O governador João Doria anunciou na última semana o retorno parcial da atividade econômica no estado de São Paulo. Uma flexibilização, ou nas palavras da secretária de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen, uma “retomada consciente” dividida por fases, sendo a 1ª de alerta máximo e a 5ª com atividades retomadas, mas com restrições. A decisão influencia diretamente as atividades das agências de publicidade, que adotaram o home office desde a explosão da pandemia da Covid-19 em março.
Na cidade de São Paulo, o prefeito Bruno Covas (PSDB) afirmou que, a partir de junho, quando passa a valer o plano estadual, sua gestão receberá propostas de protocolos de cada setor da economia, que precisam ser analisados e aprovados pela Vigilância Sanitária, já que a regulamentação da abertura depende dos prefeitos de cada munícipio.
O Sinapro-SP está trabalhando em conjunto com a Abap para dialogar com o governo sobre o tema e apresentar o protocolo para a Vigilância Sanitária. “Estamos na fase de espera e retorno, porque provavelmente a fila deve ser grande […] Há vários pontos comuns a todos. Manter janelas e portas abertas, não ter aglomeração, manter distância mínima”, afirma Dudu Godoy, presidente do Sinapro-SP. Porém, além do básico, o executivo alerta que a Vigilância precisa “dar a metodologia” para atividades que surgirão com o tal “novo normal” que tanto se apregoa. Exemplo? Como registrar o aferimento da temperatura de cada colaborador? Além da saúde, o Sinapro-SP está preocupado em dar segurança jurídica para as agências. “E para isso eu preciso de um documento formal”, afirma Godoy.
As agências, por sua vez, seguem cautelosas. A AlmapBBDO, por exemplo, vem desenhando seu plano de volta para o momento ideal há algum tempo. “Esse planejamento minucioso tem como objetivo proteger a saúde e o bem-estar dos funcionários, prioridade máxima para a agência, que está sendo adaptada. Com a flexibilização da quarentena pelo governo de São Paulo, devemos também iniciar a volta gradual à agência, porém não agora e provavelmente nada antes do mês de julho”, comenta Filipe Bartholomeu, CEO da agência. Ainda assim será um retorno escalonado, de parte da equipe, conforme ressalta o executivo. “E provavelmente nem todos os que voltarem ficarão com trabalho presencial 100% do tempo. Portanto, mesmo com a flexibilização, parte do time continuará em home office. Temos mapeadas as pessoas que se enquadram nos grupos de riscos ou têm outras necessidades para as quais o trabalho remoto é a melhor solução. E isso será sempre respeitado”, explica.
Na CP+B, o retorno será dividido. “Há algumas semanas nossos times de governança e RH vêm trabalhando com a gestão da CP+B num plano de retorno. Estamos desenhando um processo que deve ser realizado em grupos de times que trabalharão em ciclos de duas semanas na agência”, afirma Vinicius Reis, sócio e CEO da agência. Mas o executivo alerta que só fará o retorno “se houver consenso da sociedade para tal”.
Paula Molina, diretora de RH da WMcCann, também fala que o retorno será feito de forma gradual e em ondas, com decisões sempre pautadas na priorização da saúde e segurança das pessoas. “Para a organização dessas ondas, aplicamos uma pesquisa para identificação de colaboradores no grupo de risco ou outras limitações pessoais, e junto aos gestores avaliaremos as prioridades. Em paralelo, estamos organizando as adaptações necessárias na agência para manter o ambiente seguro e higienizado, como limitação de espaços nas salas de reunião, comunicação visual, itens de higiene e segurança, protocolos de comportamento etc.”, elucida. “A agência decidiu que vai manter o esquema de home office integral para a segurança de todos.
A Africa continua acompanhando diariamente a evolução da situação na cidade e no país, entendendo todos os fatores que envolvem um retorno seguro e responsável à agência. Dessa forma, ainda não há uma data fechada para essa volta”, revela Carol Boccia, VP de operações na Africa.
Alerta
Algumas agências não querem arriscar. A Mutato, por exemplo, continua em home office, seguindo os direcionamentos de estado e município, e em linha com a recomendação global do WPP. “Entendemos que não é momento de colocar ninguém em risco com deslocamentos de casa para a agência num cenário em que ainda não vemos a pandemia dar sinais de abrandamento no país e em São Paulo”, diz nota da empresa.
A AKQA, comandada por Hugo Veiga e Diego Machado, ficou famosa por sua casa e, agora, segue de portas fechadas, mesmo com a flexibilização. “Não temos pressa. Fizemos ajustes no dia a dia, criamos rituais, acabamos com outros, mas o rendimento não caiu. Num cenário tão incerto nos sentimos obrigados a proteger e cuidar das pessoas mais ainda. Só abriremos as portas quando estivermos 100% seguros disso, e particularmente não estou. Não será unilateral, mas pelo coletivo”, afirma Machado. “Boa parte da cultura da AKQA foi construída através da Casa, dos eventos, dos almoços e festas. Não só de quem trabalha lá, mas de toda comunidade que fazemos parte. Sem dúvida, temos saudades e vontade de voltar logo, mas estamos numa indústria que tem o privilégio de poder trabalhar de casa e não se expor ao maior perigo”, completa Veiga.
A Hands seguirá no home office mesmo pós-quarentena. “Há três anos praticamos um modelo híbrido e, desde 2017, pautados no interesse de ter as cabeças mais interessantes conectadas mundo afora”, explica Marcelo Lenhard, CEO da Hands. “O processo de desapego às questões dos processos de trabalho – até então habituais – é libertador e nos livrou de culpas imbecis que não fazem mais sentido e nos tornou mais felizes e produtivos criativamente”, completa o executivo.
Outra agência que vê o home office com bons olhos é a Bold. “Tem sido um aprendizado interessante, apesar de sabermos que, para alguns, a falta de um home office no sentido literal da palavra (um local com condições ideais para se trabalhar) dificulta o trabalho remoto”, ressalta Gabriela Hunnicutt, CEO da agência. “Estamos desenhando com calma, em conjunto com nossa área de RH, uma volta gradual, sem data definida ainda para começar”, comenta.
Já a Mark Up fez pesquisa com todos os colaboradores para saber como cada um estava vivenciando, sentindo, quais as dores ou ganhos do trabalho em home office. “A pesquisa foi reveladora: temos 85% dos funcionários adaptados e felizes em trabalhar remotamente. Empresas como o Twitter, por exemplo, disseram que, após o relaxamento do isolamento, os colaboradores não serão mais obrigados a trabalhar presencialmente”, explica Silvana Torres, presidente da agência, que estuda tal possibilidade.
O Grupo Havas, das agências BETC/Havas, HavasPlus e Havas Health&You, permanecerá em home office. “A retomada se dará de forma gradual”, diz nota da empresa, que vai, entre outras mudanças, instalar vidros na recepção e espaços necessários, e nas mesas, antes ocupadas por dez pessoas, agora terão apenas quatro.
Na Zahg, o dia a dia também será diferente. “No refeitório, inclusive, solicitaremos às equipes que cada pessoa traga e utilize o próprio prato, copo, caneca e talheres. Tudo isso para ajudar no reforço à higienização como forma de prevenção da Covid-19”, explica Márcio Jorge, sócio e diretor de inteligência da agência.
Alexandre Carmona, sócio- diretor da Innova AATB, afirma que não há uma data definida para voltar ao espaço físico. “Estamos estudando a melhor maneira para esse retorno, pensando em primeiro lugar na saúde de nossos colaboradores”.
Já a unidade de São Paulo da Propeg vai aguardar a evolução dos próximos 15 dias. “Seguiremos com home office por enquanto”, afirma Vitor Barros, CEO da agência.
Com quase 30 mil mortes no país até o fechamento desta matéria, resta torcer para que gestores e governos tomem as melhores decisões com um único objetivo: diminuir as vítimas fatais do coronavírus.