Um pouco mais além

Lendo o belo e pertinente artigo do Gustavo Bastos no PropMark (http://www.propmark.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=57315&sid=6), realmente podemos traçar um paralelo muito bom com a nossa vida real. Eu, também publicitário e amante incondicional do carnaval carioca, queria aproveitar o belo texto do Gustavo e ir um pouco mais além.

Resgatando um pouco do recente histórico de Paulo Barros, sua ousadia e criatividade já haviam batido na trave em outras duas ocasiões: Em 2004 e 2005 Paulo Barros conseguiu dois vice-campeonatos consecutivos, abrindo os olhos do público para o seu carnaval. Nestes anos já começou a inovar com “carros-humanos-coreografados”, que arrancaram suspiros na Sapucaí. Cinco anos depois, ele consegue o tão almejado título, dando uma grande visibilidade ao desfile da Tijuca. Mas o que se viu, nos dias seguintes, não foram apenas pessoas que gostam de carnaval comentando sobre o desfile. O desfile da escola caiu na boca do povo. Virou assunto recorrente por alguns dias entre fãs e não-fãs de carnaval. Mas qual o motivo deste burburinho todo? Simples: Apenas o fato de Paulo Barros ter saído do lugar comum, de ter extrapolado as fronteiras do desfile tecnicamente perfeito, frio e sem emoção.

Transportando o tema para a nossa vida publicitária, podemos ter dois olhares: O lado de quem cria, de quem inova e todo dia precisa matar um leão para sobreviver e manter uma conta na agência. Por esta ótica, persistência, ousadia e competência fazem toda a diferença. Mas podemos olhar também pelo lado do “cliente”. Sim, Paulo Barros teve seus clientes, que aprovaram e reprovaram campanhas, anúncios e filmes. No caso dele, aprovaram e reprovaram carros, alegorias e fantasias. E o cliente do Paulo também foi ousado. A diretoria da escola deu um voto de confiança, acreditou nas idéias e quebras de paradigma de um desfile tecnicamente perfeito, que costuma ganhar campeonatos, e está colhendo seus frutos por isto. Depois de 74 anos, uma escola que figurou muito tempo no grupo de acesso, levantou o caneco do Grupo Especial.

Este case– sim, podemos dizer que é um case de sucesso, merecedor de um Grand Prix no “Festival de Cannes do Carnaval” – nos ensina que, de um lado ou do outro, inovar com competência e sabedoria pode nos trazer frutos que muitas vezes não acreditamos. Falo isto vivendo e vendo nosso mercado publicitário. Mas certamente vale para a maioria dos mercados e até para as nossas vidas pessoais. Basta termos, agências e clientes, ousadia, criatividade, competência e algo que às vezes nos falta: coragem.

Termino com uma pergunta, parte do samba-enredo da Tijuca, que deve nos sempre nos inquietar: “PARE PRA PENSAR, VAI SE TRANSFORMAR,
OU ESCONDER ATÉ O FINAL?

*Diretor de atendimento da W/ (a.rossi@emaildaw.com.br

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