A Avianca Brasil começou sua operação ainda tímida, atendendo a um milhão de pessoas em 2010, mas saltou para 11 milhões de passageiros em 2017. Há pouco mais de dois anos, a companhia aérea contratou a Grey Brasil (com quem encerrou parceria na semana passada)* para ajudar no aumento do reconhecimento de marca e também passou a fazer parte da Star Alliance, ganhando assim parceiros mundiais. Frederico Pedreira, presidente da empresa, explica qual é o cenário da aviação no país, os desafios da crise econômica e a nova aposta da marca em destinos internacionais.
Qual a participação da Avianca no mercado de aviação?
Os últimos dois anos foram bem intensos, com muitos desafios, especialmente em 2017, quando iniciamos nossa operação internacional. Estamos com cerca de 50 aeronaves, e transportamos mais de 11 milhões de passageiros no ano passado. Estamos com algo em torno de 14% de participação no mercado. No entanto, valorizamos nossa filosofia: nas rotas em que operamos, temos de ter uma oferta boa, que seja relevante para prestar um bom serviço ao passageiro. Eu me preocupo mais com a participação média nas rotas que temos, e estamos hoje em cerca de 26%.
Qual o posicionamento de vocês?
Desejamos ser a empresa com o melhor produto e serviço a preço competitivo. E eles são espaço nas poltronas, lanche quente, mais opções de horários de voos para o passageiro voar quando for mais conveniente, para atender tanto o lazer quanto o corporativo. Estamos focados em entregar o melhor serviço no Brasil.
Vocês começaram uma nova fase em 2010. Como se desenvolveram?
Foram sete anos de crescimento muito forte. Em 2010, quando recebemos o nosso primeiro Airbus, tínhamos 12 unidades do Fokker 100 e transportávamos um pouco mais de um milhão de passageiros. Hoje temos 50 Airbus e transportamos 11 milhões. Foram vários anos de crescimento intenso doméstico, até ter uma massa crítica que permita oferecer um bom serviço. E, ao atingir isso no ano passado, começamos a operação internacional. O nosso primeiro voo foi para Miami, nos Estados Unidos; depois Santiago, no Chile; e, por fim, Nova York, também nos Estados Unidos.
Quais são as metas para os próximos anos?
Nosso objetivo é continuar crescendo dentro do Brasil, seja adicionando frequências de mais voos, seja completando a nossa malha com alguns desses destinos e capitais de estados em que não estamos presentes. Por exemplo, ainda não estamos muito presentes no Norte do país. Vemos oportunidade lá.
Como vocês estão atravessando a crise?
O pior ano foi 2016, em que o Brasil perdeu 8 milhões de passageiros domésticos. 2017 foi um ano melhor, vimos a demanda crescer um pouco, mas vemos 2018 não como um ano de grande crescimento, mas como um ano de transição. Ainda há muitas dúvidas sobre o ambiente político, o que impacta na economia e ela é o motor que faz crescer a aviação. Então, acreditamos que vai ser melhor que o anterior.
Qual a meta para 2018?
Vai depender muito de como o ano vai se desenvolver. Hoje nós estamos recebendo quatro aeronaves e, se houver demanda um pouco acima do que esperamos, podemos trazer novas aeronaves para o segundo semestre.
Quem são os passageiros de vocês?
Nós temos um produto com preço justo para quem gosta de viajar com um pouco mais de espaço e conforto. Por um lado, sem dúvida, o passageiro corporativo é importante, mas temos uma participação do lazer muito relevante. Nós tentamos atender os dois tipos de passageiros, dando uma opção grande de horários e, por outro lado, tendo uma política tarifária que é competitiva e permite ao lazer planejar com antecedência para ter tarifas melhores.
O brasileiro está viajando mais?
Quando você olha o crescimento da indústria nos últimos 15 anos, no Brasil, foi incrível, quase quadruplicou o número de passageiros. Isso porque a liberdade tarifária traz maior competição e você tem empresas que conseguem ser mais eficientes, com passagens mais em conta. E no Brasil, quando você olha a tarifa média de antes, comparada com hoje, caiu quase que pela metade. E isso é bom, porque as empresas estão mais competitivas, eficientes e com mais gente voando. Quando você vê o que chamamos de penetração, o número de viajantes total dividido pela população, o resultado é de 0,5 no Brasil. Nos Estados Unidos ele é de 3,0.
Qual o principal destino da Avianca?
Temos algumas cidades que são bem importantes para nós. A nossa operação principal é São Paulo, mas tem também Brasília, em segundo; e Salvador e Rio de Janeiro, em terceiro. Entretanto, Salvador, em especial, é muito importante para a gente porque nos recebeu muito bem, marcando um forte crescimento, de uma forma geral, em todo o Nordeste. Acredito que isso se atrela aos voos mais longos, em que os passageiros dão mais importância ao mais conforto. A capital baiana também é a primeira cidade grande do Brasil em que somos o número um em termos de assentos.
Em 2016, vocês contrataram a Grey Brasil. Como foi isso?
Na época, tínhamos a visão de que nós estávamos deixando de ser uma empresa aérea pequena e se tornando uma empresa com presença importante no Brasil, além de ter os planos de voar internacionalmente. Por isso, precisávamos pensar nosso posicionamento, em particular o institucional, o que nos levou à parceria com a Grey.
A contratação de uma agência robusta como essa pode sugerir uma comunicação em massa. Foi isso que vocês procuraram?
Nós fizemos um pouco disso, mas como um complemento do que já estávamos fazendo nos últimos dois anos. Nós fomos a empresa aérea que menos investiu em comunicação. E acabamos crescendo muito no boca a boca. Mas chega a um tamanho que precisa conversar com as pessoas e se posicionar como marca. Por um lado, quando você fala com o passageiro Avianca, eu tenho claro que a marca é top para ele. Todo ano, fazemos uma pesquisa com cerca de 2 mil passageiros, que respondem a um questionário sem saber com quem eles estão falando. Entre os que já viajaram com a gente, somos os líderes. Agora entre os que ainda não tiveram uma primeira experiência, a nossa marca ainda é pouco conhecida. Se por um lado precisamos estar focados em manter os nossos passageiros contentes e continuar a encantá-los no dia a dia, também temos de levar a marca Avianca para todos aqueles que ainda não a conhecem.
Existe algum canal ou mídia que é mais importante?
Eu acredito que, cada vez mais, exista uma convergência de canais de comunicação, então eu acho que, como toda empresa no Brasil, temos aumentado nosso investimento em digital, mas é claro que não deixamos de lado o offline, que é muito importante.
Como a Avianca se comporta nas redes sociais?
Toda a nossa campanha do ano passado, Avianca Lovers, que nos divertimos muito fazendo, foi baseada nisso, no que era postado, no quanto gostavam e eram bem tratados ao voar pela Avianca. Então toda a campanha foi pensando nos passageiros e nesse retorno que recebemos dos consumidores nas redes sociais.
Vocês têm algum projeto relacionado a cultura, a esporte etc.?
Muitos. Nós estamos presentes há muitos anos na parte de apoio à cultura com a Avianca Cultural. Temos um foco grande em musicais, e esse é o nosso carro-chefe. Acredito que somos a empresa aérea no Brasil que mais apoia o teatro. Estamos presentes em muitas peças, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, sejam produções maiores ou menores, e gostamos de ser esse apoio. Também estamos na música com algumas ações. Na parte de esportes, temos alguns projetos grandes, como o apoio total a um time de paratletas e, ao mesmo tempo, estamos com o NBB, que é a Liga Nacional de Basquete.
Vocês investem muito em live marketing? Qual a importância disso?
Eu acho que o mix dos canais de comunicação está mudando rapidamente e você não pode ficar de fora. Você tem de explorar formas novas, diferentes e eficientes de falar com o seu público-alvo. E ações como essa têm um retorno muito legal. Recentemente, fizemos um voo com a Banda Eva para Salvador, além de patrocinar um dos camarotes mais importantes da festa. Nós temos muito retorno com isso.
Ter internet no voo faz diferença?
Eu acho que cada vez mais faz diferença. É um movimento que não vai parar. Hoje a tecnologia e a internet a bordo têm limitações, e não é tão cedo que teremos a qualidade a bordo que as pessoas têm em casa.
Depois que entraram para a Star Alliance, o que mudou?
Mudou muita coisa não só porque ela é a maior rede, mas do ponto de vista de marca é interessante para reforçar a Avianca como parte de uma aliança mundial. Agora estamos parceiros de companhias como Lutfhansa e United e é importante porque isso nos dá mais confiança com os passageiros que ainda não nos conhecem. Isso também nos permite fazer acordos com parceiros e crescer.
Qual o próximo destino internacional da Avianca?
Estamos estudando as Américas e a Europa. É apenas isso que posso dizer.
Como está o mercado de aviação no Brasil?
A gente vem de uma crise muito complicada e, no ano passado, teve sinais de recuperação. Agora, estamos muito cautelosos e, da mesma forma, a médio e longo prazo, temos potencial fantástico de crescimento porque não será um ano fácil, mas estamos torcendo para que 2019 já seja um ano de maior crescimento.
*Essa entrevista foi fechada na edição impressa antes de a Grey e a Avianca distribuírem comunicado informando que, em comum acordo, encerravam a parceria.
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