A futurista falou sobre a importância de se trabalhar com previsão de cenários ao apresentar tendências de tecnologias emergentes
Em um auditório lotado, com parte da audiência chegando duas horas antes do início do painel para garantir lugar, a futurista Amy Webb apresentou a edição de 2025 do seu relatório sobre tendências tecnológicas emergentes, neste sábado (8), durante o SXSW (South by Southwest), em Austin. Amy, que acaba de lançar a consultoria FTSG, começou a palestra afirmando que este é o ano mais difícil do mercado, novamente – isso porque ela fez essa mesma afirmação no palco do SXSW no ano passado.
“Eu não sei por que não consigo parar de pensar em autoritarismo. Há muitas mudanças e variáveis do clima que estão impactando o mundo. Temos de ir além para explicar o que está acontecendo, como descobertas de plástico no cérebro das pessoas. Como resultado, as regras da sociedade como nós conhecemos começam a se quebrar, porque é uma transição para o que chamo de beyond (ir além)”, explicou.
Ela destacou que vivemos a era do Fomo (Fear of Missing Out) e isso explica por que sentimos que os anos passam tão rápido. Amy ressaltou que em um mundo em transformação como agora em que temos essa sensação de estar sempre perdendo algo é fundamental que as empresas e os profissionais trabalhem com tendências e previsões de cenários.
“As tendências dizem onde estamos no presente e influenciam o futuro. Nós combinamos isso com coisas que não sabemos e os resultados são os macrocenários. Os cenários são ótimos, mas os líderes não sabem o que fazer com isso. Em nossa consultoria acreditamos que o mundo precisa de mais tendências futuras para entender um cenário. O nosso relatório tem mil páginas, mas vou resumir para vocês”.

Antes de listar as tendências, Amy falou sobre o conceito ‘Stone in your shoe effect’ (Efeito da pedra no sapato), que mostra como as pessoas vão em frente sem planos, sem estratégia. Segundo ela, isso explica como líderes tomam decisões catastróficas em um mercado em transformação.
“Imagine que você está caminhando na rua, sente uma pedra no seu sapato e abaixa para tirar a pedra do sapato. De repente, uma pessoa adorável tenta te ajudar, mas você não dá a mínima, porque está tentando tirar a estúpida pedra do sapato. Mas a pessoa é simplesmente Pedro Pascal", brincou ela.
Segundo Ammy, esse tipo de atitude causa o que chama de deterioração cognitiva e se você não intervir o seu cérebro vai priorizar esse desconforto, em vez de tomar decisões certas para planejar o futuro. "Isso explica por que CEOs reagem em vez de anteciparem situações, porque empresas não inovam e porque temos medo do futuro, em vez de planejar o futuro. O problema é que essa pedra no sapato não vai embora, o futuro vai chegar, independentemente de como a gente se sente. No final, você vai se sentir desconfortável e ter a sensação de Fomo de qualquer jeito. E não intervindo, você perde a habilidade de construir o futuro.”
Uma das tendências apresentadas pela CEO da FTSG é a combinação de inteligência artificial com biologia. “Os avanços no último ano são chocantes. Toda companhia que fabrica qualquer produto físico pode ser impactada por essa tecnologia, que pode criar qualquer tipo de alimento ou produto adaptado. E isso não é o futuro, já é realidade e está sendo desenvolvido. Eles são chamados de metamaterials (materiais sintéticos), que não são encontrados na natureza e desenhados pela engenharia com objetivos precisos. Matematerials quebram todas as regras da física. Eles podem ter formas impossíveis e mudar as propriedades dos produtos.”
Ela continuou: “Não sei sobre vocês, mas isso me causa muito desconforto. Qual é o plano da sua empresa? Porque vão surgir novos competidores e eles serão muito mais rápidos”. Ela também falou sobre wearable cells, ou seja, ‘acessórios’ em células. Com essa tecnologia, será possível, por exemplo, estimular o neurônio específico no cérebro de um paciente com Parkinson para ajudar no controle do tremor.
O destaque ficou com a LI (Living Intelligence), inteligência viva numa tradução livre. São sistemas que podem sentir, aprender, se adaptar através da inteligência artificial, sensores avançados e biotecnologia. “A LI vai transformar as decisões futuras de todos os líderes. E nós não estamos preparados para a LI. E a LI não é a mesma coisa que AGI (inteligência artificial generativa), embora seja uma parte dela. O problema é que a maioria das organizações está focada em IA. Ninguém ainda descobriu o que isso realmente envolve. LI vai ajudar a resolver os problemas em relação à energia e acelerar o desenvolvimento de robôs”, disse ela.
A futurista decretou que esta será a era dos robôs. “Nós vivemos com essa ideia de conviver com robôs há tanto tempo, mas ainda não temos robôs em casa. E a questão é que o que segurou o avanço dessa tecnologia é que os robôs se confundem com desordem. E com a living intelligence, finalmente a década dos robôs chegou. Os robôs serão mais adaptáveis e mais ‘humanos’”.
Em sua conclusão, Amy falou que o objetivo de fazer previsões de cenários futuros é explorar o que o além pode trazer como resultado. “Estou falando sobre ir além como uma metáfora, mas a realidade é que ir além não é uma metáfora. Essa não é a hora de dizer que não há o que fazer", lembrou.
Segundo Amy, você cria um futuro melhor tomando as decisões certas hoje. "Trabalhar com previsão de cenários é a melhor estratégia para tomar as decisões certas e não ser pego de surpreso ou estar cego num cenário que não foi previsto. É importante que vocês prestem atenção no que está acontecendo, assim como as pessoas que estão ao seu redor. Você cria um futuro melhor tomando as decisões certas. Precisamos trabalhar juntos”, finalizou.