Copresidentes Sergio Gordilho e Marcio Santoro comentam o cenário atual da publicidade e enumeram principais desafios do mercado (Rodrigo Pirim/Divulgação)

No atual cenário da Covid-19, muitas agências estão entregando menos. Seja por falta de mão de obra ou decisão dos clientes, motivada pela crise financeira, entre outros motivos. No caso da Africa, é difícil ser brasileiro, ter um mínimo de contato com a mídia e não ter sido impactado por uma campanha criada pela empresa no meio da pandemia. O PROPMARK conversou com Marcio Santoro, CEO, e Sergio Gordilho, CCO, para saber detalhes desse trabalho.

“Criatividade é o mindset da indústria como um todo. Nós entregamos criatividade no fim do dia. Buscamos muitas soluções que não têm a ver com publicidade. […] Nunca a beleza interior das marcas valeu tanto”, afirma Gordilho. Um exemplo de solução que foi além da publicidade, segundo o CCO: a participação da Africa na concepção da iniciativa de Ambev que fabricou três milhões de máscaras do tipo face shield, que cobrem o rosto todo, para profissionais de saúde do país. A matéria-prima: garrafas PET.

Para Gordilho, marcas que buscam resultados além do financeiro se destacam neste período. “Elas vão sair mais fortes […]. O que nós temos de fazer é ganhar o coração do consumidor. Você ganhando o coração do consumidor, você o ganha por inteiro. Isso acontece quando você entrega para ele alguma coisa que realmente seja relevante. Que vai emocionar, informar ou cuidar”, comenta.

Para Santoro, as empresas entenderam que poderiam utilizar suas expertises e infraestrutura para auxiliar a população. Mas o executivo relembra que também há a preocupação das companhias de se manterem saudáveis como negócio. “Até para continuar fazendo isso que elas começaram. As estratégias estão indo nessa direção. Vamos botar as campanhas no ar, vamos continuar fazendo nosso papel também que eu acho que é importante, vendendo nossos produtos porque tem de fazer a economia rodar de novo, porque as pessoas terem emprego também é um ciclo social importante”, explica.

Quando o assunto são novas contas, Santoro e Gordilho destacam um posicionamento já conhecido da Africa no mercado: crescer dentro dos clientes existentes. “Durante a pandemia, para você ter uma ideia, a gente ganhou uma parte significativa da conta da Natura, que já era um cliente nosso. Ganhamos a chance de administrar esse projeto de Itaú que é gigantesco, o Todos Pela Saúde”, elucida Santoro. “Evidentemente a gente faz prospecções. Ganhamos um projeto de uma marca incrível, que é a Fila”, revela o CEO.

Segundo Gordilho, desde o início da pandemia houve uma preocupação com os colaboradores, com acompanhamento psicológico e disponibilização de equipamentos. “Conseguimos enfrentar bem, tanto que a Africa foi a agência que mais produziu durante a Covid-19. Existe uma teoria darwiniana que fala que quem sobrevive não é o mais forte, é o mais adaptável. Mas você só se adapta à realidade quando você conhece essa realidade.

Ficando em casa, temos de dividir nosso tempo entre as atividades domésticas e as atividades profissionais. Se você me ligar e falar assim: ‘Gordilho, vamos fazer uma reunião agora?’. Vou responder: ‘Eu tenho de lavar prato agora. Não vai dar’. Precisamos considerar essas atividades com os profissionais, não podemos marcar reuniões intempestivamente. Os protocolos são necessários”.

O cenário de 2020 também trouxe à tona a questão da desigualdade racial. “O cara que não assume a diversidade tá morto. Tem dois ‘Ds’ que se o cara não assumir ele morre: diversidade e digital”, diz Gordilho. O CCO comemora o amadurecimento da Escola Africa, projeto em desenvolvimento que consiste na mentoria a pessoas negras em situação de vulnerabilidade social.

Sobre retorno ao escritório, ambos são cautelosos, mas há uma certeza: a velha Africa não volta mais. A ideia é que o novo escritório seja composto por estúdios e produção. Quem quiser trabalhar no espaço, será bem-vindo. Funcionará como uma espécie de coworking.

“O modelo que a gente está olhando é completamente diferente. O que a gente trabalhava antes foi hackeado pelo coronavírus. A relação de trabalho foi hackeada e depois de hackeado você nunca mais pode voltar a ser o mesmo”, afirma Santoro. “A gente não vai voltar nunca mais para aquela estrutura porque não existe mais aquela Africa de antes da pandemia. Não existe mais o Sergio Gordilho de antes da pandemia. Somos outras pessoas, melhores ou piores. Então, aquela agência não vai voltar mais. Nosso trabalho agora é fazer com que a gente possa ter uma Africa com três ‘Fs’, mais fluida, focada e foda”, finaliza Gordilho.