Todo filme, série e novela deveria ter por princípio tirar o espectador do seu ambiente de conforto – em geral, a poltrona, sofá ou cama – e colocá-lo dentro da trama que se desenrola. Mesmo que a dita criatura que assiste esteja ali, diante do aparelho, só para relaxar, descontrair, enquanto o jantar não sai ou o sono não vem. Seria básico, mas não.
Temos por aí diversos exemplos. No cinema, há um número sem fim deles. O bom filme é aquele que suspende e mantém você no ar por algum tempo. É aquele que não acaba quando termina. Mas, nem sempre é assim, infelizmente. Nesse contexto se encontra o merchandising, que em excesso incomoda. Há boas ideias, que até encantam, quando sutis e bem encaixadas. Mas quando interrompe a rotina do personagem tira também o telespectador da “viagem”, o que pode não valer a pena.
Neste momento em que todos tentam rever posturas e posições para conquistar mais e melhor têm coisas que deveriam passar pelo crivo e controle de qualidade. Vivemos numa época em que se investe muito para manter o que se tem e chamar a atenção de outros segmentos. Os projetos – brandend content, conteúdo patrocinado e o bom e velho merchandising – surgiram para oferecer uma nova experiência ao consumidor e, aproveitar, para ampliar o faturamento.
E têm sido bons companheiros na luta para fechar as contas, mas tudo deve ser bem pensado, já que a sociedade aceita bem quando se mantém certa postura. Trocando em miúdos, não enche o saco de quem assiste você.
Um recente exemplo bem acabado de brandend content foi exibido no Esporte Espetacular do último dia 20, na TV Globo. Mostrou uma corrida patrocinada pela Olympikus, no Pantanal mato-grossense, que, mesmo aqueles que nada têm a ver com a atividade, ficaram curiosos. Superinformativo, sem o puxar-saco da marca patrocinadora de material esportivo, o programa pode ter elevado audiência.
O caminho a ser trilhado talvez seja esse para os anunciantes, que testam outras formas de comunicação que não sejam
só a publicidade. E tem veículo até fazendo bobagem para atrair os mídias de agências para os seus canais.
Recentemente, um site criou um projeto para envolver os mídias de agências em uma promoção que desagradou gregos e troianos. Gerou inclusive “nota de repúdio”, assinada pelos principais representantes do mercado.
O puxão de orelhas da Abap, APP, Fenapro e Grupo de Mídia São Paulo condenou a prática, dizendo que “o planejamento de mídia para anunciantes deve ser sempre desenvolvido tecnicamente baseado nas sofisticadas ferramentas de mercado existentes”. Claramente alertou que “promoções deste tipo não atendem aos critérios técnicos e à conduta ética, devendo sempre ser repudiados pelos bons profissionais das agências de publicidade e propaganda e seus departamentos de mídia”.
A “cantada” do site junto aos profissionais de mídia anunciava: “Alou, alou (sic), mídia. Está rolando bonificação especial aqui…”. Oferecia par de convites para camarote VIP de show de famoso DJ. Mas tinha de cumprir cota (em reais) de inserção. Valeu a pena?