Chimamanda Ngozi Adichie nasceu na Nigéria e cresceu contando histórias de pessoas loiras de olhos azuis que comiam maçãs e viviam na neve, embora todos que ela conhecesse fossem negros, estivessem habituados às altas temperaturas e comessem mangas. Leitora assídua de livros ingleses e americanos, Chimamanda descobriu, em determinado momento, a literatura africana e foi só então que compreendeu a importância de diversificar o seu repertório.
Alguns anos atrás, a escritora relatou esse caso em um Ted Talks cujo vídeo viralizou na internet. Ela advertiu o público para os perigos de se contar uma única história com conceitos simplistas e estereotipados que nos impedem de ver os outros como eles realmente são. As pessoas são um somatório de diferentes experiências, lembrou, e levar isso em conta é fundamental para que possamos entendê-las e nos conectar com elas.
No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a autora de Somos Todos Feministas surge naturalmente na minha mente como uma fonte de inspiração diária. Para mim e para todos nós, profissionais da área, que temos a missão de impactar milhares de pessoas tão diversas quanto únicas.
Mas a verdade é que a lista de mulheres que me motivam a tentar melhorar sempre parece se estender ad infinitum e as lições que elas passam são tão encorajadoras quanto apaixonantes. Poderia recorrer a ícones internacionais em voga, como Michelle Obama ou Oprah Winfrey, mas hoje prefiro olhar para o nosso próprio país – esse Brasil que é uma verdadeira máquina de produzir gente guerreira e imaginativa, capaz de superar desigualdades e dificuldades sobre-humanas.
É essa a história de Cleide Maria da Silva, que foi boia-fria, virou empregada doméstica e hoje é a dona da maior rede de doces do país, a Sodiê. Ou de Heloísa Assis, a Zica, a empresária que cansou de tentar alisar os seus cabelos crespos e ao se aceitar como é, criou uma rede de salões que valoriza a beleza natural da mulher negra. Tudo a ver com o nosso dia a dia de trabalho: identificar um problema, buscar a solução, apresentá-la ao mercado, gerar bons resultados.
Na lista de mulheres notáveis, mas não necessariamente famosas, preciso incluir minha tia Conceição. Mulher simples, que cresceu no interior de Minas e quando morreu parou a pequena cidade de Lavras. O motivo pelo qual ela despertava tanta admiração era um só: minha tia sempre soube que a coisa mais importante da vida é a solidariedade e deixava isso bem claro para todos os que conviviam com ela. Esse valor é o que de melhor carrego comigo para implementar, ao lado do Eduardo Lorenzi, uma gestão cidadã, que valorize acima de tudo o fator humano na Publicis.
Mas não poderia fechar este texto sem lembrar das muitas (ainda que não tantas como gostaria) colegas publicitárias e profissionais de marketing com quem trabalho, já trabalhei ou simplesmente acompanho a trajetória. Que nós possamos, juntas, deixar um legado de equidade de gênero e paixão pelo trabalho para as gerações que vêm por aí.
Miriam Shirley é copresidente da Publicis
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