Maior concentração no setor de mídia e um claro deslocamento no eixo econômico do negócio acompanham a espetacular aquisição do grupo Time Warner – que controla, entre outras marcas, HBO, CNN e Warner Bross – pela AT&T, por US$ 85 milhões, que se transforma numa gigante da mídia capaz de produzir e distribuir conteúdo para milhões de pessoas via TV, telefonia, internet, conexões via satélite e o que mais vier a surgir.

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É o triunfo da AT&T, antiga American Telephone and Telegraph, hoje, a segundo maior empresa de telecomunicações wireless dos Estados Unidos, depois de suas sucessivas reestruturações e fundada no século 19 para explorar o recém-inventado telefone e o serviço de telégrafos, quando se torna a poderosa dona da empresa que produziu gigantes do mundo do conteúdo como Harry Potter, Batman, Friends e Game of Thrones, entre outros. A AT&T tem mais de 130 milhões de clientes mobile e 25 milhões de assinantes da sua DirecTV.

A compra enfrenta resistências por parte das autoridades governamentais de regulamentação econômica dos Estados Unidos, naturalmente contra a criação de um novo gigante do setor de mídia e telecomunicações. Preocupa, inclusive, os candidatos à presidência. Tim Kaine, vice de Hillary Clinton, disse em um programa da NBC – o Meet the press – que “menos concentração é geralmente bom, especialmente para a mídia”. Já Donald Trump afirmou, em um comício, que “é muita concentração de poder nas mãos de muito poucos” e, caso ganhe, impedirá a fusão.

O negócio se assemelha em potência a outras aquisições como NBC/Universal pela ComCast, AOL e Yahoo pela Verizon (ainda pendente), e Financial Times pela japonesa Nikkei.

“Há claramente uma disputa no mundo dos negócios sobre se os grupos de mídia e conteúdo dominarão os provedores tecnológicos ou vice-versa. Nesse caso, o grupo de tecnologia parece ter ganhado um round. Mas é preciso lembrar que, segundo as notícias veiculadas na imprensa, o Wall Street Journal estava na disputa para levar a Time Warner, o que comprova que o grupo do conteúdo também é comprador. É preciso reconhecer que a AT&T se torna extremamente poderosa”, comentou Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec no Rio de Janeiro.

A AT&T transcende o posto de mera distribuidora e abarca a inteligência do conteúdo, vertente extremamente importante no negócio. Teme-se, no entanto, que a AT&T dê vantagens a seus clientes que violem o princípio de neutralidade da rede, incluindo, por exemplo, conteúdos da DirecTV no pacote de clientes a custo zero. Isso tornaria a vida da competição no segmento conteúdo bem complicada. “Há certo perigo no fato de a mesma empresa ser responsável pela infraestrutura e pelo conteúdo, pois pode evidentemente beneficiar seu conteúdo e/ou boicotar o conteúdo dos concorrentes. Caberá às instituições governamentais regular e controlar para garantir bons serviços e a livre concorrência”, analisa Daniela Khauaja, coordenadora da área acadêmica e da pós-graduação de marketing da ESPM.

Por outro lado, a AT&T poderá oferecer uma melhor experiência para os diferentes devices – algo que ainda é uma questão mal resolvida. Espera-se, também, uma publicidade multiplataforma mais certeira e contextualizada. “O mundo da comunicação está mudando radicalmente, estamos no meio de uma revolução. Acredito que as empresas sob a batuta da AT&T terão mais fôlego por pensarem o mercado de outra forma, do ponto de vista da tecnologia e dos novos hábitos de consumo. As empresas de comunicação que demorarem muito para reagir não sobreviverão”, concluiu Daniela.