Quarta-feira da semana passada houve eleições parlamentares aqui em British Columbia. Fiquei sabendo porque onde chego no mundo a primeira coisa que faço é comprar jornal. No mais, o dia teria passado sem nenhum movimento atípico a não ser por um detalhe: no espaço do ônibus onde é indicado o destino da linha, aparecia, alternadamente, a mensagem “today vote”. O voto não é obrigatório, portanto as pessoas precisam ser estimuladas a votar. A campanha política, em si, é praticamente invisível.
Uma única vez peguei um folheto de candidato. É interessante que, por lei, você não pode ser abordado na rua por alguém que esteja fazendo alguma divulgação. O interessado na sua atenção pode falar do que se trata, mas não pode levar a mão em sua direção para oferecer alguma coisa. É você, ao ouvir, quem pede o folheto. Foi o que fiz e recebi uma mensagem de James Filipelli, de um partido chamado Your Political Party. Ele oferecia, entre outras coisas, “promessas de campanha juridicamente vinculadas” e “tomadas de decisão baseadas em evidências”.
Parece elementar? Pois é. Fico com a impressão de que, por aqui, prometer alguma coisa e não cumprir ou fazer promessas mirabolantes constituem um risco levado muito a sério. As impressões de um visitante temporário são sempre suspeitas, mas tenho percebido que a grande razão das coisas funcionarem civilizadamente nessa cidade é o fato de a população exercer uma fiscalização muito atenta sobre as próprias atitudes. E o grande castigo ser “pagar mico”.
Por exemplo, uma única vez cometi o “pecado” de tentar aproveitar o finalzinho do tempo para atravessar uma faixa de pedestres. Tinha um canteiro estreito no meio da avenida e não alcancei ultrapassar o segundo trecho. O ônibus que entrou à direita era longo e eu tive de me afastar para que o motorista conseguisse fazer a curva. Ele parou, buzinou e ainda deu uma bronca. Mico! Outra vez, um carro avançou correndo pela rua em que estou morando. Estranhei. Em quase duas semanas, não havia visto nada brusco no trânsito. Não demorou meio minuto e escutei um “corretivo” em altos brados. Era um ciclista que fez o carro parar.
Ainda uma ocasião, um jovem resolveu entrar no parque sem ter acabado de fumar. A senhora que fazia a sua corrida parou e fez com que ele apagasse o cigarro. A única vez em que vi uma intervenção policial, digamos, “repressora”, foi quando em English Bay um guarda, educadamente, explicou a duas pessoas com os seus cachorros na areia por que deveriam sair com eles da praia.
Numa viagem de Skytrain, outra cena surpreendente. Embarcam dois sujeitos vestidos muito simples, um deles aparentemente um pouco embriagado. Numa das paradas, uma policial coloca a cabeça para dentro do vagão e dá uma olhada geral. Quando está se retirando, vê os sujeitos e encara a um deles. Pensei comigo: “pronto, vai enquadrar os caras porque estão mal vestidos”. Cabeça de brasileiro. Ela simplesmente perguntou: “não foi você quem tinha perdido alguma coisa ontem e estava procurando? Encontrou? Ótimo. Tenha um bom dia”. Meu queixo caiu.
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing