Quando a comunicação governamental deixa de dar relevância ao profissionalismo é o que se vê: uma permanente sensação de se estar vivendo numa casa de doidos. Isso não é novo. Muitos de nós que tivemos a oportunidade de trabalhar com clientes que padeciam do mesmo mal, vivemos essa realidade de perto.
Aliás, casos emblemáticos se deram, com frequência, em empresas familiares. Todo mundo dando pitaco e sem nenhum fundamento técnico. Apenas gosto, não gosto, ou não gosto porque Fulano gostou ou gosto porque gosto de Beltrano. Um ambiente sempre saturado de amadorismo e movido a fofoca. Enquanto isso, a agência exercendo um esforço extraordinário para emplacar alguma coerência no projeto de construção da marca e sempre dando com os burro n’água.
Porque nesses ambientes de completo desconhecimento do valor da comunicação a irresponsabilidade é quem estabelece os padrões de conteúdo e forma. Porque não há um comando respeitado que se imponha pela capacidade técnica ou pelo menos pelo bom senso.
Na melhor das hipóteses, quem manda, de fato, ganha no grito, o que costuma servir apenas para que a sua vontade bizarra ganhe notoriedade e afunde ainda mais a imagem do negócio.
Geralmente esta postura boçal e arrogante costuma vir acompanhada de uma vaidade tosca e que só adianta para impulsionar ainda mais as piores ideias e que sempre levam aos piores resultados. Diante do fracasso anunciado, o autor dá um tempo para que reparem o estrago causado e um outro aventureiro ocupa o espaço e procede uma outra besteira à guisa de solução. Qualquer profissional que tenha passado por isso, como fornecedor, sabe bem do estresse sofrido.
A relação entre cliente e agência se dá sob total insegurança e nada do que se planeja, por mais lógico e adequado, tem qualquer garantia de que será compreendido, aprovado e aplicado. Ou seja, desperdiça-se talento, tempo e dinheiro à toa. Porque a reputação da empresa estará sempre à mercê de rompantes de quem se acredita capaz sem, na verdade, estar minimamente capacitado.
O final de tanto desmando e negligência costuma ser o grave comprometimento da imagem da marca e seu desvalor. Não surpreende que o governo atual se assemelhe a um ambiente desses.
Quando o secretário da comunicação resolve que não cumprirá nenhum dos acordos, trabalhosamente costurados pelo Fórum da Comunicação, durante anos, e que visou dar absoluta transparência para as relações entre o poder público e as agências de publicidade, isso por si só dá bem a medida da falta de profissionalismo vigente.
E o que é pior: que se manifesta através de atitudes que transparecem uma espécie de mágoa infantilóide de quem não demonstrou alguma vez mérito suficiente para ganhar com justiça o seu espaço no mercado.
Causa espanto que a comunicação do governo de um país com o significado que o Brasil tem para o mundo esteja totalmente à deriva. Como no pior exemplo de empresa familiar, em que todos se sentem no direito de expressar orgulhosamente a sua incompetência.
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing (stalimircom@gmail.com)