O esforço das produtoras, empacotadoras e programadoras em se adequar às determinações da nova lei do setor de TV por assinatura foi reconhecido por Manoel Rangel, diretor-presidente da Ancine (Agência Nacional do Cinema), durante o Fórum Brasil de Televisão, nesta terça-feira (4). Na palestra que abriu o primeiro dia de debates do evento, o executivo avaliou a indústria nacional e afirmou que o número de produções brasileiras exibido na TV paga ainda é baixo, mas reflete o início de uma movimentação forte no setor. “Temos acompanhado de perto o conjunto de mudanças que se seguiu desde a implantação da Lei 12.485. O mercado de produção e programação está aquecido. Houve um estreitamento nítido de relações entre quem produz e quem exibe conteúdo. Apesar disso, o nível da produção independente está aquém do ideal. Isso, no entanto, está relacionado a fatores externos à Lei”, afirmou.
As novas regras determinam a cota mínima de conteúdo nacional exibido nos canais em 3h30 semanais. Shows de música, que costumam ter boa audiência, não são considerados. “O público percebe e se identifica com essa programação, mas há muitas reclamações sobre o excesso de reprises. A Ancine tem uma relação de confiança com as empresas envolvidas e, por isso, ainda não estipulou limites nesse sentido. Mas estamos de olho para, se necessário, intervir”, disse Rangel.
A declaração gerou polêmica entre representantes de produtoras na plateia, que questionaram, sobretudo, a dificuldade de produção por conta da burocracia envolvida no processo de liberação de recursos. A questão, segundo o presidente da Ancine, é uma das prioridades para 2013. “Estamos esgotando as medidas de facilitação dentro do modelo atual. Sem quebrar o paradigma, não há como mudar. Este é um item que será tratado ao longo do ano, porque não depende apenas de nós, mas também da administração pública federal. É uma negociação complexa e esperamos que em 2014 o processo esteja reformulado”.
Rangel atentou para o fato de que o mercado aquecido demandará cada vez mais ideias e roteiros. Como atrair novos talentos é outra pergunta em aberto. “A Ancine nunca questionou o programa de formação nas universidades e instituições. Vemos cada vez mais empresas incluindo cursos de cinema na grade, e isso é ótimo. Por outro lado, é comum ouvir reclamações sobre o profissional formado, o que nos chama a atenção. Há, no Brasil, problemas nítidos no que diz respeito à dramaturgia e ao cinema como negócio. Creio que são necessárias medidas junto ao Ministério da Educação para atuação nas universidades. O diagnóstico está feito, o que fornece a base para a resolução das adversidades”, disse.
O objetivo claro é tornar o país cada vez mais representativo no mundo do audiovisual, o que requer um trabalho conjunto entre governo, universidades e empresas. “A rigidez em relação ao financiamento, a falta de roteiros de qualidade e de bons profissionais, a pouca diversidade regional e a carência em tecnologia são problemas antigos e independentes da Lei, mas acredito que sua criação foi um grande passo no sentido de estimular resoluções e fazer do Brasil um grande produtor”, finalizou Rangel.
O Fórum Brasil de Televisão também promoveu debates entre produtores e executivos e contou com a participação de Daniel Heaf, chief digital officer da BBC Worldwide, que apresentou iniciativas do grupo para acompanhar a velocidade de propagação de conteúdo no universo digital. O evento segue durante a tarde desta quarta-feira (5).