A suspensão ou adiamento de uma série de grandes eventos esportivos mundo afora, incluindo NBA, Champions League e F-1, entre outros, tem aumentado as dúvidas em relação aos Jogos Olímpicos de Tóquio, previstos entre os dias 24 de julho e 9 de agosto.

No último dia 12 de março, a tradicional Tocha Olímpica foi acesa em Olímpia, na Grécia, sem a presença de público devido aos riscos de contágio do coronavírus. A chama seguirá em uma turnê até o Japão para a cerimônia de abertura, pelo menos, se o planejamento do Comitê Olimpico Internacional e do Comitê Organizador japonês for mantido. Em viagem a trabalho na cidade de Lousana, na Suiça, sede do COI, Rafael Plastina, CEO da consultoria em marketing esportivo Sports Track, avalia o cenário local.

O executivo destaca que a discussão sobre um possível cancelamento ou adiamento existe, mas essa especulação vem majoritariamente de outras partes da indústria, não propriamente do COI. “Eles seguem com a programação original. Até porque qualquer decisão faz parte de uma cadeia produtiva conectada. É tanto cenário, ângulo para ver que vai desde a autonomia de um país e suas políticas internacionais, passando pelos comitês locais, patrocínios, acordos de transmissão, até mesmo ao fornecedor das cadeiras do evento preparatório em Tóquio. É um movimento complexo, que faz com que as decisões sejam lentas. A posição de manter os Jogos me parece a tendência por enquanto. Mas é um cenário que muda a cada momento porque são muitas variáveis”.

Em um exercício especulativo, Plastina chama a atenção para o efeito “devastador” de um possível adiamento ou cancelamento das Olimpíadas. “Tóquio é uma cidade que se prepara há 12 anos, fez investimento imenso em estrutura, sem contar o esquema de hotelaria, bares e restaurantes na região e em cidades vizinhas. Os atletas se programaram para chegar ao auge. Mudanças a essa altura teriam desdobramentos nas equipes multidisciplinares, agências que organizam eventos, como fan fests, as que negociam media rights, nas emissoras de TV, enfim, é um negócio enorme que deixaria um buraco na economia”.

Panorama global
Na semana passada, a NBA suspendeu a temporada de seu campeonato de basquete após a confirmação de dois jogadores do Utah Jazz testarem positivo para o coronavírus. A partida contra o Oklahoma City Thunder foi cancelada em cima da hora, deixando as emissoras de TV que fariam a transmissão tendo de apelar para uma programação improvisada. No Brasil, ESPN, SporTV e Band detêm os direitos para a temporada.

No futebol, os efeitos também foram sentidos, principalmente na Europa. A UEFA Champions League teve parte da segunda rodada das oitavas de final suspensa. As partidas agendadas para os dias 17 e 18 de março ainda não têm novas datas e, com isso, o sorteio das quartas de final (previsto para o dia 20) também será adiado. O canal TNT, que detém os direitos das transmissão no Brasil, anunciou que exibirá filmes no lugar das partidas.

Partida do PSG contra o Borrusia Dortmund pela Champions League foi feita a portões fechados, sem torcida

Os campeonatos Espanhol, Italiano e Inglês seguiram mesmo caminho de suspender os torneios. Na América Latina, foi a vez de a Fifa adiar os jogos das Eliminatórias para a Copa do Mundo 2022, a pedido da Conmebol. A seleção brasileira entraria em campo no próximo dia 27, contra a Bolívia, com transmissão da TV Globo.

Até mesmo a F-1 tem sofrido mudanças após a McLaren confirmar que um dos integrantes de sua equipe estar infectado. A escuderia se retirou do GP da Austrália, que estava previsto para este domingo (15), mas também foi cancelado. Para Eduardo Baraldi, CEO da agência de marketing esportivo Octagon Brasil, em um cenário onde as decisões são tomadas por precaução das organizações, ou mesmo por determinação do poder público, o momento é de pensar em um futuro breve após o pico das contaminações. “A experiência do ao vivo é intrínseca ao esporte, mas é o cenário mais favorável para disseminar o coronavírus, então, o esporte é afetado pela sua natureza”.

Do ponto de vista dos patrocinadores, o executivo pontua que não deve haver aspectos negativos para os anunciantes. Apesar de as marcas perderem exposição e oportunidades de engajamento com a torcida, a tendência é que os patrocinadores atuem em parceria com entidades e comitês para que os campeonatos sejam retomados o quanto antes. “As cobranças devem recair sobre as entidades que organizam os torneios. Elas vão ser questionadas sobre o plano a ser seguido, qual será o novo cronograma de jogos etc. As marcas, por sua vez, devem andar lado a lado com quem está organizando os torneios. O momento é de empatia”.