Estava assistindo a uma sessão sobre a Ascensão do Azúcar Valley: start-ups de Cuba. É, você leu direito. Start-ups em Cuba em meio do maior festival de interatividade e tecnologia, uma sala lotada para discutir inovação e startups em Cuba. Mas antes que você pense que eles já chegaram a desenvolver o próprio Facebook ou Twitter, calma. Lembre-se que a população de Cuba tem acesso limitado à internet e que ter um restaurante é um atividade que se tornou legal há apenas 5 anos. Então, como assim start-ups?
Essa sessão foi conduzida pelo pessoal da Incuba.te, uma equipe de business development montada em conjunto com a comissão diplomática que Barack Obama criou em seu governo para restabelecer relações com o país. Em uma parceria com a Universidade de Havana, foi realizada uma séries de workshops de design thinking na recém-inaugurada embaixada americana, com o objetivo de organizar a efervescente economia local para iminente abertura completa do mercado.
No processo, eles se surpreenderam com a capacidade dos cubanos em pensar e criar inovação sem ter em seu vocabulário termos que para nós são corriqueiros, como “mercado”, “marca”, “disrupção” e “setor privado”. De lá, surgiu o El Paquete, um correlativo ao Yelp!, que funciona quase que offline, e serve para recomendar e avaliar novos restaurantes: o El Paquete. Mesmo assim, com quadros brancos e post-its – “símbolo universal do trabalhar junto” segundo Nick Parish do Contagious que fez parte dessa comissão – novos negócios foram surgindo para o país.
Não preciso olhar tão longe para encontrar referências sobre reorganização e implementação de mudanças, o SXSW também trouxe Marie Kondo – famosa personal organizer japonesa – falou para uma sala de conferência lotada, que a mudança pode começar do mais íntimo, nos nossos quartos onde ela literalmente ensinou a dobrar camisas, meias e calças para mostra como o seu método – o KonMari – pode nos tornar capaz de tomar boas decisões num processo de reorganização. Reorganizações acontecem em muitas camadas, da reorganização da nação caribenha às clássicas revistas femininas Cosmopolitan e Seventeen – afinal, já era hora das editorias femininas se encontrarem como zeitgeist feminista que estamos vivemos.
Para a Cosmopolitan e a Seventeen, se reorganizar foi um processo que começou com um grande estudo realizado para entender melhor suas audiência que revelou que os atuais assuntos tabus entre o público feminino são falar de sua posição/opinião política, finanças & investimentos e suas ambições pessoais hoje são os temas proibidos por medo de serem julgadas por outras mulheres e homens que as possam considerar “polêmicas demais”. Assim, na visão da editora-chefe de ambas as revistas Michele Promaulayko é “elimininar a vergonha que as mulheres carregam” ; hoje ambas publicações estão trabalhando publicar histórias de mulheres que se posicionam politicamente,contam como operam seu dinheiro e como planejam suas carreiras. Tudo para fazerem mulheres de reorganizar em torno destes temas abertamente e eliminar estes tabus.
Provocar mudanças depende de reorganização e trabalho em conjunto. Esse também foi a mensagem que Tina Tchen, ex-assessora de Obama, ex-chefe de gabinete de Michelle Obama e Diretora Executiva do Comitê de Mulheres e Meninas da Casa Branca, nos trouxe. Ela definiu que o trabalho de seu comitê não era sair fazendo reuniões com grupos de mulheres, não era fazer reuniões, mas sim agir, trabalhando em conjunto com cada esfera e gabinete do governo Obama. Desta maneira, por exemplo, trabalhando com o ministério da justiça americano quando este estava revendo as questões de jurisdição criminais com população nativo-americana. Um dos problemas solucionados e discutidos no encontro, foi o sério caso de impunidade dos estupros de mulheres nativa-americanas por homens não-nativos, os crimes ficavam sem resolução, pois os homens não podiam ser julgados pelo tribunal e leis indígenas e nem as mulheres poderiam contribuir com a investigação do outro lado.
Numa sequência de palestras e keynotes, a edição deste ano do SXSW trouxe uma grande provocação a nós, profissionais de marketing, propaganda e comunicação, que estamos sempre sendo demandado para gerar mudanças: não seria a hora de reorganizarmos nossas ferramentas que usamos para tentar fazer essas mudanças acontecem?
Vamos realmente gerar mudanças substanciais para nossos clientes ou para o nosso mercado quando estamos tão obcecados em aplicar inúmeros frameworks, utilizar todas as plataformas do momento e todo dia tentar preencher nossa cartelinha de bingo com os termos que temos que falar em toda reunião, briefing, e-mail ou apresentação? E se aplicarmos o Método KonMari ao nosso ferramental: reduzir o que temos ao que realmente provoca reações e resultados positivos e dar a eles o devido espaço que realmente precisam e para trás aquilo que não faz diferença?
Que tal nos organizar para realmente trabalhar em conjunto, escutar e dar espaço à novas vozes, com novos temas para falar e integrar com outras pessoas diferentes de nós, para realmente causar a mudança que desejamos? Da nossa gaveta para o mundo, estamos apenas a uma faísca de vontade para fazer mudanças acontecerem.
Sylvia Ferrari é Head de Planejamento da Mar Comunicação