Há pelo menos dois anos, a Chevrolet tem assumido posicionamentos mais políticos em sua comunicação, com campanhas que trazem reflexão sobre o papel de todos os cidadãos na construção de um país melhor. Foi assim com o filme Seja a Mudança (2017), e mais recentemente, em meio às eleições de 2018, com o comercial Como Deveria Ser, que convidou a população a imaginar pontos icônicos do Brasil, como o rio Pinheiros, em São Paulo, totalmente revitalizado.

A fabricante trouxe novamente posicionamento político na semana passada, com o lançamento da Chevrolet S10 2019. O filme Boca Cheia, criado pela Commonwealth // McCann, divisão da WMcCann responsável pelo atendimento do anunciante, ganhou as discussões nas redes sociais depois que foi compartilhado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

A propaganda reforça a relevância do agronegócio brasileiro e critica parte da população que reclama do setor, mesmo com chuva ou sol. “Mas enquanto eles reclamam, a gente levanta a cabeça e segue em frente trabalhando duro porque a gente sabe que não dá para ficar chorando pelo leite derramado”, diz um trecho da peça.

Corroborando com o discurso, o ministro Salles publicou em seu Twitter a seguinte mensagem: “Recebi essa propaganda, que enaltece o Brasil e espanta o mau humor. Chega de sandália de couro e sunga de crochet… daqui para a frente, só de Chevrolet …. kkk” (SIC). O comentário gerou debates, visto que muitos julgaram que um ministro não deve fazer propaganda de uma marca, principalmente, de um setor que integra sua área de atuação, configurando conflito de interesses.

Após as críticas, Salles voltou a usar sua rede social para citar outra fabricante de automóveis. “Vira e mexe tem petista fazendo propaganda para a Mitsubishi ao andar para cima e para baixo no chiqueirinho das viaturas da Polícia Federal e ninguém fala nada…. Basta eu comentar um vídeo bacana sobre o agro na minha conta pessoal e eles caem de pau…. vai entender…”.

A discussão foi mais além. Alguns formadores de opinião, como o jornalista André Trigueiro, acusaram o ministro de “endossar um discurso raivoso e vingativo de algumas lideranças do agronegócio contra ambientalistas”. Em artigo publicado em seu site, Trigueiro sugere a intervenção do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar).

Procurada pela reportagem, a entidade não informou se recebeu denúncias ou reclamações sobre o filme.