Diretor de cena da ParanoidBR, Dulcidio Caldeira será o jurado brasileiro em Film Craft no Cannes Lions 2012. O país acumula três Leões na área, lançada em 2010: um de ouro no ano de estreia, quando o país teve João Daniel Tikhomiroff, da Mixer, como jurado; e um de ouro e outro de bronze no ano passado, com Alex Miranda, da Trator Filmes, representando o Brasil no júri. E foi justamente este ouro do ano passado, “Balões”, filme da Loducca produzido pela ParanoidBR, que deu a Caldeira, seu diretor, a chance de ser jurado do Festival Internacional de Criatividade de Cannes. “Balões”, que chegou a brigar pelo GP de Craft, ainda levou outro ouro no Design Lions e bronze em Film.
Nascido em Curitiba, Caldeira iniciou a carreira como redator na Geminni Publicidade, em 1988. Em 2000 foi para São Paulo atuar na AlmapBBDO, ao lado de nomes já consagrados como Marcello Serpa (sócio da agência) e Eugênio Mohallem (hoje redator na Africa). Com uma bagagem recheda de prêmios nos principais festivais nacionais e internacionais de publicidade, o profissional partiu para Nova York, em 2006, para ser redator na BBDO local. Lá também cursou cinema na New York Film Academy, o que o aproximou ainda mais da direção de filmes. Fora isso, atuando na BBDO, criou para filmes dirigidos pelos mais conceituados profissionais da área, para clientes como a cerveja Guinness, por exemplo, um anunciante que sempre aparece com destaque nos eventos do mercado. Em 2008 voltou para a Almap, onde assumiu a direção geral de criação da agência, até migrar para a produção, em 2010, na ParanoidBR.
Histórico
“Eu vou a Cannes há mais de 20 anos. Então dá para dizer que eu conheço bem de perto como funciona. Ao todo, até hoje, já conquistei quatro Leões. Além dos três com “Balões”, no ano passado, teve também “Passarinhos”, para Gol Linhas Aéreas, ainda como criativo na AlmapBBDO. Também já tinha sido finalista mais de 10 vezes. Sempre concentrei a minha atenção mais em filmes do que na parte impressa. Sair do mercado de agências para trabalhar como diretor de comerciais em uma produtora é consequência disso. E ter trabalhado tantos anos como redator dá intimidade com a ideia até o filme pronto. Conheço bem a estrutura dos roteiros e como buscar a essência deles.”
Convite
“O filmes ‘Balões’ foi um dos poucos ouros na área de Craft em 2011, e ainda disputou o GP. Com essa conquista eu tinha esperança de ser convidado. Para mim é motivo de muito orgulho, por se tratar do festival mais importante da comunicação. Orgulho também de representar o Brasil lá fora. É uma responsabilidade grande e vou defender os nossos trabalhos, pois outros países podem não saber o valor que eles têm.”
Pressão
“O que vale é a verdade. É o resultado justo. A pressão vai até determinado ponto.”
Preparação
“São duas frentes que tenho de preparar. A primeira, é importante ressaltar, é que os critérios desta categoria são diferentes. Normalmente, para o festival, o que vale é a ideia. Neste caso é a qualidade de produção a favor da ideia. Então é uma questão de ajuste de critério. Não basta ser encantado pela ideia. Tem que procurar quais as peças em que a produção foi fundamental para que a ideia brilhasse. A segunda frente é conhecer os trabalhos brasileiros que se sobressaíram em função da produção. Estou começando a fazer isso e aberto a quem quiser me mostrar. Acho importante ter contato prévio e conhecer bem os detalhes dos trabalhos para poder falar sobre eles.”
Defesas
“Até a definição do shortlist não tem muito o que fazer. Depois sim dá para ressaltar a qualidade, comentar as dificuldades de tal produção e defender os pontos.”
Chances
“Historicamente o Brasil ganha em filme em função das ideias. As condições de produção lá fora são bem melhores que as nossas. Outros países têm verbas e prazos bem maiores, o que já dá bastante diferença nos resultados. Aqui temos um mercado que está acostumado a produzir com urgência. Além disso, nossas verbas são menores. Diante disso, a expectativa em relação a Craft é menor que em relação a Film. O Brasil, mesmo não tendo muito Leões na área de filmes, sempre traz algo de qualidade, como ‘Cachorro-peixe’, da AlmapBBDO para a Volkswagen, por exemplo. Só adianto que não dá para fazer apostas. Preciso antes ver todo o material inscrito.
Outros países
“Também estou me preparando em relação às produções internacionais. Mas já destaco que Estados Unidos e Inglaterra são sempre favoritos, com a Argentina em seguida.”
Brasil x Argentina
“Talvez a Argentina tenha um desempenho superior ao Brasil pelo seu histórico mais próximo ao cinema. É um país com boa bagagem cinematográfica. E uma coisa acaba alimentando a outra.”
Técnica
“O maior desafio do Craft é de ver coisas que foram feitas para não serem notadas. A partir do momento que é notada, chama mais atenção que a ideia em si. A boa produção emociona e a gente não percebe que ela está lá. Acho que a maior virtude de uma boa produção é essa. Além disso, tem as subcategorias: direção, fotografia, edição, roteiro, melhor uso de música, sound design, animação e production design, que é o todo da produção. São vários aspectos que podem ser vistos em um mesmo filme.
Inscrição
“Ao inscrever o filme é importante reconhecer a força de cada uma das peças e inscrevê-las em alguma dessas subcategorias. Por exemplo, um filme da Nike, no ano passado, ganhou ouro em edição e roteiro e prata em production design. O momento da inscrição é muito importante porque isso pode aumentar as chances das nossas peças.”