Uma batalha insólita envolvendo o PROPMARK ocorreu nos bastidores da Abap na última semana, felizmente neutralizada pelo atual presidente da entidade, Mário D’Andrea, personalidade de respeito nos meios e de muita ponderação quando se depara como dirigente de uma importante entidade para o mercado publicitário brasileiro.
Melhor explicando, alguns players do segmento de agências reclamaram junto à Abap sobre (no dizer deles) um excessivo material jornalístico no PROPMARK beneficiando a ABA e, por via de consequência, prejudicando o mercado de agências, pois uma das pretensões da entidade dos anunciantes seria a redução ou quiçá a extinção do desconto-padrão de 20% das agências, o que é previsto no Decreto nº 57.690 de 1966, que regulamentou a Lei Federal nº 4.680 de 1965.
Por dever de ofício, devemos lembrar aos nossos fiéis leitores que jamais interferimos nesse assunto em nossas páginas, até por se tratar, como lembramos acima, de disposto em antiga legislação federal, que na época da sua promulgação foi muito bem recebida inclusive pelos anunciantes, que viam justiça nessa taxa do desconto-padrão e a grande possibilidade de, com isso, ter serviços mais apurados das suas agências.
Não foi à toa que o Brasil melhorou no geral o seu produto final publicitário, podendo com mais recursos contratar melhores profissionais e estimular os demais a cada vez mais se aperfeiçoarem, pois estavam percorrendo uma carreira que passava a ter condições de melhor remunerá-los.
Nos últimos tempos, porém, com as dificuldades econômico-financeiras que o país atravessa, alguns anunciantes devem ter pressionado a sua entidade representativa a lutar por uma diminuição no desconto-padrão, com o que as agências evidentemente não concordaram, lembrando sobre a impossibilidade da diminuição salarial dos seus colaboradores e, principalmente, do uso do talento dos mesmos em fazer cada vez mais melhores trabalhos publicitários, o que pode facilmente ser comprovado por quem acompanha a recente história da nossa publicidade, como nós (o PROPMARK completará 56 anos de circulação semanal ininterrupta).
Um dos melhores indicadores desse fato são os festivais publicitários internacionais, com destaque para o Cannes Lions, onde o nosso país, em passado recente, se dizia presente para aprender com as grandes potencias concorrentes, o que agora de certa forma se inverteu, pois, graças a melhores recursos para as agências, o Brasil tem conquistado de forma repetitiva as melhores colocações não apenas no Cannes Lions, como em outros importantes festivais de aferidação da qualidade publicitária dos concorrentes.
E isso, sem dúvida, beneficia e muito os anunciantes, pois sempre que estes assinam campanhas ou mesmo peças isoladas publicitárias de altíssima qualidade criativa (e isso só é possível com boa remuneração para os profissionais das suas agências), quem sai ganhando em primeiro lugar são os anunciantes, cujas marcas se valorizam com campanhas publicitárias de altíssima qualidade criativa.
Se a ABA, vendo que agora o processo é irreversível, deseja mexer na remuneração que presta às agências, elas devem provar aos seus clientes-anunciantes que isso seria um erro, arriscando sem dúvida a qualidade atual da propaganda brasileira, que não se cansa de ganhar valiosos prêmios em festivais do setor mundo afora.
Assim, é possível estabelecer-se entre os dois lados um diálogo permanente sobre os custos, no qual cada parte defenderá suas vantagens, sendo que, no caso das agências, são vantagens que beneficiam as duas partes (anunciantes e agências).
Deixamos claro que este periódico de 56 anos de circulação contínua, a serem completados no próximo mês de maio, está aberto, como sempre, para abrigar opiniões de ambas as partes, o que não pode se configurar como uma tendência manifesta para um lado ou outro dessa batalha.
Na semana passada, por exemplo, publicamos um anúncio da ABA, e um artigo da presidente da entidade, Nelcina Tropardi, de título instigante: Um convite à publicidade que o mercado brasileiro merece.
Durante toda a semana que passou, publicamos no online opiniões de publicitários a respeito dessa questão e hoje, aqui no impresso, a opinião abalizada de Eduardo Simon, pelas agências, se faz presente, cada qual argumentando em favor das suas teses, o que se torna natural em um debate aberto como o que está ocorrendo.
O que deve ser mantido é o alto nível dessa discussão, em um momento delicado para a economia do país e para a própria venda de produtos e serviços de autoria dos anunciantes, que cada vez mais exigem criatividade para convencer os consumidores.
De qualquer forma, permanecemos abertos para novos textos de um lado e de outro, como sempre procedemos nestes 56 anos de circulação ininterrupta do PROPMARK.
Mas, que esses textos sejam em alto nível e sem envolver este jornal, como ocorreu nos últimos dias, com o impresso e o nosso online. O leitor que nos acompanha, de há muito, sabe da nossa isenção e seriedade no trabalho de bem informar ao mercado.
Devido à pandemia, teremos pela frente um feriadão de 10 dias seguidos, dentro dos quais circularemos normalmente nos dias que nos competem, com o online permanentemente ligado.
Ninguém pode ainda medir o prejuízo da nossa economia neste ano atípico, além do mais grave: o total das mortes de brasileiros em consequências da Covid-19 e muito também pela incúria dos nossos governantes, que vêm preferindo fazer deste momento triste da saúde do nosso povo uma batalha para fins eleitorais mais adiante, que só complica ainda mais as consequências terríveis da pandemia.
O momento, pois, é de orarmos às forças superiores do universo para que nos poupem, daqui em diante, de tanto sofrimento e perdas de preciosas vidas dentre a nossa população.
Mais vacinas e UTIs para todos e menos aproveitamento político em um momento absolutamente impróprio para isso. Por mais cuidado que tenhamos, todos estamos sujeitos a esse vírus maldito que atingiu praticamente todo o planeta, trazendo-nos grandes prejuízos nas perdas de vidas humanas e na economia dos países.
Para encerrar, não somos e jamais fomos contra a ABA e a favor das agências, ou vice-versa. Somos sempre a favor de uma imprensa livre, que publica e interpreta os fatos conforme a experiência e a capacidade da sua equipe de jornalistas, todos com muita experiencia no funcionamento do nosso mercado publicitário.