Mudamos. 

Alguns, pouco. Outros, muito. Mas, com certeza, não somos mais as mesmas pessoas que éramos há 90 dias. Nem poderíamos. Neste período de aprendizado forçado, vimo-nos confrontados com limites que nem sequer sabíamos que poderiam existir. Fomos engolfados pelo universo VUCA* em doses exponenciais.

Aprendemos em dias, ou horas, habilidades procrastinadas consciente ou inconscientemente por anos. E por um motivo simples: era preciso. A necessidade sempre foi grande incentivadora de mudanças. Como diz o ditado, o sapo pula por necessidade e não porque acha bonito.

Ajudaram neste processo a solidariedade e a empatia dos interlocutores quanto a possíveis falhas ou incompreensões. Mas essa aura de generosidade não vai necessariamente se manter nos tempos futuros. Tomara que sim, e acredito que, numa parcela significativa de relações comerciais e profissionais, o paradigma da pandemia vai servir como alerta em diversos momentos.

Mudamos e ficamos mais aptos para lidar com o que estamos vivendo hoje e com o que vivíamos antes.

Se a busca era por perfis híbridos, com capacidade de adaptação, agora ainda mais.

Fala-se muito do “novo normal”, ou “outro normal”. Mas é a impossibilidade de prevermos este novo momento que nos dá a certeza de que, além das habilidades múltiplas, precisamos agora de uma nova atitude.

Uma atitude que se estruturou em três pilares de maneira mais clara nestes últimos meses, com o distanciamento social, a convivência com limites e as impossibilidades.

Não são pilares novos, surgidos agora na pandemia. A ordem de importância é que mudou. 

Liderança, adaptabilidade e visão de contexto. Três valores que serão determinantes nos próximos anos.

Liderança: pessoal, de conduzir sua própria jornada, ganhando aí confiança e autoestima. E junto às equipes, obviamente, pelo exemplo, pelo entendimento dos limites e momentos dos demais, pela capacidade de olhar o todo e adiante. Por se mostrar também vulnerável e fazer disso uma força para trazer ainda mais confiança.

Adaptabilidade: talvez o pilar mais sensível neste período que vivemos, e que serve com perfeição a todos os tipos de estruturas e modelos. Da empresa lean às organizações mais complexas. Das equipes multifuncionais ao trabalho remoto, individual. A capacidade de se integrar, e não meramente se moldar, sem perder sua identidade, mas exercendo novas habilidades, é altamente desejável no profissional deste novo momento. Temos escolhas, precisamos superar os desafios e seguir em frente.

Visão de contexto: sempre foi fundamental que todos tenham visão do entorno, profissional, pessoal e social. Com a incerteza pelo futuro, com possibilidades de novos confinamentos, novos limites, é importante a leitura rápida e ampla do contexto para que as duas habilidades acima possam ser exercidas na sua plenitude.

Novos tempos, normais ou nem tanto, remetem-nos à frase de Einstein: “Não se pode encontrar a solução de um problema usando a mesma consciência que criou o problema. É preciso elevar sua consciência.”

Vamos?

* Acrônimo para Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity.

Esse artigo faz parte da série “Sabemos que vamos mudar, mas como isso vai acontecer na prática?”, que traz reflexões, aprendizados e transformações trazidas por esse momento inédito da pandemia. O conteúdo é assinado por Marco Antonio Vieira Souto, Head de Estratégia do Grupo Artplan.