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O tempo de se constatar que faltam mulheres na liderança das agências de publicidade ficou para trás. Em 2018, o que existe é uma grande corrida nos bastidores para transformar discurso em prática. 

As empresas do setor estão se esforçando para criar iniciativas que buscam impactar a cultura de trabalho e facilitar o dia a dia feminino, e para estabelecer programas que as ajudem a pavimentar o caminho de destaque profissional. Com agências menos hostis às mulheres, a tendência é que cresça o número de promoções e contratações, segundo atestam os profissionais entrevistados pela reportagem.

A Publicis Brasil, por exemplo, vai anunciar nesta quinta-feira (8) o Entre, projeto encabeçado pelo CCO Domênico Massareto e ligado à plataforma de diversidade Publicis Plural, que pretende promover a capacitação de jovens criativas. O programa-piloto terá acompanhamento da ONU Mulheres e do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (Ceert) e contará com o apoio técnico da Adobe.

A ideia é selecionar 30 mulheres para um processo criativo gratuito de três meses, com aulas dadas pelo próprio Massareto, pelas diretoras de criação Marie Julie Gerbauld, Elisa Gorgatti e Juliana Patera, além dos times da Adobe e da ONU.

“Na agência, 61% das lideranças são mulheres. Esse equilíbrio de visões é muito importante tanto para que possamos promover uma cultura mais diversa, quanto para apresentar aos nossos clientes visões e soluções completas”, explica o copresidente Eduardo Lorenzi. “Quando eu e o Eduardo assumimos a copresidência da Publicis, promovemos quatro mulheres na linha de frente da agência. Só para se ter uma ideia, dos 20 profissionais que compõem hoje o nosso Comitê Executivo, 11 são mulheres”, ressalta a também copresidente Miriam Shirley.

REGIONAL
Outra agência que está se movimentando é a WMcCann. Segundo seu CEO, Hugo Rodrigues, todas as promoções para cargos de liderança em 2018 foram de mulheres. A agência faz parte do Women Leadership Council (WLC), iniciativa regional da McCann Worlgroup que trata a questão da diversidade dentro da rede. Fazem parte do conselho duas profissionais da agência brasileira: Debora Nitta, vice-presidente de planejamento, e Viviane Pepe, diretora de criação.
Nesta quinta-feira (8), a McCann América Latina lança um plano regional com orientações e métricas que devem ser adotadas pelos 15 mercados, a partir dos resultados de uma pesquisa ampla, conduzida com todos os funcionários, sobre políticas de gênero.

“A agência atravessa um processo de transformação e adequação de sua estrutura, com mudanças na equipe, muitas delas inclusive anteriores à minha chegada, o que se reflete numa maior presença masculina em cargos de vice-presidência, por enquanto”, avisa o publicitário. “Restringir a participação feminina nos cargos de liderança é menosprezar o potencial que 50% da sociedade pode aportar em termos de visão e ideias, o que, certamente, empobrece nossa realidade e diminui nossa capacidade”, completa.

A quantidade de promoções de mulheres em cargos mais estratégicos cresceu em outras agências. Segundo a head de talentos da J. Walter Thompson, Larissa Griska, houve diversas contratações e ascensões nos últimos meses. Alguns exemplos são Ana Raquel S. Hernandes, promovida a chief operating officer (COO), Stella Pirani e Mariana Quintanilha, que dividem a liderança do planejamento, a head de mídia Giovanna Venturelli. “A criação recebeu Ana Cavalcanti, que se junta a Renata Leão e Mariana Borga, totalizando três diretoras de criação”, ressalta.

Na BETC/Havas, há políticas de igualdade no processo de seleção de profissionais e isonomia salarial, além de debates sobre o tema e um acordo com o Women Empowerement Principles (WEP), pacto da ONU com diretrizes para as empresas se comprometerem com a igualdade de gênero. “A presença das mulheres e seu papel estratégico na gestão não é um plano futuro ou uma ambição. A representatividade das mulheres em postos de liderança é um fato. Mais da metade do board da agência é composto por mulheres, sendo mais da metade de nossas disciplinas e equipes liderada por elas”, afirma Erh Ray, sócio e presidente da BETC/Havas.

VÁ DE TÁXI
Dois projetos são considerados os mais importantes pela Ogilvy Brasil no que tange à igualdade de gênero. Um deles é o Amamentáxi em que, depois da licença-maternidade, as mulheres têm direito ao táxi de ida e volta na hora do almoço para ter um tempo com seu bebê. Outro programa interno da Ogilvy é o Somos, comitê que promove diálogo sobre temas como a igualdade de gênero. “Essa questão é tratada como de grande relevância pela Ogilvy global. Somos cobrados, incentivados e apoiados a criar programas internos de igualdade e combate ao preconceito”, explica Patricia Fuzzo, diretora de RH do Grupo Ogilvy Brasil. Segundo ela, nos últimos seis meses, 31 mulheres foram promovidas na agência, nas mais diferentes áreas.

Ela reconhece que, ao contrário de outros setores, a criação ainda tem desequilíbrio entre homens e mulheres. Mas o tema, diz Patrícia Fuzzo, já é tratado como prioridade por Claudio Lima, vice-presidente de criação. “Não temos, recentemente, um grupo de contratados ou promovidos na criação sem que haja mulheres. Sabemos que precisamos avançar. Mas, o mais importante, é que estamos nos esforçando e trabalhando para mudar esse quadro”, diz a executiva de RH.

GAP
Outras agências têm tentando resolver a questão da criação. A rede DDB lançou o The Phyllis Project, com foco na necessidade de igualdade de gênero na liderança criativa. Redatora da DM9DDB, Carla Cancellara foi selecionada para o programa, onde receberá mentoria de um dos líderes do Creative Council global. Liderado por Amir Kassaei, CCO da DDB, o projeto escolheu 12 criativas de diferentes escritórios para ampliarem seu repertório nos próximos dois anos, com presença em campanhas globais, eventos do setor e treinamentos.

Entre as agências de capital nacional, também há uma série de iniciativas no sentido de dar mais oportunidades às mulheres. Carolina Pelicano, vice-presidente de negócios da BFerraz, afirma que, nos processos seletivos para contratação de funcionários, pelo menos um dos participantes deve ser mulher. Além disso, não há discrepância salarial. “Temos 24 mulheres na agência ocupando cargos de liderança. Além disso, dos 128 funcionários, 74 são mulheres”, afirma a executiva. Ela foi promovida, em fevereiro, assim como Mariana Fleury, também vice-presidente de atendimento.

Segundo Carolina Pelicano, há uma série de iniciativas para o dia a dia como jornadas de trabalho com horários mais flexíveis para os funcionários, seja para as mães poderem levar ou buscar seus filhos na escola ou participar de cursos e palestras. “Temos certeza de que a gestão feminina agrega nos processos internos e nas estratégias de negócios da agência”, analisa.

Na Propeg, o vice-presidente de atendimento e gestão Vitor Barros fala que 70% dos cargos de alta gestão são ocupados por mulheres. “Temos bons exemplos de mulheres que entraram como estagiárias e hoje ocupam cargo de diretoria, além de casos de pessoas que entraram no cargo de gerência e são hoje vice-presidentes. As principais lideranças na área de Planejamento, Mídia, Digital e Diretorias de Atendimento são mulheres”, afirma. Ele, no entanto, acredita que a agência deve se preocupar em dar oportunidades para todas as pessoas crescerem. “Avaliamos sempre a capacidade técnica. Demos sorte de ter encontrado mulheres incríveis para em nossa equipe”, resume.

A Heads assinou os princípios de empoderamento feminino da ONU Mulheres, entidade parceira e cliente da agência. Hoje, das lideranças da agência, metade é mulher. A empresa promove ainda, a cada seis meses, a pesquisa Todxs – uma análise de representatividade de gênero e raça na publicidade brasileira, além de ter recebido o Great Place to Work para Mulheres no ano passado. “O nosso plano é de dar continuidade ao que viemos construindo até aqui, buscando ser uma agência humana, criativa, interessante e saudável para as pessoas”, afirma Ira Finkelstein, vice-presidente de estratégia da Heads.

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