1. Os governos dos países bolivarianos da América Latina abrem fogo de forma orquestrada contra a mídia, o mais importante bastião democrático que se antepõe às ambições ocultas de vários dos seus líderes. Nessa orquestração, são coadjuvados pela Argentina, que não possui um governo exatamente bolivariano, mas se comporta como tal no trato com os meios.
A refrega que mantém com o Grupo Clarín é o maior sintoma dessa postura, cujas rédeas só não se apertam totalmente porque o país, embora vivendo há anos em crise política e econômica, tem um povo esclarecido e alfabetizado.
O Brasil, que não cultua Simon Bolívar como seu herói, adquiriu – ainda que em tese – um pouco desse cacoete, que se acentuou após o julgamento do mensalão, querendo transformar a grande imprensa em um dos muitos bodes expiatórios criados pelos heróis de ontem e oportunistas de hoje.
Ainda na última semana, o ex-presidente Lula, cujo currículo político muito deve à mídia, emitiu mais uma pérola contra ela, acusando-a de inventar candidatos à sucessão de Dilma Rousseff, com o intuito de embaralhar a sua eventual reeleição.
É evidente que a imprensa séria deste país não tem esse tipo de comportamento, limitando-se a reproduzir, nesse particular, o que circula nos meios políticos nacionais, com muitos dos seus editoriais inclusive criticando a antecipação da campanha eleitoral que a todos (menos a determinado grupo de políticos) prejudica, tirando o foco dos grandes problemas brasileiros.
Todo esse cenário, lamentavelmente, já se incorporou ao cotidiano do país, cujos últimos governos têm se alinhado com ditaduras que não desejamos mais para nós e para outros povos.
A luta política da humanidade nesta etapa da sua história é para o reconhecimento do sistema democrático de governo como o melhor que o homem já concebeu, ou – como lembrava Churchill – o menos pior.
O povo brasileiro se constrange com as atrocidades que estão sendo confirmadas pela Comissão da Verdade, ocorridas durante o período militar, como se constrange com as imagens que nos chegam da Coreia do Norte, onde um ainda jovem herdeiro de uma dinastia ditatorial encarna a figura de um dirigente político totalmente contraditória com os dias que vivemos.
As suas aparições (públicas?) para uso interno e externo no país, cercado por generais e carros de combate, são cópias esbatidas do auge do 3º Reich, que a humanidade sempre irá deplorar.
Enquanto abordamos países que flertam com regimes espúrios, podemos até entender o comportamento de algumas das suas principais figuras da vida pública, atuando contra a democracia em um jogo de cena e de puro ilusionismo. Não é exatamente o caso do Brasil, onde alcançamos certa maioridade política que, se não impede, muito atrapalha esse jogo.
Mas o que dizer agora dos Estados Unidos, cujo presidente, que tanto admiramos, volta-se contra a mídia ao defender o monitoramento de jornalistas em nome da segurança nacional, pleiteando equilíbrio na liberdade de imprensa?
Prévert esculpiu certa feita uma frase, que se tornou uma das bandeiras do mundo democrático: “Ou a verdade é livre, ou a liberdade não é verdadeira”. Cabe, pois, a cada jornalista zelar pelo seu trabalho e pelos seus resultados, sem que nenhuma autoridade, por maior que seja, possa-lhe traçar os limites.
Monitorar telefones da Associated Press é um delito de censura, que nenhum motivo pode justificar. O governo do mais poderoso país do planeta tem outros recursos para impedir o vazamento de informações sobre segurança nacional, começando por fiscalizar e até selecionar melhor os seus agentes, fontes dos vazamentos. Há um ditado, americano por sinal, que afirma que os jornais são feitos para divulgar notícias e não escondê-las.
É lamentável que Barack Obama reaja dessa forma, alimentando o imaginário de alguns candidatos a títeres abaixo da linha do Equador e de outras regiões do mundo. Temos quase certeza de que alguns discursos estão neste momento sendo preparados, usando as palavras de Obama para justificar a pressão contra os meios em outros países, cujos dirigentes sequer pensam na segurança nacional, senão em sua própria segurança.
Pensando em fazer o bem para o seu país, Obama caiu na armadilha dos candidatos a ditador em países irmãos, para os quais o maior empecilho é a liberdade de expressão e de opinião, cujo volume aumenta quando exercida através da imprensa.
2. Duas importantes entidades do mercado publicitário comemoraram fatos relevantes na semana que passou: a APP, festejando os seus 75 anos com uma recepção no Jockey Club de São Paulo e lançando no evento um imperdível book comemorativo da data, com valiosos depoimentos sobre como está e estará o mercado hoje, amanhã e depois.
E a Abap Nacional, dando posse à sua nova diretoria, presidida por Orlando Marques (Publicis), que em emocionado discurso deu o recado da sua plataforma de trabalho à frente da entidade.
A solenidade ocorreu durante almoço no WTC, com a presença maciça das lideranças do trade (ver matérias nesta edição).
3. Com a presente edição, o propmark completa 48 anos de atividades ininterruptas, onde acima de tudo pontificou nosso lema: “Um compromisso com a verdade”.
Os nossos agradecimentos a todos e em especial a você, leitor, principal razão da nossa existência.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2449 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 20 de maio de 2013