgulho de ser mãe é unânime, já que os filhos estão em diversas conversas do trabalho. “Além disso, faço questão que ela conheça o meu local de trabalho, meu time, para ela se sentir parte dele também”.

Paula Molina, diretora de RH da WMcCann, fala dos programas que a agência oferece para as mães, uma vez que, segundo ela, hoje, mais da metade dos colaboradores são mulheres, ou seja, 58%. “Com o intuito de pensar ações e soluções em prol das mamães, discutimos o tema no Grupo de Afinidade de Mulheres do nosso Coletivo Social, tendo em vista colocar em prática programas voltados para essa mulher que se divide e desempenha duas das mais importantes tarefas: ser mãe e profissional”, diz. Paula fala ainda do Programa Boa Hora, disponibilizado pelo Omint Saúde, que oferece orientação e acompanhamento para as mamães durante a gravidez e no período pós-parto, com atendimento personalizado com uma enfermeira obstetra da rede credenciada. “A profissional entende as necessidades de cada família e auxilia em todas as questões que envolvem a gestação e o nascimento do bebê, como alimentação, sintomas de trabalho de parto, atividades físicas, cuidados com o recém-nascido, participação do pai, aleitamento materno e orientações no retorno ao trabalho, entre outros. Todas os colaboradores titulares ou dependentes têm acesso”, conta.

Fernanda Martire, gerente de mídia & BI, da MariaSãoPaulo, tem apenas uma filha, mais uma Maria, como ela mesma diz, “por sinal: a Maria Alice”, e também afirma que não é nada fácil conciliar ambas as rotinas. Mas, para ela, é uma situação comum à mulher do século 21. “Não vejo minha vida acontecendo de outra forma. Não me vejo realizada, hoje, tendo de abrir mão da minha carreira ou das minhas realizações pessoais, como ser mãe e construir uma família. Então, não há outro caminho, além de achar formas de conciliar as rotinas e encontrar artifícios para a harmonia entre elas. O que nem sempre acontece, já que não existe a fórmula perfeita – ou, pelo menos, eu ainda não a encontrei –, mas, tudo bem, a gente segue sempre buscando o equilíbrio”.

Sobre as mães que têm de “esconder” os filhos para se manter no emprego, Fernanda acredita que, “infelizmente”, ainda é uma realidade de alguns setores da economia. “Eu tive a felicidade de trabalhar em locais onde isso sempre foi enxergado como algo positivo, um momento de vida muito respeitado e, até mesmo, incentivado para aqueles ou aquelas que desejavam isso para suas vidas. Na MariaSãoPaulo, quando contei que estava grávida, não tive o menor receio, sabia, inclusive, que a notícia seria recebida com alegria e eu poderia contar com todo o apoio não só da diretoria, mas de toda a equipe, justamente por ser algo construído enquanto essência da agência”, conta.

Maysa Oliveira, head de atendimento e integrante do Comitê de Diversidade, Equidade & Inclusão da AlmapBBDO, tem uma maternidade diferente para contar. Ela tem dois filhos, Tom, de 6 anos, e Bernardo, de 1 ano, ambos adotados. Ela afirma que um dos processos foi internacional e outro nacional. Ela conta que na adoção do mais novo, Bernardo, já estava há seis anos na fila quando foi surpreendida com chegada dele, em 2021, e teve apenas 20 dias para se organizar e sair de licença maternidade. “A Almap foi muito parceira e acolhedora, me proporcionando totais condições para que eu pudesse me ausentar”, comenta.

Mas, para ela, ainda existem resistências e muitos vieses inconscientes a serem trabalhados no mercado, no que diz respeito a uma luta por igualdade de gênero, livres de estigmas e estereótipos envolvendo a maternidade e, tão importante quanto, a paternidade. “A dupla rotina é muito exaustiva quando não temos apoio e acaba sobrando uma carga significativa de afazeres para as mulheres”, argumenta ela, acrescentando: “Por isso acho importante sermos vozes ativas na promoção de acordos de trabalho flexíveis, de políticas que incentivam ampliações na licença parental, possibilitando uma maior igualdade de gêneros e equidade de benefícios”.

Ela espera que esconder a maternidade seja cada vez menos uma realidade para muitas mulheres. E que os homens comecem a engrossar o coro na defesa de sua paternidade também. “É importante termos direitos iguais para que possamos ser livres para fazermos escolhas”.

A AlmapBBDO dispõe para a mamães recentes alguns benefícios, entre eles, a isenção de coparticipação no convênio médico durante a gestação; estacionamento durante gravidez e por mais dois meses após retorno; além de redução de duas horas de jornada por dia por dois meses após volta ao trabalho. Nos últimos anos, a AlmapBBDO passou a contar com o comitê de Diversidade & Inclusão, formado por executivos e colaboradores voluntários, que atuam de maneira ampla, tendo como um dos seus pilares a equidade de gênero. Entre outras iniciativas foram aprovados benefícios como licença paternidade ampliada, além da criação de uma sala de amamentação, na agência.

Mãellennials
Juliana Lima, diretora de comunicação efetiva da Jüssi, tem dois filhos ainda pequenos: Benjamim, de 3 anos; e Alice de 5 meses; e fala que tenta conciliar “tudo com equilíbrio, o máximo de leveza e muita dedicação”. “Sou uma mulher ativa, que ama trabalhar e fazer mil coisas ao mesmo tempo. Esse meu perfil dinâmico ajuda muito nos desafios de conciliar as rotinas. Para mim, é extremamente importante não só fazer a rotina do meu trabalho funcionar, mas também poder me dedicar verdadeiramente a isso, afinal, assim me sinto realizada”.

Para ela, felizmente, o tema maternidade x carreira está em alta. “Sou mentora voluntária do primeiro ciclo de mentoria no projeto Mãellennials, que tem como objetivo central a conexão entre mães para cocriarmos um futuro com mais equidade de gênero e respeito à maternidade no mercado. As trocas entre outras mães só evidenciam que o assunto é urgente, que os filhos são, sim, grande motivo de orgulho e também de força dessa luta”, argumenta.

Ela diz ainda que nem cogitaria a possibilidade de trabalhar numa empresa em que a maternidade é um empecilho e reconhece que a maternidade a transformou numa pessoa melhor, inclusive no âmbito profissional. A Jüssi, segundo ela, possui uma cultura humanizada, com o pensamento empático de que as colaboradoras, antes de serem profissionais que se dedicam à empresa em prol de objetivos mútuos, são pessoas, e muitas delas mães que precisam conciliar rotinas árduas. “Com isso, busca sempre dar apoio de diversas formas, como um formato de trabalho híbrido e com horário flexível. Alguns outros benefícios são kit bebê/maternidade e auxílio creche”.

Alessandra Sant’Ana, diretoria-executiva de negócios e operações da ID\TBWA, fala que tem dois filhos: um deles é um humano chamado Bernardo, com 6 anos, e o outro é “uma lindeza de quatro patas chamada Sophia”, que está com ela há 13 anos.

Diferentemente de todas as mães até aqui apresentadas e seus desafios diários, Alessandra afirma que “na realidade não consegue conciliar” ambas rotinas, mas, ainda assim, “está tudo bem”. “Entendo que a grande questão está exatamente nesse desejo que nós, profissionais mulheres, temos em querer perfeição, equilíbrio e a conciliação perfeita de todas as nossas responsabilidades como mães, profissionais, mulheres e donas de casa. Porém, não acredito que seja sobre como conseguimos conciliar rotinas, mas sobre como nos sentimos completas e plenas dentro da loucura que é sermos todas em uma só”, analisa.

Ela afirma que demorou para entender e aceitar os erros, acertos e ausências, mas hoje é “muito feliz com as escolhas diárias”. “Todo dia escolho e decido o que serei ‘mais’ naquele momento: serei mais mãe quando tenho compromissos com o meu filho ou mais profissional quando tenho aquela entrega urgente inadiável, e assim vai”.

Ana Leão, managing director das agências criativas da Dentsu Brasil, Isobar e DentsuMB, que tem um filho de 24 anos, responde à pergunta sobre conciliar ambas as rotinas como uma nova pergunta: “Você perguntaria a um homem como ele concilia a rotina de ser pai e trabalhar?”. E ela mesma responde: “Dificilmente essa pergunta é feita para um homem”. Para ela, todas as rotinas precisam ser conciliadas porque a vida é assim. “O que nós mulheres precisamos fazer é não aceitar que todas as tarefas domésticas e o papel de ser mãe sejam apenas nossa responsabilidade”.

Ana comenta que o seu filho é adulto hoje, e ela é uma “mãe solo”, ou seja, não teve o pai presente para dividir as tarefas da parentalidade com ela. “Mas, conciliei a vida inteira todas as atividades que envolvem buscar ser uma mulher feliz e realizada: cuidar de mim, em primeiro lugar, para estar pronta para cuidar do meu filho, que é minha obrigação, uma vez que eu decidi trazê-lo ao mundo”.

Vamos que vamos
Já Elise Passamani, chief culture and operations officer, da Lew’Lara\TBWA, acredita que conciliar as rotinas, às vezes, vai “do jeito que dá”, com belas doses de estresse e culpa ou com leveza e bom humor.  “Nunca haverá uma fórmula perfeita para a arte de escolher a maternidade e a vida corporativa”. Ela acredita que a maioria das mulheres nasce com a capacidade especial da multidisciplinaridade, que é naturalmente expandida quando elas se tornam mães. “Eu conto com o apoio de algumas pessoas especiais no meu dia a dia: babá, ex-marido, sogros, padrinhos, madrinhas e minha chefe. Sem rede de apoio, acho que a rotina fica insustentável.  Meus filhos, Theo e Max, têm 9 anos e já entendem a importância do trabalho para mim”.

Ela lembra que temos visto um movimento cada vez mais frequente que incentiva as colaboradoras a se posicionarem como mulheres-mães, inclusive nas redes sociais de trabalho. E é isso, ela acredita muito neste movimento, que coloca a maternidade à frente do emprego, afinal, “uma mãe nunca abrirá mão de um filho por um emprego, mas o inverso é 100% possível, plausível e necessário em alguns casos”. “Todos e todas precisam entender que uma saidinha mais cedo do trabalho para buscar o filho na escola ou um horário flexível nunca tornará uma colaboradora menos eficiente. A força materna é transformadora e há inúmeras pesquisas que demostram o aumento do nível de produtividade das mulheres que se tornam mães”.

Mariane Brito, diretora de grupo de contas da R/GA, é mãe de três meninos de 9, 6 e 4 anos de idade, e diz também que é ilusão projetar para “dar conta de tudo”, o tempo todo. “Com tantos papéis que eu quero ter na minha vida, vivo em um constante jogo de equilíbrio que exige flexibilidade, concessão e principalmente escolha. E não tem como fazer sozinha”. Ela também conta com uma rede de apoio enorme, que começa em casa, na família, se estende até a escola, passando por amigos e pelo círculo de trabalho. “Não só para compartilhar a responsabilidade na rotina, mas, também, para as dúvidas, angústias e até iluminar os caminhos desse jogo de equilibrista”.

Para ela, a rotina das crianças sempre foi muito dinâmica, porque cada fase tem uma demanda diferente e, a cada etapa, é um exercício, uma combinação do que cada filho precisa com as necessidades.

Isabel Julianelli, diretora de atendimento, também da R/GA, é mãe de uma garota de 5 anos. E também não tem fórmula para alinhar as tarefas do dia a dia. “É sempre um grande desafio, misturado com uma pitada de culpa e a certeza de que é por eles que nos dedicamos tanto. Eu amo o que faço e amo ser mãe, então, no fim do dia, por mais desafiador que seja, sempre dá certo, a gente faz dar certo. O trabalho remoto ajudou muito nessa conexão e no estar presente”, afirma.

Ela revela que tem tanto orgulho de ser mãe que na descrição do seu perfil no LinkedIn tem a sua posição profissional e “Mãe da Jojo”. “Ela é a parte mais importante de mim e a maior responsável pela pessoa e profissional que me tornei. A R/GA é uma agência muito humana e sempre me senti acolhida e confortável, principalmente quando precisei priorizar o papel de mãe”.