Filipe Bartholomeu (Divulgação)

A AlmapBBDO mantém o status de uma das melhores agências do mercado e, segundo o CEO Filipe Bartholomeu, neste período de crise, provocado pela Covid-19, ela não parou um instante sequer. Tem na conta a criação de 20 campanhas nos últimos meses, além de outras ações que estão fora da tradicional comunicação. “O certo é que a pandemia acelerou uma série de processos”. Recentemente, conquistou o Profissionais do Ano na mais disputada categoria Nacional, com Vida, para Volkswagen. Também foi declarada pelo Cannes Lions #1 Global Agency of Decade. Segundo Bartholomeu, a agência foi “muito demandada” no ano. Ele revela ainda que está em andamento o projeto Sala Almap. Veja detalhes a seguir.

Quando a pandemia se instalou no Brasil, a Almap estava preparada para tamanha revolução?

Não. Acho que ninguém estava. Ela chegou e não estávamos preparados para receber tamanho impacto. O certo é que a pandemia acelerou uma série de processos. Estávamos nos digitalizando, consumindo conteúdo timidamente. O que aconteceu foi maior velocidade. Já tínhamos o home office em curso na agência e o digital bastante acelerado, bem acima da média, mas a pandemia fez com que tudo ocorresse mais rápido. Já vínhamos no caminho do digital. Outro detalhe importante que a pandemia nos trouxe foi testar a proposta de valor da empresa, que está conectada à criatividade em negócios. Ela foi aprovada, tanto que somos Global Agency of The Decade, do Cannes Lions.

Alguns clientes sofreram mais do que outros com a pandemia?

Sim. As companhias aéreas, como a Gol, por exemplo. Já outros se destacaram muito, como a Volkswagen, a montadora que mais cresceu nos últimos tempos, assim como Havaianas e Pepsi, que vem batendo recordes, além do Bradesco Seguros. A própria Gol já experimenta a retomada. Isso porque para cada momento da pandemia tivemos um insight. As marcas que estão se saindo bem hoje são as que não abandonaram a comunicação. Aquelas que adotaram uma comunicação mais humana também tiveram melhor performance. E a Almap tem seguido esse caminho. Os anunciantes que investiram em comunicação digital também performaram melhor.

Qual foi a estratégia criada pela liderança para manter a locomotiva no trilho e seguir em frente?

Tentamos trazer maior conforto para que o time pudesse atravessar esta fase. Primeiro, as pessoas; segundo, fazer virar nossa proposta de valor. E, com isso, também ficamos muito próximos dos nossos clientes. Além disso, passamos a olhar a transformação pela diversidade. Está em andamento um projeto para formar uma agência mais diversa, que ofereça chance para pessoas de baixa renda.

Qual o formato desse projeto?

É a Sala Almap, uma iniciativa que se compromete a ajudar na transformação do mercado publicitário em um ambiente mais plural e inclusivo. A Sala Almap não é apenas para quem quer trabalhar na criação. É um projeto de aulas (por enquanto, a distância) destinado a jovens de baixa renda, entre 18 e 24 anos, que têm vontade de trabalhar em agência de propaganda e não sabem como. O interessado não precisa estar cursando publicidade.

Você disse que o projeto está em andamento. Quando começou?

Iniciamos a primeira turma em setembro, com cerca de quatro horas por semana. Na grade de programação, estão as mais variadas disciplinas de comunicação. O diferencial do projeto é que ele não é um curso exclusivo para criação e conseguimos trazer parceiros como veículos e clientes, que vão participar da formação dessa primeira turma, composta por 20 pessoas. Ela foi selecionada com a ajuda do PerifaLions, que escolheu um grupo de estudantes de publicidade da periferia de São Paulo. Já a Adus recrutou refugiados que estudaram ou trabalharam com comunicação em seus países de origem, mas que ainda não tinham encontrado uma oportunidade de recomeçar sua carreira no Brasil. Quando pudermos retornar ao trabalho presencial, a ideia é que a Sala Almap passe acontecer também de forma presencial e em diferentes módulos.

Em tempos de crise os anunciantes exigem muito mais de suas agências. Qual foi a orientação ou atitude para o time não perder a cabeça?

Ficamos muito próximos dos nossos clientes. Encaramos como nossa obrigação, levando uma visão que eles ainda não tinham. Fomos a bússola no meio de um maremoto. Passamos a oferecer uma série de serviços, além da propaganda. Fomos muito demandados. A agência assinou, por exemplo, os lançamentos de WhatsApp (com as campanhas Carnaval e Raios de Sol) e Amazon (no ar neste momento) no Brasil. São duas das marcas mais admiradas do mundo. Até agora, foram nove novos comerciais criados para O Boticário, todos com estreia na TV aberta (intervalo do Fantástico). O Boticário não parou um instante sequer. A palavra mais importante foi e é estratégia, seja de longo ou curto prazo. É uma tendência que veio para ficar. Somamos mais de 20 novas campanhas realizadas, além de sites da Volkswagen para 19 países da América Latina. Tivemos um aumento de 160% do volume de produção de peças digitais só nos últimos meses.

E o relacionamento com o time?

Nossa estratégia é o contato com a pessoa. A palavra cultura é forte. Ela é uma bússola, que faz com que as pessoas mantenham a direção, uma estrutura muito forte. A cultura foi muito importante. Nossa operação oferece aos colaboradores terapia e ioga, por exemplo. Em consequência, tivemos uma resposta muito positiva.

A Almap sempre foi uma das principais agências do mercado. Como manter esse status em um setor tão competitivo?

Acho que nossa atitude de questionar todos os dias as nossas propostas é um dos principais diferenciais. A agência está sintonizada com todos os momentos e mantemos de uma forma nutrida a nossa cultura. Todas as lideranças, de todas as áreas, estão presentes no dia a dia da agência, com forte presença, e isso reflete no resultado final.

Como foram os negócios nestes últimos meses?

A Almap vinha numa velocidade bastante interessante durante 2019 todo, até o fim do ano. Ganhamos Volkswagen para toda América Latina e conquistamos outras marcas do Grupo Boticário, mesmo durante a pandemia. Novas contas, como Johnnie Walker, Smirnoff, Vult e Eume, entraram no portfólio da agência. Lançamos ainda a CNN no país e criamos ações para Gol e Rappi. Divulgamos otimismo na nova campanha de Havaianas e também em ações como a live da Marília Mendonça, patrocinada pela marca, até hoje a maior live de música da história.

Qual era a previsão de crescimento inicial para o ano e de quanto será a redução?

Nossa previsão de crescimento para este ano era superior a 20%, pelo ritmo que a agência vinha apresentando durante 2019. Esse percentual se justificava por uma combinação de crescimento orgânico nos negócios, crescimento de escopo dentro dos clientes e new business – foram cerca de dez novas contas entre o fim de 2019 e este ano. Tanto que o primeiro trimestre, mesmo tendo o mês de março parcialmente atingido pelos efeitos da chegada da Covid-19, confirmou as nossas previsões. Nestes meses de pandemia, apesar de uma queda natural dos investimentos, nunca fomos tão demandados por nossos clientes, com muito trabalho e problemas bastante robustos para serem solucionados em todas as frentes de negócio. São meses que nos dão orgulho pela qualidade do trabalho que colocamos nas ruas e pelos resultados alcançados.

Qual a previsão para 2021? Você acredita que no início do ano os negócios e a economia mudarão de figura?

Os negócios já estão retomando. A previsão é continuar a transformação nas receitas. Vamos crescer, mas vamos passar por novas receitas.