Na semana passada, participei de um evento bastante interessante. Refiro-me ao Red Week Ideas, organizado pela RedHook, de Curitiba. Sob o tema Creative Effectiveness, o evento levou palestrantes brasileiros e gringos para discutir o mercado das ideias, tendo a propaganda como foco central.
Estive lá para apresentar uma síntese do Cannes Lions 2016, como tenho feito em diversos lugares do Brasil, graças à parceria da Fenapro com o Estadão.
Pois bem, entre as boas palestras, acompanhei a de Peter Kronstrom, Head do Copenhagen Institute for Futures Studies Brazil. Peter é um dinamarquês divertido, com aquele sotaque de gringo, que está há pouco tempo no Brasil.
O conteúdo da sua apresentação foi muito interessante, o que me inspirou a escrever este artigo. Na sua apresentação há diversos insights e tendências sobre o futuro. Algumas delas bastante previsíveis e assimiladas por quem está antenado, outras nem tanto.
Prever o futuro é uma tarefa inglória. Acompanhar as tendências e acertar a hora de surfar uma nova onda, ainda mais. Com a chegada da televisão, previu-se o fim dos cinemas e eles estão aí, fazendo parte das nossas vidas.
Mais recentemente, previram o fim do livro físico, impresso em papel. No entanto, números recentes mostram um surpreendente aumento de vendas dos livros físicos, em detrimento de uma estagnação das vendas de e-books.
Vaticina-se o fim de jornais e revistas e vemos movimentos que podem fazer esses futuristas queimarem a língua. Basta ver o case premiado no Cannes Lions deste ano, do New York Times, que distribuiu mais de um milhão de óculos de realidade virtual (cardboards) a seus assinantes, fazendo-os imergir numa matéria sobre os desabrigados decorrentes do êxodo de refugiados de países em guerra. No impresso, a matéria completa sobre esse importante e momentoso tema.
Por intermédio dos óculos, os leitores podiam complementar sua experiência com a sensação de estar dentro de campos de refugiados, sob o ponto de vista de garotos.
Aqui no Brasil, vemos iniciativas semelhantes, fazendo-nos acreditar numa boa sobrevida de veículos impressos. Um bom exemplo é o que a Abril vem fazendo, capitaneada pelo visionário Walter Longo.
Da época em que trabalhei numa agência que havia sido alvo de uma bela reconcepção arquitetônica, lembro-me do meu estranhamento por não haver gavetas nas mesas de trabalho.
“Ora, meu caro, estamos na era do paperless. No futuro breve você não sentirá falta de um local para guardar esse monte de papel”, disse o arquiteto. Resultado: meses depois, as mesas receberam os tais gaveteiros, já que ainda havia muito papel para se manusear e guardar.
Temos observado muita gente quebrando a cara por conta de acreditar piamente em previsões e tendências. Não que elas não sejam válidas. Muito ao contrário, acho que todos nós devemos ficar muito atentos aos movimentos do mercado e aos sinais de mudanças. Eu mesmo, assino a plataforma de tendências Trend- Whatching e me interesso muito por tendências.
Só acho que devemos ponderá-las muito bem para não se dar mal. Lembro-me de ter visto uma apresentação citando um fato que ilustra bem esse raciocínio: a finada revista Realidade, sucesso editorial dos anos 1980/1990, reuniu futurólogos e pensadores, em 1980, para exercitarem uma previsão sobre a virada de século e de milênio, o ano 2000.
Resultado: alguns apostavam no carro voador, outros em prédios interligados…, mas ninguém previu a internet.
Ou seja, ninguém previu o fenômeno mais marcante da virada de século/milênio. Usaremos carros sem motorista ou não teremos carros em 2030?
Será que a Inteligência Artificial substituirá seres humanos em grande escala? Será que a Realidade Virtual sobrepujará a Realidade Física? O que será que será?!
Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda)
alexis@fenapro.org.br