Alexandre Costa, fundador e presidente da Cacau Show: “Nunca sonhamos em abrir 500 operações neste ano” (Divulgação)

A Cacau Show pretende abrir 500 operações em 2021. Até agora, já assinou 200 contratos. A meta é considerada um recorde na história da empresa fundada em 1988 por Alexandre Costa. Nesta entrevista, o presidente de uma das marcas mais queridas do Brasil conta que o pico foi de 250 lojas inauguradas em apenas um ano. Com modelo de franquias em contêineres, a companhia busca fomentar o empreendedorismo no Brasil. Costa também fala sobre as expectativas para a Páscoa e afirma que houve um movimento de antecipação de vendas de ovos neste ano.

Como sustentar tantas inaugurações de lojas?
Nunca na história da empresa sonhamos em abrir 500 novas operações neste ano. Até agora, já estamos com 200 contratos assinados. O nosso pico na vida foi de 250 lojas em um ano. É o dobro de lojas. Criamos um modelo, de contêiner, onde a gente define o local, tem retorno e o investimento é baixo. A partir de R$ 60 mil, a pessoa já pode ser um franqueado da Cacau Show. A nossa estimativa é que do total de 500 novas lojas, 200 sejam em formato de contêiner, e cerca de 70% desses novos estabelecimentos estão sendo feitos por franqueados.

A retração econômica pode atrapalhar os planos?
Foi um caminho natural porque o valor de R$ 60 mil é o preço de uma quitação de um gestor de uma empresa, então, o sonho do negócio próprio, com uma marca forte como a nossa, se torna viável. Estamos pegando carona neste momento para oferecer uma oportunidade para as pessoas, e fortalecer o empreendedorismo no Brasil. Como eu fiz um dia, as pessoas também vão poder ter a própria empresa. A diferença é que elas vão ter um apoio e conhecimento, que eu não tive.

Pretendem chegar a outros países?
Ainda não estamos fora do Brasil, mas estamos perto. Neste ano devemos ter novidades. Se for na América Latina, vai ser levando a nossa marca. Se for Europa, será comprando uma marca lá.

O que faz da Cacau Show uma marca forte?
A verdade na essência da marca é a nossa maior fortaleza. Somos coerentes por um simples motivo: a gente é de verdade. Apesar de ter metade das pessoas em home office, o clima na empresa é incrível, estamos superando juntos as dificuldades. O que nos tocou muito no meio dessa pandemia foi realizarmos a força da marca, a força da nossa construção, uma construção toda feita em bases sólidas. Não existe reunião para inventar valores para a marca. Reproduzimos o que está na nossa alma. Por que transformamos 500 dólares em um negócio de bilhões, e de 12 mil pessoas atualmente? Porque temos proximidade, carinho, gentileza. Por outro lado, temos também pragmatismo, energia e muita disposição para trabalhar.

Como essa fortaleza se reproduz na prática?
Vamos doar nesta Páscoa, em parceria com o Instituto Cacau Show, um milhão de unidades de ovos de Páscoa para quase cinco mil instituições em todo o Brasil. A música da campanha é do Tom Jobim, É impossível ser feliz sozinho. Esse é um dos gestos que cumprem o nosso propósito de marca. Essa ideia surgiu no ano passado, quando a pandemia nos pegou de surpresa. Tínhamos ovos aqui, e resolvemos doar. Neste ano, a gente fez para doar. É o momento de falarmos para o mundo que, no ano que vem, tenho certeza, não vai ter pandemia, e a gente vai doar novamente. Estamos aqui para fazer todo mundo feliz, todos os nossos stakeholders. Acreditamos que o consumidor, cada dia mais, vai escolher marcas pelos valores que elas representam. Qualidade e preço passam a ser commodities e, claro, é necessário ter qualidade com preço acessível. Mas os valores da empresa vão, cada vez mais, perpetuar e serem relevantes na experiência do consumidor.

Como a pandemia da Covid-19 impactou o negócio?
É um desafio, é inacreditável, realmente um momento difícil para todo o planeta lidarmos com essa situação. Para nós, é mais especial ainda porque foram dois momentos, a Páscoa do ano passado, e a Páscoa deste ano, de novo, com o mesmo problema. O nosso negócio tem uma característica no qual as duas últimas semanas anteriores à Páscoa correspondem a 85% do volume de ovos vendidos na data. E correspondem ainda a 30% das vendas do ano. A gente faz cerca de 25% das vendas anuais em apenas duas semanas.

Qual é a expectativa de vendas para a Páscoa de 2021?
Esperamos um incremento de 15% acima do ano passado. Percebemos um movimento de antecipação, que aconteceu, de certa forma, porque muitas matérias-primas, embalagens principalmente, têm prazos de entregas bem difíceis. Todo mundo antecipou um pouco para ir esquentando o motor da Páscoa.

A pandemia afetou também o consumo de chocolates no Brasil?
O que vimos aqui é que tivemos menos acesso ao cliente. O consumo per capta de quem conseguiu comprar aumentou. Para a Cacau Show, que estava com as lojas fechadas, o consumo diminuiu. Mas o consumo no Brasil, inclusive, com o apoio do governo, para as classes mais simples, aumentou por volta
de 5%.

Acha que o modelo híbrido de trabalho vai se manter?
A flexibilidade é uma agenda. Mas acho que depende muito do clima da empresa. Aqui, por exemplo, às 7 horas tem pães assando, o escritório é cool, temos bolo no meio da tarde, academia de ginástica, espaço para relaxar e boliche. A cultura colaborativa ajuda. Existe um caminho de flexibilidade, que é uma tendência. Porém, no geral, não acho que as pessoas são felizes. Tirando necessidades específicas, o ser humano é um bicho de se socializar, de estar com o outro, e não sozinho.

Como a marca se preparou?
Estamos mais preparados do que estávamos. No ano passado, fomos pegos de surpresa, não esperávamos esse cenário. Hoje, estamos ainda mais fortes no e-commerce, WhatsApp, com uma marca muito consistente, forte, querida e com preços acessíveis. Tivemos elevação do dólar, que aumentou 40%, algo que impacta muito o nosso produto, mas conseguimos segurar o nosso preço bem próximo aos valores do ano passado, mantendo uma postura muito correta em precificação.

Qual é a representatividade do meio digital no negócio?
Estamos trabalhando fortemente no digital, lançamos a plataforma Cacau Lovers, na segunda metade do ano passado. É mais que um programa de fidelidade, é uma plataforma de conhecimento do consumidor, com o aprofundamento da nossa relação com os clientes. Já estamos com alguns milhões de usuários cadastrados. A marca tem se comunicado um a um, com uma estratégia one-to-one, falando com o consumidor diretamente. Toda semana, por exemplo, pessoas que fazem aniversário neste período, são convidados a irem às lojas para retirar uma trufa de presente. Temos também promoções específicas ligadas aos cacau lovers. É um trabalho amplo, até para que a gente consiga entender o papel de cada meio, e o retorno de cada um. A comunicação é embasada na personalização. Buscamos entender os desejos e as necessidades de nossos consumidores trabalhando também as mídias sociais. O digital vem crescendo. Durante o ano, fica abaixo de dois dígitos, mas, quando chega a Páscoa e o Natal, alcança dois dígitos. Hoje, já chega próximo a 20% do negócio. O e-commerce vai bem com iFood, delivery direto e WhatsApp.

Quais as demais mídias exploradas?
Hoje, trabalhamos em todas as frentes, desde a mídia tradicional, com TV, canal fechado, e eu estou pessoalmente em muitos programas de televisão que envolvem o universo da gastronomia, levando o nosso conhecimento do produto. Temos fazenda de cacau, com experiência profunda desde a terra até o produto acabado.

Como está organizada a estrutura de marketing da marca?
Trabalhamos com a agência LVL. Todas as outras questões são tratadas internamente, com a nossa house, que hoje possui cerca de 20 pessoas. Há 20 anos, criamos o nosso estúdio de fotos e equipe de designers de embalagens. Agora, temos também uma célula de áudiovisual onde realizamos toda a geração de conteúdos internos. Temos ainda equipes de comunicação de mídia, que também são internas, além de diretores de arte, que são da LVL, mas que atuam aqui dentro, totalizando cerca de 50 pessoas.

Está otimista com o cenário político-econômico para 2022?
Ainda há muitas variáveis. O que eu acredito é na força do trabalho, da ideia e do propósito. O nosso propósito aqui é vivermos para algo, e quando você vive para alguma coisa já é uma história. Não sei se vai ser governo de esquerda, de direita, de centro, não sei o que vai acontecer. Sei que vamos acordar cedo e ver o que podemos fazer para tornar esse mundo mais legal. Fizemos, por exemplo, o projeto Cinquentou. Completei 50 anos em novembro, e resolvemos selecionar, entre os nossos 12 mil colaboradores, os 50 que precisavam ter a casa reformada. Peguei R$ 1 milhão para fazermos esse projeto. É muito satisfatório ver pessoas dizendo que dentro das suas casas não chove mais. E mais legal ainda é que é tudo de verdade. O importante é saber onde nasce, onde tem o estalo. E não é o estalo do executivo da reunião de comitê, que pergunta o que vamos fazer para a marca ser bacana ou o que vamos fazer como estratégia para que as pessoas se sintam queridas, respeitadas e amadas. Não é assim. Precisa vir de dentro para fora. Quando isso ocorre é mágico e ninguém segura. O governo que vier, o dólar que vier, vamos nos juntar e achar uma solução para o problema.